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Estado de Minas PATERNIDADE

Ser pai em meio à pandemia: um turbilhão de emoções

Diante do coronavírus, o nascimento do primeiro filho gera sentimentos que vão desde um novo sentido à vida até dúvidas de como cuidar do bebê no isolamento


09/08/2020 04:00 - atualizado 07/08/2020 16:35

Leovegildo Soares com o filho Théo, de três meses: para ele, ser pai está sendo um grande aprendizado neste momento
Leovegildo Soares com o filho Théo, de três meses: para ele, ser pai está sendo um grande aprendizado neste momento (foto: Gladyston Rodrigues/em/d.a press)

Ser pai pela primeira vez inclui uma mistura de sentimentos e tende a culminar em mudanças quase que radicais de vida, desde a rotina até as prioridades e planos em família. Tem-se em um momento toda a alegria de ver uma vida tomando forma e em outro, logo em seguida, um sentimento de medo e incerteza sobre como cuidar daquele ser tão pequeno.

Em meio à pandemia, todos esses sentimentos ganharam uma proporção ainda maior, haja vista que tarefas simples, antes consideradas benéficas, passaram a ser um risco e um vetor de contágio.

Visitas foram necessariamente reduzidas, desde o leito de nascimento; a colaboração de pessoas próximas, como avós, tios e amigos, se tornou restrita, conforme recomendação dos órgãos oficiais de saúde. Além disso, o medo de contaminação se tornou ainda maior em atendimentos médicos e saídas essenciais.
 
“Ser pai, até hoje, é a tarefa mais difícil que já tive. E, em meio à pandemia, o maior dos dilemas de pais nesse período é justamente o risco de ter que levar seus filhos para se vacinar em postos de saúde e/ou fazer o teste do pezinho. Isso porque, além de se não ter uma imunidade contra o vírus, é difícil proteger o recém-nascido dos riscos, até porque nem máscara podemos colocar nele. E esse medo renasce todos os dias”, relata o servidor público Leovegildo Soares e Souza, de 38 anos, pai do pequeno Théo, de três meses.

Leovegildo conta que todo esse medo surgiu antes mesmo da chegada de Théo, quando havia a possibilidade de que o nascimento do filho ocorresse em plena pandemia.

A dúvida deu lugar à certeza, quando, nas últimas consultas de pré-natal, ele foi informado de que o parto seria mesmo em meio ao surto da doença causada pelo novo coronavírus, e, portanto, alguns cuidados deveriam ser tomados, começando pela permanência somente da gestante e de um acompanhante durante o parto.

O medo, então, se transformou em inquietude. “Contávamos com a ajuda de várias pessoas experientes com recém-nascidos, o que acabou não acontecendo por conta das orientações de isolamento social. Somos pais de primeira viagem e sem nenhuma experiência em cuidar de crianças. Para complicar um pouco mais, o curso que tínhamos agendado para entender como cuidar de um bebê, dar banho e tudo mais foi cancelado na pandemia.”

Naquele momento, segundo o servidor público, houve uma explosão de sentimentos ainda mais forte do que inicialmente, quando o teste de gravidez anunciou a chegada de uma criança em sua vida, sem qualquer planejamento.

“Me sentia alegre pelo fato de o meu primeiro filho estar chegando, mas, ao mesmo tempo, tinha o medo e a insegurança de como cuidar de uma criança e, ainda, a preocupação com os cuidados dentro da maternidade, com o meu filho e a minha esposa. Foi muita informação ao mesmo tempo”, pontua.
 
 
O pequeno Arthur, de dois meses, foi sonhado e desejado pelos pais, Gabriela Fernanda e Matheus Fernando
O pequeno Arthur, de dois meses, foi sonhado e desejado pelos pais, Gabriela Fernanda e Matheus Fernando
 
ESPERANÇA 

O anúncio da chegada de Arthur ao mundo trouxe ao autônomo Matheus Fernando de Oliveira, de 29, muita felicidade, um misto de sorrisos de alegria e choro de emoção. Mas, ao mesmo tempo, a pandemia fez com que todos os medos do novo pai aumentassem. Junto a isso, dúvidas tomaram conta dos dias antecedentes ao parto.

