Jornal Estado de Minas

ATAQUES

ALMG: líderes pedem justiça após ameaças de estupro contra deputadas

A sessão extraordinária da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) foi interrompida, nesta quarta-feira (25/10), devido a uma solicitação do deputado Ulysses Gomes (PT). O pedido visava reunir os líderes para discutir as recorrentes ameaças anônimas enfrentadas pelas deputadas. O presidente da Casa, Tadeu Leite (MDB), atendeu ao pedido, suspendendo a sessão por tempo indeterminado.




As parlamentares Bella Gonçalves (Psol-MG) e Lohanna França (PV) vêm sendo alvo de ataques constantes nos e-mails parlamentares. No conteúdo, as mesmas ameaças são feitas: estupro, assasinato e repreesão. Em todos os textos, fica claro o conteúdo político, porém, sexista. Há cerca de 70 dias, as parlamentares estão recebendo escolta armada. 

A decisão de pedir adiamento da sessão desta quarta-feira aconteceu em função de um vídeo divulgado nas redes sociais pelo deputado Caporezzo (PL), que questionava o uso de escolta parlamentar da deputada Bella Gonçalves quando ela participava de um evento. 

"Isso é o mais puro suco de hipocrisia esquerdista ao melhor estilo do Psol. Ela pede desarmamento, luta pelo fim da polícia militar, mas não vai ao seu pagodinho tomar sua cervejinha sem a escolta da PM, fortemente armada", escreveu Caporezzo nas redes sociais.




O líder do bloco da oposição Ulysses Gomes, relatou na tribuna o que ele chamou de “triste realidade” vivida pelas deputadas. “Elas têm sofrido ameaças permanentes. Eu não quero usar os termos, mas as ameaças têm inviabilizado a vida pessoal de cada uma delas e também a atividade política”, explica. 

Em seguida, o parlamentar também relembrou que o presidente da Casa articulou junto a Polícia Militar e a Polícia Civil segurança para as deputadas ameaçadas, mas que isso não vem sendo o suficiente para todas. “Estas ameaças têm aumentado. Ontem e hoje chegaram mais e-mails, com mais ameaças de estupro corretivo, de perseguição à família, de coisas que inviabilizam não só a vida delas, mas preocupam a todos", seguiu um Plenário.

O parlamentar seguiu o discurso destacando a preocupação com a exploração política desses eventos por alguns colegas parlamentares na ALMG. Ele enfatizou a necessidade de deixar de lado qualquer questão ideológica neste momento crítico. "Ou nos unimos aqui de forma solidária, sem lado político ou ideológico ou não dá mais para continuar. Não faz sentido a Assembleia continuar. Daqui a pouco, a solução vai ser cercar as deputadas numa casa, numa cela ou aqui dentro e encher de porrada.”




Líderes reagem

Após o adiamento da sessão, as lideranças se reuniram e, em seguida, fizeram pronunciamento em Plenário ao lado de outros parlamentares. O deputado Jean Freire citou Caporezzo. "Minha solidariedade à Bella, que paga por ser mulher e paga por ser lésbica. Comete crime quem filma você sem sua autorização. Eu não preciso ser mulher para defender as mulheres e eu não preciso ser gay para defender a diversidade", afirmou o deputado.

O deputado Cássio Soares (PSD), líder do bloco governista, afirmou que Bella foi exposta de maneira “caluniosa” e “imoral”. "Lamentar que, ao passo em que deveríamos estar aqui discutindo políticas públicas para melhorar a vida da população mineira, estamos lamentavelmente discutindo atitudes abomináveis de determinado colega que expõe de forma caluniosa parlamentares. As diferenças políticas e ideológicas, aqui é o palco de discussão democrática, mas extrapolar isso para lacrar na internet, é abominável.”

O líder do governo Zema, deputado João Magalhães (MDB), também criticou o compartilhamento de vídeos de deputadas. "Quando se ataca um colega, se ataca a casa inteira. O governo quer desvendar quem são esses assassinos que estão ameaçando nossas deputadas", afirmou Magalhães.





Presidência

O presidente da ALMG também se pronunciou sobre o caso, que, segundo ele, o “parlamento não pode aceitar”. “Pelo contrário, qualquer ameaça contra deputadas e deputados desta Casa é uma ameaça ao parlamento e à sociedade mineira. É por isso que essa Casa tomará, com certeza, medidas enérgicas para que isso não aconteça. Não só para a proteção das deputadas, que infelizmente estão sob ameaça e sob escolta neste momento, mas também para que exageros não aconteçam nesta Casa. Como tudo na vida temos que ter limites. Então, fica minha solidariedade às deputadas vítimas de ameaças, especialmente à deputada Bella Gonçalves, que foi vítima de abusos nessas últimas horas", afirmou Tadeu Leite.

Reação 

Em conversa com o Estado de Minas, Lohanna França lamentou o vídeo feito por Caporezzo. Segundo a parlamentar, é uma ação “muito infeliz” qualquer parlamentar que precisa usar de uma forma “debochada e desrespeitosa" da imagem de uma outra parlamentar ameaçada de morte “para aparecer nas redes sociais e para conseguir, é mobilizar a sua corja”. “O que a gente entende é que o parlamento é feito para debate político Não para criticar a vida pessoal de qualquer deputado. Não é justo. Estamos aqui para discutir política, Minas Gerais e a vida dos nossos eleitores.”

O outro lado da moeda

Também à reportagem, Capporezo afirmou que é contra qualquer tipo de ameaça às deputadas estaduais. “Os deputados que se posicionaram a respeito do tema certamente não viram o vídeo que eu publiquei no vídeo que eu publiquei. Eu condeno as ameaças que ela sofreu de estupro corretivo. Na verdade, eu defendo a morte ou a prisão perpétua para estupradores, mas eu critico apenas o quê? E é isso que eles estão tentando esconder. Eu critico o fato dela ir encher o rabo de cerveja no pagode com escolta armada”, disse.





“Ao mesmo tempo, qual é a minha indignação em relação a isso? É essa mulher que fala que armas não servem para nada, a não ser para tirar vidas. Essa mulher quer que a população seja desarmada”, seguiu.

Questionado se faria um pedido de desculpas em Plenário, que é o esperado por outros parlamentares, Caporezzo riu da situação. Eu, pedir desculpas por algo que não fiz? A esquerda está muito mal acostumada a lidar com o político frouxo. Esse não é o meu perfil. A minha posição, Ela foi tomada no vídeo que eu compartilhei e se alguém deve pedir desculpas ao povo de Minas, é a deputada Bella Gonçalves, por tentar proibir as mulheres de se proteger contra ação de criminosos utilizando aí uma arma de fogo”, concluiu.

Minas é alvo de perseguições

Em Minas Gerais, pelo menos seis parlamentares já receberam ameaças anônimas de estupro corretivo. São elas as deputadas estaduais Bella e Lohana e as vereadoras Iza Lourença (PSOL-Belo Horizonte), Cida Falabella (PSOL-Belo Horizonte), Claudia Guerra (PDT-Ubelândia) e Amanda Gondim (PDT-Uberlândia).