A imagem mostrava o ex-ministro Paulo Guedes e a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) no mesmo cesto.
"Estou sendo agredida e desqualificada. As pessoas xingam, ameaçam. Entrei no olho do furacão, mergulhei em um verdadeiro inferno por uma narrativa falsa sobre o meu trabalho", afirma ela.
A exposição, censurada pela CEF depois que parlamentares bolsonaristas e do centrão passaram a criticá-la, foi aberta no dia 17 de outubro e se chamava "O Grito!".
Nela, sete artistas tratavam da Independência do Brasil por meio de pinturas, esculturas, videoarte, instalações, desenhos e fotografias.
Marília Scarabello foi convidada para participar da mostra com seu trabalho "Bandeiras", uma coleção de imagens em que a bandeira do Brasil foi usada como forma de protesto. Ela cataloga essas imagens desde 2016.
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"Eu percebi que as pessoas pegavam a bandeira do Brasil e manipulavam, inseriam frases no lugar de 'Ordem e Progresso', fotografias, charges, desenhos, colagens, para se manifestar", explica Marília.
"Me interessei por aquelas manifestações, por aquelas vozes falando todas ao mesmo tempo, e que muitas vezes estão em conflito, mas que convivem em um Estado democrático de Direito como é o Brasil", segue.
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"Eu printava e guardava essas imagens, e comecei a colocar no meu Instagram. As pessoas passaram a me enviar outras imagens", diz a artista. Em pouco tempo, ela já tinha uma coleção de mais de 2.000 bandeiras modificadas, que julgou retratar o próprio país.
"É um retrato do Brasil e de suas múltiplas e diversas manifestações", diz. "É uma colcha de retalhos. Há manifestações pró-aborto, contra o aborto, pró-Bolsonaro, contra o Bolsonaro, contra o Lula, a favor do Lula. Meu trabalho é quase o de um colecionista. Eu não fabrico as imagens que estão lá."
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Marília enviou à coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, imagens de bandeiras que mostram o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por exemplo, num foguete e a frase: "Vai ser no primeiro turno". Outra mostra a frase "A Nossa Bandeira Jamais Será Vermelha".
Na época, Arthur Lira apoiava a reeleição do então presidente.
A artista explica que a coleção "tem um olhar para manifestações múltiplas de uma população múltipla. Ela mostra o que está acontecendo no Brasil, porque tudo o que acontece vai parar na nossa bandeira, que as pessoas usam para protestar."
A artista diz ainda que "jamais" imaginou que a reação a seu trabalho levaria ao cancelamento da exposição, anunciado na terça-feira (24) pela Caixa.
"Uma pessoa visitou a mostra e filmou as imagens de bandeiras que, de alguma forma, a ofendiam. E criou uma narrativa que não corresponde ao que era a exposição", afirma.
Marília explica ainda que não fez uma pré-seleção de bandeiras para serem expostas em Brasília. "Baixei as imagens, sem critério, misturei e coloquei na exposição", diz.
A mostra foi selecionada no Programa de Ocupação dos Espaços da Caixa Cultural 2023/2024, em que projetos são patrocinados para ocupar áreas do banco.
Como mostrou a coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, a Caixa já tinha desembolsado R$ 75 mil pela exposição "O Grito!", agora completamente desmontada.
O valor total do contrato firmado entre o banco e os proponentes somava R$ 250 mil. O pagamento deveria ser feito em parcelas, seguindo um cronograma, sendo que o último desembolso ocorreria após o fim da mostra.
Como o projeto foi cancelado, apenas a primeira parcela, correspondente a 30% do montante --ou R$ 75 mil--, ficou saldada.
Leia, abaixo, a nota da CEF em que ela informa que a exposição foi cancelada:
"A CAIXA informa que a exposição "O grito!" foi selecionada no âmbito do Programa de Ocupação dos espaços da CAIXA Cultural 2023/2024, modelo de seleção pública para projetos culturais que são patrocinados para ocupação dos espaços do banco.
A obra "Bandeiras" compõe a exposição e apresenta uma coleção de imagens do público em geral recebidas pela artista Marília Scarabello, desde 2016, com releituras da bandeira brasileira que retratam os mais diversos imaginários acerca do Brasil, com variadas manifestações de pensamento.
Considerando que foi identificada na obra em questão manifestação com viés político-partidário, o que fere as diretrizes do programa, a CAIXA decidiu cancelar a referida exposição.
A direção do banco informa ainda que determinou apuração de responsabilidades pelos órgãos internos."