“A todo instante, eu me perguntava: será que vou poder abraçar meu filho? Vou poder beijá-lo? Meu filho é tão pequeno, será que vou contaminá-lo?. Com isso, percebi que minha família precisava de mim mais do que nunca e redobrei todos os cuidados para não perder este momento único com meu filho e nem correr o risco de infectar quem eu mais amo.”

A chegada de Arthur, de dois meses, sempre foi sonhada e desejada e, com o nascimento do bebê, a fé e a esperança de que dias melhores virão foram renovadas.

“Sempre quis ser pai, e estou muito feliz, apesar de todas as dificuldades. Tem sido muito bom para mim, o Arthur sempre foi sonhado e, com a pandemia, estou aprendendo a ter mais cuidado e dar mais valor à vida e à família”, diz.
 
 
Rodrigo Ferreira, com a filha Agnes, de quase quatro meses, conta que, diante de todos os medos e preocupações, a pequena foi sua motivação para superar tudo
Rodrigo Ferreira, com a filha Agnes, de quase quatro meses, conta que, diante de todos os medos e preocupações, a pequena foi sua motivação para superar tudo
 
AMOR INCONDICIONAL  

“Sempre foi um sonho ser pai, e quando soube que esse momento estava próximo, foi a sensação mais pura e linda do mundo. Os primeiros sentimentos foram de amor, felicidade e uma emoção incontrolável, uma sensação de estar pisando nas nuvens. E diante de todos os medos e preocupações, principalmente por causa da pandemia, Agnes foi a minha motivação para superar tudo”, conta o empresário Rodrigo Ferreira Leite, de 37.

Em função da pandemia, Rodrigo relata que todas as visitas foram canceladas, restringindo o contato frequente apenas a ele, à esposa, Ana Beatriz Borges da Silva, e à pequena Agnes. Mas, em contraponto, o empresário destaca que, apesar de todas as circunstâncias do cenário atual, a experiência de ser pai tem sido a melhor de sua vida.

“Essa é a melhor experiência em todos os sentidos, desde o momento em que a vi pela primeira vez, ainda no ultrassom. Quando ouvi seu coração batendo forte, as lágrimas vieram em forma de estrelas. A cada novo mês, minha emoção ia ao encontro do encanto e da dádiva de um sonho sendo realizado.”

Em 11 de abril, Agnes veio ao mundo. Rodrigo conta que era um sábado ensolarado e relata que, no dia anterior, a ansiedade tomou conta de seus pensamentos, impossibilitando até mesmo o sono.

“Cada minuto desse dia me proporcionou uma sensação de que a cegonha estava a caminho para entregar o maior e mais lindo sonho da minha vida. E quando vi o amor da minha vida saindo da barriga da mãe, logo pensei que o momento de colocar tudo em prática tinha chegado, o momento de ser o melhor pai do mundo.”

Passados três meses do nascimento, o empresário pontua que toda a sua vida é dedicada a Agnes, e que se esforça para que a pequena seja sempre feliz. “Após a chegada da minha filha, minha vida, minha casa e meu mundo ficaram cheios de surpresas, felicidades, amor e muita harmonia. É um amor incondicional, que eu e ela pouco sabemos, mas trata-se de um ciclo se renovando a cada dia, com muito afeto, carinho, amor e paz.”

A PATERNIDADE 

“A paternidade tem sido um grande aprendizado. Quando fizemos planos de não ter filhos, não sabia que seria tão gratificante acabar com a nossa ‘preguiça de domingo’ ou dormir mais tarde. Tem uma música que diz tudo o que estou sentindo, é assim: ‘A gente já não dorme mais a noite inteira; na mesa tem dois copos e uma mamadeira; mudou de tal maneira; nossa vida já não é a mesma’. Realmente, nossa vida mudou muito, mas é uma mudança tão gratificante, que todas as noites maldormidas passaram a trazer mais alegrias para o nosso dia”, comenta Leovegildo.

