Em resolução publicada pelo Ministério da Saúde, os cuidados paliativos foram normatizados como parte dos cuidados continuados integrados ao Sistema Único de Saúde (SUS). Com o objetivo de promover melhor qualidade de vida a pacientes cuja doença não tenha cura, o serviço pode ser oferecido a pessoas acometidas por patologias que afetem a vida, seja aguda ou crônica. Esses cuidados incluem atendimento psicológico, medicamentos capazes de aliviar dores e demais técnicas de alívio de sofrimento.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cuidados paliativos consistem na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar. “Esses cuidados objetivam a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais”, informa.
A médica paliativista do Grupo Oncoclínicas Sarah Gomes explica que, ao contrário do que muitos pensam, os cuidados paliativos não são direcionados somente a pacientes em fase terminal. Além disso, reforça que a equipe de cuidados paliativos é usualmente composta por médicos, enfermeiros, nutricionistas, fonoaudiólogos, farmacêuticos, fisioterapeutas, psi- cólogos, dentistas, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais. O grupo ainda pode ter um capelão ou assistente espiritual.
“É importante desmistificar esse conceito de que cuidado continuado é para pacientes que estão destinados a morrer, pois é justamente o oposto. No cuidado paliativo sempre há o que fazer pelo paciente, pois não existem limites para o cuidado. São esforços destinados a pessoas com alto grau de sofrimento, seja potencial ou real. Idealmente, os cuidados paliativos devem ser oferecidos em todos os cenários, em nível domiciliar, ambulatorial e hospitalar”, afirma.
Para Sarah, em meio à pandemia do novo coronavírus, os cuidados paliativos assumem uma importância ainda maior. “O cuidado paliativo é um componente fundamental de qualquer plano de cuidados durante a pandemia, e os profissionais que atuam neste cenário têm a obrigação de prestá-los com o intuito de aliviar o sofrimento, tanto do paciente quanto de seus familiares, independentemente da fase da doença.”
A especialista ressalta que a boa comunicação deve ser um dos pilares dos cuidados paliativos para que os profissionais de saúde se comuniquem, de forma honesta, e tomem decisões de maneira transparente acerca da evolução do quadro da doença, a fim de manter a confiança com outros médicos, com o paciente, seus familiares e com a comunidade.
“Em uma pandemia, essas habilidades podem não ser apenas desejáveis, mas também essenciais para que o desfecho não seja desastroso, e que o impacto e o sofrimento sejam sempre minimizados e prevenidos, quando possível”, diz.
Outro ponto destacado pela especialista é a constatação de que os pacientes que, normalmente, fazem uso dos cuidados paliativos são pessoas com doenças crônicas, grupo de risco no contágio da doença causada pelo novo vírus. “Muitos desses pacientes já teriam a indicação de acompanhamento por uma equipe de cuidados paliativos. Alguns, inclusive, já o fazem, por suas condições de base. Portanto, os cuidados continuados são importantes em qualquer fase de demais patologias.”
VIRTUAL A médica paliativista pontua que a paralisação ou interrupção dos cuidados paliativos, devido ao isolamento social, pode acarretar consequências negativas no processo de alívio do paciente, bem como novos problemas psicológicos e físicos.
“Pacientes com doenças graves são a população mais em risco neste momento. E, muitas vezes, se sentem desamparados pelo fato de não estarem seguros no ambiente hospitalar, justamente pelo alto risco de contaminação. Além disso, o medo e a ansiedade, decorrentes da pandemia ocasionam uma descompensação da doença de base, propiciando o surgimento de novos sintomas físicos e emocionais.”
Por isso, Sarah conta que, seguindo recomendações da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), os atendimentos para a realização de cuidados continuados têm sido feitos por meio do telemonitoramento, priorizando o feito por videoconferência.
“Essa modalidade proporciona uma melhor avaliação do paciente e sua família, apontando com maior clareza sinais e sintomas para controle do quadro da doença. Além disso, no momento do atendimento, seja ele por videoconferência ou viva-voz, escutamos o paciente e/ou cuidador e orientações multiprofissionais podem ser oferecidas tanto nos aspectos físicos quanto no componente bio- psicossocial e espiritual do cuidado.”
Sarah detalha como esse atendimento se dá e frisa a necessidade de registro da consulta e todas as orientações dadas no prontuário do paciente, inclusive manifestação e/ou elaboração das Diretivas Antecipadas de Vontade do doente junto aos seus familiares.
“Ao fim da assistência prestada virtualmente, o próximo telemonitoramento é marcado, conforme avaliação do quadro clínico, sintomas e prognóstico do paciente, e/ou necessidades emergentes. Pelo perfil de nossos pacientes, ainda mais neste cenário de pandemia, buscamos intensificar a frequência do contato com a equipe para não aumentar mais a ansiedade e a insegurança deles ao enfrentar um momento tão delicado.”
A especialista destaca que atendimentos presencias podem ser necessários, a depender dos aspectos observados em consulta virtual. Isso porque, a partir do exame físico, é possível que uma análise e consequente elucidação diagnóstica seja feita, a fim de elaborar uma melhor estratégia terapêutica.
“Nesses casos, em que o atendimento presencial, com a necessidade de equipe multidisciplinar, é indispensável, é recomendado que seja feito por apenas um especialista de cada vez. Sendo em consultório, box de quimioterapia ou por visita domiciliar, todas as precauções são tomadas, como uso de equipamentos de proteção, cuidados de higiene e distanciamento adequado”, explica.
*Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram