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Estado de Minas AGOSTO DOURADO

Desafios emocionais no ato de amamentar

Entre medos e inseguranças, a mãe pode desenvolver distúrbios ansiosos e/ou depressivos capazes de interferir na amamentação. É possível tratar os sintomas e manter o aleitamento


23/08/2020 08:50 - atualizado 24/08/2020 10:04
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'Percebi que amamentar era uma tarefa que precisava de tática, de tempo, de tranquilidade, e que fiz o que eu podia' - Patrícia Las Casas, de 34 anos, com o marido, Paulo Henrique, de 33, e a filha, Rebeca, de 1 ano e um mês
"Percebi que amamentar era uma tarefa que precisava de tática, de tempo, de tranquilidade, e que fiz o que eu podia" - Patrícia Las Casas, de 34 anos, com o marido, Paulo Henrique, de 33, e a filha, Rebeca, de 1 ano e um mês (foto: ARQUIVO PESSOAL)
O medo e a insegurança da amamentação, bem como da maternidade como um todo, podem ser fatores capazes de influenciar no processo de amamentação. Isso não só pelo temor em sentir dores e/ou preocupação em demais possíveis erros a serem cometidos, mas, também, porque os sintomas psicológicos decorrentes desse momento podem interferir na atitude e vontade da mãe.

Foi pelo que passou a cirurgiã-dentista Patrícia Las Casas, de 34 anos, mãe de Rebeca, de 1 ano e um mês. “Senti muita dor pós-parto e meu leite não desceu.

Mesmo com todas as orientações, uso da bomba elétrica e consultoria de amamentação, tive que sair do hospital com minha filha tomando a fórmula no copinho. Era desgastante e já me sentia visivelmente abalada e cansada”, diz.

A cirurgiã-dentista relata que a consulta com uma pediatra foi crucial para que o aleitamento materno fosse buscado e inserido, aos poucos, na vida de sua filha.

“Ela me perguntou como eu me sentia e desabei a chorar, e junto com as lágrimas descia o leite. Calmamente, ela levou Rebeca ao meu seio e disse para aconchegá-la, e minha filha começou a mamar. Assim, entendi que, enquanto não me desligasse do mundo externo e me conectasse com a minha filha, não tinha elo. A mágica não acontecia. Ela não mamava.”

Rebeca passou a se alimentar do leite materno e assim foi por cinco meses, até que Patrícia precisou retornar ao trabalho e não conseguiu manter o método de ordenha.

“Por enfrentar muita dificuldade em amamentar, fui me fragilizando e fiquei insegura. Senti-me menos mãe, menos mulher. Mas percebi que amamentar era uma tarefa que precisava de tática, de método, de tempo, de tranquilidade, e que fiz o que podia. Perdoei-me, fiz as pazes comigo. Parei de me cobrar tanto e abandonei sem culpa a amamentação no peito quando já não conseguia mais sustentar essa dinâmica na minha vida.”
 
DOENÇAS MENTAIS 

Em caso de doenças já preexistentes, a psiquiatra Christiane Carvalho Ribeiro, membro da Comissão de Estudos e Pesquisa em Saúde Mental da Mulher da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e preceptora de residência médica do ambulatório de depressão pós-parto do Hospital das Clínicas da UFMG, explica que a interferência na amamentação pode ser ainda maior.
 
 
'É importante que a mãe entenda que ela não é perfeita, e se cobre menos. As dificuldades não a fazem menos mãe' - Christiane Carvalho Ribeiro, preceptora de residência médica do ambulatório de depressão pós-parto do Hospital das Clínicas da UFMG
"É importante que a mãe entenda que ela não é perfeita, e se cobre menos. As dificuldades não a fazem menos mãe" - Christiane Carvalho Ribeiro, preceptora de residência médica do ambulatório de depressão pós-parto do Hospital das Clínicas da UFMG (foto: ARQUIVO PESSOAL)
“A maneira como a mulher interpreta seus sentimentos e pensamentos tende a modular o seu comportamento, ou seja, a confiança daquela mãe em sua habilidade para amamentar e conseguir alimentar seu filho tende a ser comprometida pela ocorrência de sintomas de medo, insegurança e também outros sintomas depressivos.

No caso de mulheres que já apresentam sinais de doenças mentais, há uma chance maior de desmame precoce e mais dificuldades de amamentação, o que já é comprovado cientificamente por alguns estudos.”
 