O servidor público conta, ainda, que, apesar de todos os medos e inseguranças da paternidade como um todo, bem como dos riscos de contaminação pela COVID-19, a partir do momento em que uma nova vida passou a depender dele, como pai e cuidador, tudo mudou e passou a ser em razão do pequeno Théo. Além disso, Leovegildo pontua que, mesmo com as adversidades do momento atual, poder ficar mais tempo com seu filho é uma alegria.

“No meio de toda essa situação ‘maluca’ da pandemia, tive a oportunidade de acompanhar de perto o desenvolvimento do meu filho e isso não tem preço. Pensando por esse lado, a pandemia me oportunizou, com o home office, uma situação muito positiva de estar há quase quatro meses acompanhando dia a dia das mudanças e o crescimento do meu filho. Isso é fenomenal”, diz Leovegildo, que comemora hoje o Dia dos Pais ao lado da esposa e do filho.
 
 

Pais de primeira viagem


“Quando descobri que seria pai pela primeira vez, a sensação que me tomou foi inexplicável e única. Ser pai era um sonho meu, e por muito tempo pensei que a realização deste desejo havia sido interrompida por complicações na saúde de minha esposa. Mas, além disso, senti um frio enorme na barriga, já pensando em todas as responsabilidades futuras e, também, com o medo de não ser suficiente”, diz o motorista Ivan Augusto da Cruz, de 35 anos, ao comentar sobre a descoberta de que seria pai pela primeira vez.


Com a chegada da pandemia, Ivan conta que o medo só aumentou. Segundo ele, aos receios de não saber criar, cuidar e ensinar foram acrescidos o medo da contaminação por COVID-19 e a incerteza ainda maior de um futuro com o filho.

“Antes de o meu pequeno Isaac chegar, eu temia por não saber trocar a fralda, dar banho ou mesmo pegá-lo no colo. Mas, com o medo de uma doença desconhecida, tudo isso foi abafado pelo temor maior da perda”, diz.
 
 
 
(foto: Regi Aguiar fotografia/divulgação)
 

Em meio a tudo isso e com todas as complicações impostas pelo momento, ao pegar  meu pequeno no colo e olhá-lo, me esqueço de tudo que é ruim. Ele é o suporte para todas essas complicações. prezar pela saúde dele é o ‘combustível’ para superar todas s adversidades”

Ivan Augusto da Cruz, de 35 anos, com o pequeno Isaac, de 1 mês, e a esposa, Admayra


 
 
 
Dessa forma, Ivan pontua que, antes mesmo da chegada de Isaac, todas as providências foram tomadas a fim de que, após o nascimento, Isaac, agora com um mês de vida, não corresse nenhum risco.

“Optamos por pagar um quarto separado após a cirurgia para que não tivéssemos contato com muitas pessoas, e já, antes mesmo de voltarmos para casa, avisamos a todos os amigos que as visitas não poderiam ser feitas, justamente por recomendações médicas.”

A chegada ao lar, para o motorista, foi uma espécie de choque, ao deparar-se com o pensamento e a certeza de que tudo era real, e, mais que isso, de que toda a ajuda, antes tida como certa, não seria mais possível. A partir daquele momento, Ivan teria acesso a todas as experiências de ser pai, sem nenhum “manual”.

“Isso tudo foi bem complicado, pois eu e minha esposa, Admayra, tínhamos combinado de contar com toda a colaboração de nossos familiares e amigos, o que não foi possível. Tivemos, então, que cuidar de tudo sozinhos, sem qualquer auxílio. Tivemos que aprender a aquecer a mamadeira, a tirar o leite materno e a dar banho, por exemplo, e tudo isso foi importante para que pudéssemos crescer como pais. E, mesmo de longe, todos nos auxiliaram com dicas e instruções.”

Apesar de tudo isso, Ivan relata que, em meio ao caos, a chegada de Isaac foi um presente, um verdadeiro ponto de paz. “Em meio a tudo isso e com todas as complicações impostas pelo momento, ao pegar o meu pequeno no colo e olhá-lo, me esqueço de tudo que é ruim. Ele é o suporte para todas essas complicações. E prezar pela saúde dele é o ‘combustível’ para superar todas as adversidades”, conta.

