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Câncer de ovário: pesquisadora mineira pode revolucionar tratamento da doença

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RESUMO DA NOTÍCIA
 
  • Composto de paládio desenvolvido por professora mineira é nova promessa no combate ao câncer de ovário
  • Molécula mostrou eficiência contra tumores resistentes ao tratamento tradicional, à base de cisplatina
  • Outra vantagem da substância é que ela mata o tumor sem afetar tecidos saudáveis
  • Isso indica a possibilidade de desenvolver remédios com menos efeitos colaterais

 

Metal nobre, com aplicações que vão da odontologia ao setor automotivo, o paládio é a mais nova promessa no combate ao câncer de ovário. As moléculas desse elemento se mostraram capazes de destruir células de tumores ovarianos resistentes à cisplatina - droga utilizada no tratamento disponível hoje - , com a vantagem de preservar os tecidos saudáveis.





 
A descoberta é fruto da tese de doutorado da mineira Carolina Gonçalves Oliveira, professora do Instituto de Química da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). 
 
Desenvolvido junto a um grupo de pesquisadores do Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo (IQSC-USP), além de cientistas do Reino Unido e da Itália, o trabalho foi destaque de capa do periódico britânico Dalton Transactions, editado pela Royal Society of Chemistry. O estudo contou ainda com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
 

Potência

Carolina explica que o câncer de ovário -  um tipo de tumor agressivo, que precisa ser tratado rapidamente - costuma apresentar boa taxa de resposta à tradicional cisplatina. Há casos, no entanto, em que as células cancerígenas não reagem ao tratamento. Nos testes in vitro, o composto de paládio desenvolvido pela mineira demonstrou eficácia no combate a essas variantes resistentes.





"Isso pode indicar uma série de possibilidades no futuro. Por exemplo, o uso do paládio como tratamento complementar, associado a outras terapias", explica a professora

A nova molécula também demonstrou maior grau de seletividade se comparada à cisplatina, ou seja, capacidade de atacar o câncer sem destruir células saudáveis. Segundo a pesquisadora, isso pode se traduzir em drogas com menos efeitos colaterais. O quimioterápico atualmente disponível no mercado, afinal, não raro causa vômitos, perda de cabelo, perda de audição, alteração nos funcionamento dos rins e dos nervos,  entre outros desconfortos. 
 

Enzima

O segredo da eficiência está no mecanismo de funcionamento do novo composto. Conforme esclarece a professora da UFU, a cisplatina se liga diretamente ao DNA humano, provocando assim a morte de células boas e ruins. 

O composto de paládio, por sua vez, atua especificamente sobre uma enzima, a chamada topoisomerase. Trata-se de elemento fundamental do processo de replicação celular, porém mais abundante nas células cancerígenas, já que elas se reproduzem de forma mais acelerada. O que o paládio faz é inibir essa enzima. Com isso, as células cancerosas ficam impedidas de se reproduzir e morrem. 



"Uma vez que o paládio se liga à topoisomerase e não direto ao DNA, as células tumorais, que apresentam essa enzima em maior quantidade - se tornam uma espécie de 'imã' para ele. Isso, em tese, explica porque o composto é tão seletivo, ou seja, vai direto no tumor, sem destruir os tecidos saudáveis", conta a pesquisadora. 

"E uma vez que o mecanismo de atuação do composto é diferente do da cisplatina, ele dribla resistência do câncer ao tratamento”, acrescenta. 

Para viabilizar o uso do paládio no combate à massa tumoral, os pesquisadores relatam que foi necessário desenvolver moléculas mais estáveis contendo o metal, uma vez que ele é absorvido muito rapidamente pelo organismo humano, o que dificulta sua penetração nas células cancerígenas. 

Em sua próxima etapa, o projeto avança para os testes em seres vivos. "A ideia é começar essa fase, normalmente feita com ratos, ainda este ano. Só depois disso é que vêm os experimentos com humanos. Até que o fármaco chegue ao mercado, pode levar uma década. Os resultados alcançados até o momento, no entanto, são promissores”, diz Victor Marcelo Deflon, professor do IQSC-USP e coordenador da pesquisa.





Doença agressiva

Projeto foi coordenado pelo professor Victor Marcelo Deflon, professor do Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo (IQSC-USP) (foto: Arquivo pessoal)
Embora não seja o mais comum, o câncer de ovário é descrito na literatura médica como o mais grave entre os tumores ginecológicos. Segundo o oncogeneticista e professor do Departamento de Clínica Médica da UFMG, André Murad, além de ser agressiva, a doença costuma avançar silenciosamente, o que dificulta a detecção precoce

"Ao contrário de cânceres como o de colo de útero, por exemplo, que o médico consegue detectar por meio de um exame simples como papanicolau, o tumor de ovário requer investigação minuciosa, com exames de imagem. Mesmo assim, há risco de falha. Com isso, o diagnóstico costuma ser tardio, ou seja, quando a massa tumoral já se ramificou. Mesmo nos Estados Unidos, país de medicina avançada, a taxa de cura é da ordem de 50%", explica. 

Ainda de acordo com o especialista, em casos em que a enfermidade é descoberta tardiamente, a taxa de resposta ao tratamento com cisplatina é baixa. “De 90 a 95% dessas pacientes apresentam tumores resistentes”, diz. 

O Brasil chega a registrar 6 mil novos casos de câncer de ovário por ano. O número é do Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca).