“O ser humano é resiliente desde os primórdios dos tempos. Temos a capacidade de reinventar e recriar as nossas vidas e a nossa relação com o mundo da melhor maneira possível, e a quarentena está aí para que a gente exerça essa capacidade.” O recado é do psiquiatra cooperado da Unimed-BH Marco Túlio de Aquino, ao comentar sobre a necessidade de que adaptações sejam feitas no cotidiano, na rotina do “novo normal”, a fim de que a saúde mental seja restabelecida.
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Pandemia: como está a saúde mental do brasileiro?Crianças podem sofrer com isolamento social Isolamento social exige adaptação familiarVeja a maneira mais inteligente de aprender com os errosÉ hora de se reinventar. Comece pela organização da casaCOVID-19: sequelas no olfato podem ser revertidasAquino destaca ser importante que as pessoas não fechem os olhos diante de uma situação como a que a sociedade enfrenta na atualidade. E pontua ser importante buscar ajuda psicológica, principalmente no que diz respeito à saúde mental de indivíduos já fragilizados emocionalmente. "A falta de assistência mental, em momentos delicados como este, pode agravar quadros clínicos de ansiedade e depressão, com agravamento de sintomas e da sensibilidade emocional", afirma.
“Como tudo na medicina, considerando a saúde de um modo geral, quanto mais se demora para fazer um diagnóstico adequado e a procurar ajuda especializada, piores são os resultados”, reforça. No caso de questões psiquiátricas, a falta de assistência pode culminar, inclusive, em pensamentos suicidas.
O especialista sustenta que a forma mais eficaz de manter a saúde psíquica e enfrentar o contexto atual é encarar o momento da melhor maneira possível, mesmo que as pessoas estejam repletas de limitações. Além disso, segundo o psiquiatra, reinventar-se, do ponto de vista psicológico, é importantíssimo em meio à pandemia, pois apenas esperar que toda a situação retorne à normalidade pode ser frustrante e causar ansiedade.
“Podemos diminuir essa pressão sendo mais flexíveis e tolerantes com as adversidades. Provavelmente, alguns indivíduos estarão sentindo o impacto disso tudo de forma muito mais intensa e difícil, sentindo diversos tipos de estresse, relacionados à pandemia ou não”, aconselha. Segundo ele, identificar quais são as situações geradoras de estresse é fundamental para que se possam buscar alternativas, principalmente em aspectos nos quais é possível mudar ou, no mínimo, nos tornar mais resilientes quando a mudança não é possível.
Dificuldades
"Infelizmente, o tema saúde mental ainda é muito cercado de preconceito em toda a sociedade. E é justamente pelo preconceito existente e o receio do julgamento externo que as pessoas não querem ser reconhecidas no lugar daqueles que têm um transtorno mental”, constata o especialista. “Existe também entre as pessoas o receio de serem vistas como fracas ou descontroladas, e de serem estigmatizadas por isso”, acrescenta, afirmando que, no caso de crianças, as famílias usualmente se sentem culpadas e expostas.
Está aí, segundo Aquino, a grande dificuldade de implantar uma forma de reinventar a rotina e os hábitos pessoais, a fim de facilitar o enfrentamento do isolamento social. Mas, de acordo com o especialista, existem maneiras de que esses desafios sejam superados e o bem-estar mental e físico restabelecido.
“Precisamos e temos que combater esse preconceito falando sobre o assunto, propondo debates, reflexões e buscando entender que cada um tem o seu jeito de ‘ser’. Devemos falar mais sobre o tema saúde mental e nos permitir sofrer quando é preciso, reconhecer quando existir o sofrimento do outro, e, fundamentalmente, quando estivermos adoecidos, procurar ajuda especializada sem qualquer tipo de preconceito. Devemos entender que para todas as pessoas a saúde mental é indispensável para o bem-estar geral dos indivíduos, das sociedades e dos países”, afirma.
Pós-pandemia
Pós-pandemia
Aquino afirma que, como fato existencial e filosófico, períodos de grande pressão, sejam representados por pandemias, guerras ou revoluções, provocam e aceleram mudanças em todos os campos da existência humana – algumas delas positivas, outras nem tanto. E entender isso, segundo o psiquiatra, permite que as pessoas possam redimensionar a real importância da qualidade das relações humanas.
“Ao perder a liberdade de ir e vir, começamos a entender a importância dos momentos simples da vida, como ir ao parquinho próximo de casa com o filho. Toda essa reflexão pode nortear nossos novos momentos e nosso comportamento pós-pandemia. E esses são pontos fundamentais para um retorno saudável”, destaca.
Ganho mental e fÍsico
Confira dicas para enfrentar os desafios da pandemia
O que não fazer
» Sentir-se castigado pelas circunstâncias atuais que fogem totalmente ao nosso controle
» Ser inflexível no que se refere às possibilidades de se sentir bem neste momento, achando que a felicidade só pode ser experimentada antes da crise
» Cultivar pensamentos negativos e sem alternativas racionais para o momento vivido
» Tornar-se totalmente ocioso no seu cotidiano, com a desculpa de que nada pode ser feito
» Não procurar ajuda especializada quando necessário
O que fazer
» Entender que, mesmo em dimensões diferentes, o desafio que estamos vivendo é universal e temos condição de superá-lo. A ciência já mostrou isso em outras oportunidades
» Buscar alternativas viáveis para se sentir bem: leitura, filmes, séries e cuidados com a casa ajudam a dar um sentido diferente a tudo que se está vivendo
» Ter um hobby, meditar e orar
» Manter atividades físicas, com todos os cuidados necessários para o momento
» Ficar sempre muito atento a situações que mudam as nossas emoções, pensamentos e comportamento
» Entender como você reage às diversas situações no cotidiano pode ser uma grande dica para começar a refletir: o que você realmente deseja mudar, neste momento e no futuro?
*Estagiária sob supervisão da editora Teresa Caram
*Estagiária sob supervisão da editora Teresa Caram