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Estado de Minas reportagem de capa

Direito ao prazer

Pesquisa revela o comportamento do brasileiro na hora das refeições em 2019 e quais são as mudanças de hábito para 2020. Seis em cada 10 gostariam de se alimentar com mais calma


12/01/2020 04:00

(foto: Kerstin Riemer/Pixabay)

Em alguma medida, em algum momento da existência se faz necessário pisar no freio e reduzir a velocidade do ritmo da vida contemporânea. Que tal começar no momento das refeições? Na hora de alimentar o corpo e, por que não, o espírito? Pode ser um compromisso em 2020, já que é “inútil forçar os ritmos da vida. A arte de viver consiste em aprender a dar o devido tempo às coisas”, bem disse Carlo Petrini, jornalista italiano fundador do movimento slow food, em 1986, seguro de que é preciso melhorar a qualidade da alimentação e arranjar tempo para a saboreá-la, o que proporcionará um cotidiano mais prazeroso. Garantir tempo para apreciar a comida implica maior bem-estar.

 

Esse, aliás, é o desejo de muitos brasileiros em 2020 que acordaram para a importância da saúde alimentar. E ele vem impulsionado pela constatação de que as refeições de 2019 não foram adequadas ou ideais. A observação traz consciência e faz mudar. Pensando nisso, a Hibou, empresa de pesquisa e monitoramento de consumo, entrevistou digitalmente mais de 1.800 brasileiros entre 16 e 75 anos em todo o país, que fazem no mínimo uma refeição fora de casa entre segunda e sexta-feira, analisando o comportamento de cada refeição, café da manhã, almoço e jantar.

 

“O brasileiro está tentando se alimentar melhor, olhando mais para o que põe no prato, optando por composições mais saudáveis, porém sem deixar de lado os prazeres da comida. A busca é pelo equilíbrio, que para quem come fora é mais difícil porque bufês e quilos oferecem diversidade convidativa ao exagero”, destaca Ligia Mello, fundadora do Hibou, coordenadora da pesquisa sobre a maneira como o brasileiro gostaria de se alimentar. Para ela, o brasileiro busca melhorar a alimentação, “mas a falta de conhecimento do que combinar em um prato saudável atrapalha, junto com a indulgência de quem come na rua e está sempre com pressa e qualquer alimento serve”.

 

DELIVERY E FAMÍLIA Ligia Mello revela outra lucidez que merece atenção no comportamento dos brasileiros: “Comer fora e tentar não voltar ao trabalho à tarde cheirando a gordura é uma percepção em diversas cidades. A roupa entrega onde você almoçou. Em casa, o principal foco de melhoria é no jantar, que as pessoas tentam comer melhor e mais cedo, já contemplando uma noite de sono mais saudável. Para quem não consegue fazer sua comida, o pedido de delivery tarde da noite com opções mais saudáveis, deixando de lado pizzas e lanches, é o mais bem-vindo”.

 

Na pesquisa, Ligia Mello destaca que seis em cada 10 brasileiros gostariam de se alimentar mais cedo e mais leve, já que acreditam que dormiriam melhor dessa forma. Nos jovens abaixo dos 30 anos, sete em cada 10 pensam da mesma forma. “Para 2020, o brasileiro gostaria de ter um sono melhor, podendo se alimentar mais cedo, com mais saladas, e reduzindo o consumo de cafeína. O lanchinho noturno, só se extremamente necessário, trocando o pão por alimentos mais saudáveis e leves, como barras de cereais, sementes, frutas e leite. Ele quer resgatar a refeição em família, e menos celulares à mesa.” 

 

Soja e mandioca

 

Pesquisador da Embrapa Soja e um dos vencedores do prêmio Péter Murányi 2008, o professor José Marcos Gontijo lembra que outra mudança é a crescente busca dos brasileiros por alimentos livres de lactose, como a soja, seja por intolerância ou adesão a um estilo de vida: “A soja apresenta um excelente valor nutricional, principalmente quanto ao seu elevado valor proteico. É uma ótima fonte de minerais como ferro, cálcio, magnésio e potássio e de diversas vitaminas. É uma boa opção para veganos e vegetarianos. Aliás, há várias classes de alimentos que podem se tornar excelentes opções para veganos e vegetarianos, como as leguminosas de modo geral, os novos cereais (quinoa), bem como os já mais conhecidos, como centeio, aveia, cevada e trigo sarraceno”.

 

Já a engenheira-agrônoma pela Esalq/USP Teresa Vale Losada, vencedora do prêmio de 2012, aposta em um alimento tipicamente brasileiro como o ideal para esse público: “A mandioca é uma excelente fonte de energia para substituir cereais como o arroz, milho, trigo etc. A raiz e a farinha (o mais importante derivado para alimentação humana) são ricos em fibras comparativamente ao arroz branco, alguns sais minerais e vitaminas. Mas a mandioca é principalmente uma opção energética, barata e de boa qualidade, que se adapta às condições agrícolas brasileiras. E pode aumentar-se o consumo por meio de incentivo nas escolas e instituições públicas, e estabelecer políticas públicas que recuperem os hábitos saudáveis, com alimentos minimamente processados”. 

 

 

Saúde alimentar

Resultados da pesquisa com brasileiros sobre as três principais refeições do dia 

 

 

(foto: Randy Fath/Unsplash)

Café da manhã

Para 35% dos brasileiros entrevistados na pesquisa da Hibou, o café da manhã deveria ser uma boa refeição, mas hoje não a consideram ideal. Entre os jovens, esse número sobe para 41%. Como expectativas para 2020, o brasileiro pretende beber mais sucos e leites e deixar o café preto para depois do almoço ou no lanche da tarde. Trocar os petiscos gordurosos por snacks saudáveis. Incluir grãos sem glúten, torradas integrais, geleias naturais e produtos orgânicos locais. Menos açúcar também foi citado, e para substituí-lo de manhã pretende-se incluir mais frutas. 

 

(foto: Stefan Vladimirov/Unsplash)
 

Almoço

A pesquisa mostrou que 40% dos brasileiros almoçam mais de três vezes por semana. Número que sobe para 49% entre os jovens. Na hora do almoço,  a maior reclamação é não conseguir manter uma dieta balanceada. Em 2019, o brasileiro já modificou um pouco seu comportamento, já que 49% introduziram mais saladas no prato. Porém, 61% ainda acham que não é o suficiente. Para 2020, o brasileiro gostaria de ter acesso a um conteúdo colaborativo, em que ele pudesse buscar mais informações sobre os alimentos que está consumindo, compartilhar suas experiências. 

 

(foto: Sharon Ang/Pixabay)
 

Jantar

O jantar é a refeição mais praticada em casa pelo brasileiro. Entre os com mais de 30 anos, 77% jantam em casa no mínimo seis vezes por semana. Já nos abaixo dos 30, esse número cai para 68%. Apesar de ser a refeição mais feita nos lares, é também a mais negligenciada: 56% nem pensam no assunto até sentir fome. Entre os jovens brasileiros esse número sobe para 63%. Chamou a atenção um dado: o pãozinho está presente tanto no jantar quanto no café da manhã. Nada menos que 81% dos entrevistados afirmaram ter o pão presente nas refeições noturnas. Ao menos uma pessoa da casa inclui esse alimento no jantar. 

 


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