INESPERADO 

Um momento ainda mais delicado neste momento para Ivan foi a necessidade da realização de uma cirurgia no pequeno Isaac. Em meio à pandemia, o primeiro e maior medo diante da situação surgiu no exato instante em que a palavra hospital foi citada como uma opção.

“Eu e minha esposa conversamos e decidimos que seria melhor levá-lo ao médico, e dessa vez deveria ser em um pronto-socorro, pois o nosso filho estava vomitando e voltando todo o leite que dávamos a ele. Como somos pais de primeira viagem e não temos conhecimento sobre o funcionamento do corpo dele, a melhor saída foi levá-lo a uma consulta.”

A partir deste momento, segundo Ivan, a responsabilidade de ser pai aumentou, já que neste cenário atual de COVID-19, ele sentia dentro de si a necessidade de proteger seu filho. “Tive muito medo de que ele se contaminasse, mas o medo de perdê-lo era ainda maior. Eu o amo, e ser pai, para mim, foi a realização de um sonho. Como pai era meu dever lutar pela vida dele.”

Foi descoberto uma deficiência no estômago do pequeno Isaac, exigindo uma cirurgia. “Neste momento, tive ainda mais medo, pela cirurgia, pelas complicações impostas pelo próprio vírus e por ele precisar ficar internado no CTI em um cenário como este. Mas, tudo correu bem e, hoje, posso dizer que sou o pai mais feliz do mundo, por ver meu filho bem e simplesmente por seu pai do meu Isaac”, diz.
 
 
 
(foto: Arquivo pessoal)
 
 
 É muito bom saber que foi possível colocar no mundo um pedacinho de um grande amor e de algo tão desejado. E o medo é grande em relação à pandemia, por não sabermos quem está infectado ou não, por ter a ausência das pessoas mais próximas, como os avós e tios, é tudo muito difícil”

Jonas Antonio Costa, de 28 anos, com a esposa, Silvane, e a filha, Sther, de 1 mês  
 
 
 
 
DO CTI PARA A VIDA 

Sther também precisou ser internada no Centro de Tratamento Intensivo, mas, isso logo quando nasceu, devido ao parto prematuro. “Por uma semana, ficamos somente eu, minha esposa e a nossa pequena. E mesmo juntos, nos sentimos sozinhos pela necessidade de evitar visitas e por ninguém poder levar apoio até nós”, diz o motorista Jonas Antonio Costa, de 28, ao comentar sobre a internação de sua filha nos primeiros dias de vida.

Mesmo com todas as adversidades, Jonas pontua que a felicidade de ter a pequena Sther consigo é enorme, e que mesmo com todo o medo de fazer algo pela primeira vez, o maior medo, tendo em vista a COVID-19, é o de contaminação.

“É muito bom saber que foi possível colocar no mundo um pedacinho de um grande amor e de algo tão desejado. E o medo é grande em relação à pandemia, por não sabermos quem está infectado ou não, por ter a ausência das pessoas mais próximas, como os avós e tios, é tudo muito difícil. E essa parte acaba sendo triste.”

Apesar de todas as dificuldades e tribulações do momento, Jonas destaca que, para ele, a paternidade é inexplicável. “A paternidade é muito boa e gostosa. É um sentimento de que tem uma pessoa frágil ali em sua responsabilidade e dependendo de você, tem que dar amor e carinho. É realmente muito gostoso. É desafiador, sim, mas do mesmo jeito que tem as dificuldades, de ter que levantar de madrugada para dar mamadeira e fazer massagem para cólica, por exemplo, é tudo feito com muita alegria e prazer, e o resultado é muito satisfatório, principalmente por saber que ela vai ficar satisfeita, bem e feliz”, declara ao lado da esposa, Silvane Felix dos Santos Costa, de 31, assistente de recursos humanos, e da pequena Sther, com apenas um mês de vida.


 
* Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram



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