Sendo assim, Christiane Ribeiro destaca que o atendimento psicológico e psiquiátrico pode ser fundamental neste processo, visto que esse tipo de tratamento, segundo a psiquiatra, faz a diferença. Isso porque o especialista contribui para que a insegurança seja superada e a autoestima reequilibrada, resultando em uma amamentação mais prazerosa do ponto de vista mental.
 
REFLEXO DA PANDEMIA

De acordo com Christiane Ribeiro, o isolamento social decorrente da pandemia causada pelo novo coronavírus também pode interferir psicologicamente no processo de amamentação. Isso porque a necessidade de uma adaptação na rotina, sem qualquer rede de apoio e/ou ajuda com os filhos, pode propiciar sintomas ansiosos e/ou depressivos, principalmente em função do medo pela infecção por COVID-19.

“O medo de contaminação e de prejudicar as crianças pode ser frequente, gerando sintomas de ansiedade e insônia. A falta de suporte e a necessidade do isolamento são fatores de risco para a piora de sintomas depressivos no período perinatal. Por isso, é importante que a mãe entenda que ela não é perfeita, e se cobre menos. As dificuldades não a fazem menos mãe e nem diminuem a conexão com o filho”, destaca.
 
E o que fazer diante da pandemia de COVID-19? É seguro amamentar? “Os benefícios do aleitamento materno superam qualquer risco potencial de transmissão da COVID-19, portanto, sua manutenção é recomendada, especialmente neste momento de pandemia”, destaca a médica ginecologista, obstetra e mastologista Paula Cristina Martins Soares.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), o Ministério da Saúde, a Febrasgo e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomendam, inclusive, que o aleitamento materno seja mantido por lactantes assintomáticas, suspeitas ou comprovadamente diagnosticadas com COVID-19, confirmadas por meio de exames, na sala de parto, nos alojamentos conjuntos, nas unidades de internação e em casa.

“Caso a mãe não se sinta confortável, não deseje ou não esteja em condições de amamentar, ela pode extrair o leite, seguindo as recomendações de segurança e pedir para outra pessoa saudável, devidamente orientada, oferecer o leite materno ao bebê”, elucida Paula.

Ainda de acordo com as instituições, independentemente da situação sorológica da mãe, indica-se lavar as mãos por 20 segundos antes e depois do processo de amamentação ou extração do leite, usar máscaras do início ao fim do processo e evitar tocar nas mãos do bebê, que pode levá-las à boca.

As mães com suspeita ou confirmação da infecção por COVID-19 podem solicitar que outra pessoa complete os cuidados com o bebê, como troca de fraldas, banho e colocar para dormir.

Agosto dourado

O mês de agosto é conhecido como agosto dourado por simbolizar a luta pelo incentivo à amamentação. A cor está relacionada ao padrão ouro de qualidade do leite materno. Curiosidade: a primeira hora de amamentação da criança, ainda no hospital, é chamada de hora de ouro, justamente pela qualidade e benefícios do leite materno.

O que você precisa saber sobre amamentar:
 
» A amamentação deve ser em livre demanda. A mãe deve oferecer o peito todas as vezes que o bebê desejar. Não está indicado marcar hora e tempo de mamada. Ao longo do processo de adaptação, a mãe conseguirá perceber se sua mama está cheia ou vazia e o bebê poderá assumir um padrão de intervalo entre as mamadas.

» A amamentação deve ser iniciada ainda na sala de parto, na primeira hora de vida, ser exclusiva e em livre demanda até o sexto mês, e ser mantida, juntamente a uma alimentação saudável, até 2 anos ou mais.

» Durante o aleitamento materno exclusivo, nos primeiros seis meses de vida, o bebê não necessita tomar água e não deve ingerir o famoso “chazinho”. A substância tanino, presente no chá, prejudica a absorção do ferro, podendo causar anemia.

» De acordo com a Lei Municipal 10.940/2016, o aleitamento em locais públicos e privados deve ser livre e permitido, na capital mineira, sob pena de multa ao estabelecimento que impedir ou constranger a lactante. Em dezembro de 2016, foi a vez de o estado de Minas Gerais regulamentar esse direito pela Lei 22.439/2016.

Fonte: Paula Cristina Martins Soares, médica ginecologista, obstetra e mastologista e membro do Comitê de Aleitamento Materno da Sogimig

* Estagiária sob supervisão da editora Teresa Caram


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