A deputada estadual Dra. Silvana, do PL do Ceará, entrou, na quarta-feira (11/10), com um requerimento na Assembleia Legislativa, pedindo a remoção de um painel do artista Jean dos Anjos, exposto numa fachada do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.
No painel de fundo vermelho, é possível ler a inscrição "Exu te Ama", em letras garrafais. No requerimento, a deputada afirma que a obra de arte configura "uma iniciativa agressiva aos valores de uma maioria cristã que tolera a existência de minorias defensoras de credos notoriamente pautados por devoções e entidades esdrúxulas".
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Ao lado de Zé Trovão, Bolsonaro chama de 'vexame' política externa de LulaAtos golpistas: CPMI aprova relatório que pede indiciamento de BolsonaroBolsonaro vai à PF, fica em silêncio e entrega depoimento por escritoProcurada, a deputada afirma respeitar todas as religiões, mas diz se incomodar com o "patrocínio de uma única fé numa parede pública". Ela diz ainda que as pessoas desconhecem o real sentido da palavra "esdrúxula" -- segundo o dicionário, o termo designa algo esquisito, fora dos padrões.
"É uma deputada bolsonarista, de uma fundamentalista religiosa", afirma o artista. "É um ataque racista, sem dúvida um ato de racismo religioso."
O painel integra a mostra "Festa, Baia, Gira, Cura", em cartaz no Museu da Cultura Cearense, instituição localizada no interior do centro cultural, e é organizada por Marília Oliveira e Rafael Escócio. Em nota, o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura lamenta o posicionamento da deputada Dra. Silvana.
"Os argumentos utilizados para a crítica são infundados, à medida que se baseiam em uma compreensão superficial sobre a atuação de espaços museológicos e no desconhecimento da memória do centro cultural, além de denotar um preconceito velado e a intolerância com práticas culturais dissidentes. O Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura vem lembrar que, conforme a Lei 14.532, de 2023, o racismo religioso é crime", diz a nota.Atuando como fotógrafo há duas décadas, Dos Anjos documenta o cotidiano dos terreiros do Ceará, em especial o terreiro do Preto Velho da Mata Escura. Ele afirma ter tirado mais de 10 mil fotos desse terreiro.
"O objetivo desse painel foi despertar uma noção de que essa entidade também está conosco, porque aqui no Ceará os negros e os indígenas são particularmente invisibilizados", diz ele, acrescentando ter recebido a solidariedade de católicos e evangélicos depois do ocorrido.