Estresse, ansiedade, medo e depressão. Esses são alguns dos fatores capazes de propiciar o aparecimento e/ou agravamento de quadros clínicos de compulsão alimentar – ingestão indiscriminada de alimentos. Isso porque, conforme elucidado pelo médico e nutricionista da Medicina Integrativa Lucas Costa Felicíssimo, a pessoa tende a usar o alimento como forma de alívio de tensão, uma espécie de válvula de escape.
“Durante a ingestão, há a liberação dos hormônios que proporcionam bem-estar e prazer. Por isso, quando o indivíduo se sente em uma situação-problema, ele tende a optar por comer algo, a fim de aliviar a tensão e driblar as casualidades. Porém, depois de se alimentar, essas pessoas se sentem culpadas. No entanto, esse sentimento não é capaz de interromper o ciclo vicioso já instalado”, explica.
Desse modo, o médico destaca que alguns sinais podem ser importantes aliados no diagnóstico de compulsão alimentar, haja vista que, diferentemente do que muitos pensam, o transtorno compulsivo alimentar não consiste no ato de comer demais e/ou não conseguir se manter na dieta e, sim, na ingestão exagerada de alimentos em curtos espaços de tempo.
“Muitas vezes, o paciente que sofre com esse problema come mais que o previsto, mais que o suficiente para se sentir saciado e mesmo quando não está com fome. Outro ponto característico do compulsivo é que, após se alimentar, além de sentir culpa o indivíduo tende a se sentir envergonhado e, às vezes, pode até passar mal pela quantidade de comida ingerida”, diz.
Felicíssimo ressalta, então, que, a partir dessa percepção, um tratamento pode ser prescrito, a fim de reverter o quadro compulsório. Porém, o nutricionista ressalta que todo o acompanhamento médico deve ser feito com profissionais da área, visto que o diagnóstico pode vir a ser comprometido, caso essa assistência seja feita por profissionais não especializados.
“A compulsão é um problema de saúde pública e, na maioria das vezes, é subnotificada. Em consultas com profissionais que não são especialistas, esses pacientes podem ser facilmente negligenciados, pois é comum não perguntarem sobre isso em consultas de rotina, mesmo quando a pessoa apresenta sobrepeso. Isso é um agravante para não fazer o diagnóstico e tratamento corretos”, afirma.
TRATAMENTO
Segundo o especialista, alguns danos graves podem ser percebidos na vida do indivíduo diagnosticado com compulsão alimentar, mas que não a trata. “Além de haver a possibilidade de incidência de doenças mais graves – obesidade, hipertensão, diabetes e cardiovasculares –, do ponto de vista social e comportamental esse é um transtorno que complica muito a vida de quem o vivencia, principalmente no que tange o aspecto emocional e de autoestima, sendo fundamental o diagnóstico e o tratamento para evitar esses danos.”
Por isso, Felicíssimo destaca que o melhor método para tratar a compulsão alimentar é o acompanhamento médico multidisciplinar – envolvendo várias especialidades médicas –, com nutricionista, psiquiatra e psicólogo. Em alguns casos, pode ser necessário administrar doses medicamentosas.
“Apoio de amigos e familiares é importante, mas o paciente não deve deixar de procurar ajuda profissional. É uma mudança intensa de hábito que requer um trabalho interdisciplinar para que funcione”, comenta.
Recorrência no Brasil e no mundo
No mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 2,6% de toda a população do globo tem a compulsão alimentar como uma espécie de válvula de escape. Enquanto isso, no Brasil, os índices chegam a 4,7% – incluindo todos os transtornos alimentares, sejam eles compulsão alimentar, anorexia, bulimia, entre outros. Jovens entre 14 e 18 anos são o público mais atingido.
*Estagiária sob supervisão da editora Teresa Caram