Jornal Estado de Minas

SAÚDE

Você precisa mesmo de suplementos? Pandemia dispara consumo


Além do futuro trágico da humanidade previsto em 1982 no filme Blade runner, dirigido por Ridley Scott, cá entre nós com alguns acertos, houve quem imaginasse que no século 21 todas as refeições seriam em forma de cápsulas, que teriam todos os nutrientes. Não vivemos a extinção da alimentação, mas com a mudança do padrão alimentar, a suplementação é prática comum. O brasileiro é um consumidor ávido por minerais, vitaminas e multivitamínicos sem controle.





A preocupação com a saúde, a facilidade de comercialização, somadas ao apelo publicitário e à busca de maior imunidade, acelerada pelo medo da contaminação pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2), como forma de se proteger da doença, estimularam ainda mais a população à ingestão indiscriminada desses produtos, o que pode acarretar riscos à saúde.
 

(foto: Arquivo pessoal)

Além do uso de complexo vitamínico, a pandemia fez aumentar a procura por vitamina C, pensando na melhora da imunidade, assim como da vitamina D, que tem a sintetização ligada à exposição solar e, por causa do isolamento em casa, a preocupação é acelerar essa carência em algumas pessoas pela dificuldade de tomar sol. E tem ainda a sedução de celebridades, formadores de opinião e famosos que divulgam o consumo de pílulas e mais pílulas.

O problema é que o canto da sereia enumera tantos benefícios e é tão fácil o acesso que é difícil imaginar quem não deseja ter pele bonita, cútis com aparência mais jovem e viçosa, unhas saudáveis, cabelos crescendo, articulações fortes, mais energia, ânimo e o sistema imunológico em dia. Todos querem, não é mesmo? Assim, farmácias e lojas de produtos naturais reservam corredores inteiros para os suplementos com nutrientes isolados ou na forma de complexos vitamínicos.





Pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (Abiad), de dezembro de 2018, constatou que os suplementos estão em 54% dos lares brasileiros. E a necessidade de complementar a dieta é apontada como a principal razão por trás da compra.

Porém, a maioria se automedica e se esquece de que o uso de complexos vitamínicos ou vitaminas ou minerais é eficaz para suprir deficiências de pessoas que fazem dietas restritivas ou em casos de carência diagnosticada clinicamente. As pessoas ignoram que, em grande parte, a alimentação balanceada, o rico PF brasileiro, já garante a quantidade de vitaminas que o corpo precisa.

Outro levantamento da Abiad, de maio de 2020, sugeriu que a pandemia pode ter contribuído para o brasileiro usar mais suplementos alimentares. As 275 entrevistas nas capitais de Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Fortaleza, Brasília e Belém mostraram que ao menos um morador recorria aos suplementos.



O estudo indica que 48% desses usuários passaram a ingerir mais multivitamínicos e afins. A maior justificativa para o aumento da busca foi melhorar a imunidade (63%), sendo que 9% dos indivíduos mencionaram especificamente a COVID-19. Os três tipos mais procurados foram multivitamínicos (28%), vitamina C (26%) e vitamina D (8%).

CUIDADO COM O EXCESSO


O Bem Viver foi ouvir especialistas da saúde para falar ao leitor sobre os benefícios, os riscos e as indicações desses suplementos, que, usados da forma correta, agem como prevenção para a manutenção da saúde e do bem-estar.

O médico endocrinologista Bruno Mourão França enfatiza que, com exceção da vitamina D, que é sintetizada na pele pela exposição à radiação solar, todas as vitaminas de que precisamos estão nos alimentos.



“Quem tem uma dieta equilibrada, variada e consome proteínas, frutas e outros vegetais provavelmente não precisará fazer suplementação. O uso adicional de vitaminas é indicado para aqueles em risco nutricional.”

O endocrinologista destaca que os grupos que podem precisar do uso de vitaminas são o de pessoas que têm doenças que causam má absorção alimentar, o daquelas que seguem dietas restritivas, as gestantes, os idosos e os portadores de doenças metabólicas ao nascimento.

“Uma outra população que se beneficia do uso dos multivitamínicos é o das pessoas que fizeram a cirurgia de redução do estômago para tratamento da obesidade.”

O endocrinologista alerta que o excesso de vitamina no organismo terá reação contrária: “Ingerir muita vitamina do complexo B pode causar reações na pele e o excesso de vitamina C pode levar a cálculos renais em quem tem predisposição. O nosso maior cuidado é evitar o excesso das vitaminas A, D, e da vitamina E, pois essas se acumulam no organismo e têm potencial de intoxicação. Estudos recentes demonstraram a toxicidade da vitamina A em dose alta e isso levou à alteração da fórmula de alguns multivitamínicos”.



Empolgação

 
A publicitária Natália Ramos, de 24 anos, assume a empolgação com os suplementos. Ela revela que começou a tomar em agosto deste ano uma cápsula por dia: “A composição é zinco, cromo, selênio, ácido fólico, biotina, vitaminas A, B1, B12, C, D3, E. Ela não me foi receitada, mas automedicação. Por passar por um processo de emagrecimento, o meu cabelo estava caindo muito, então decidi ir à procura de alguma vitamina que me ajudasse. Depois de tentar uma marca que não apresentou o custo/benefício esperado, mudei e encontrei a que tomo atualmente via redes sociais e gostei muito”.

Natália Ramos destaca que, depois de um mês tomando a cápsula, já tinha percebido uma melhora de 50% em relação à queda. “Hoje, depois de 77 dias com a medicação, a queda do meu cabelo, que antes estava me assustando muito, chega a ser quase nula. Meu cabelo está com muito mais brilho e saudável. Além de auxiliar no crescimento. Estou muito feliz com os resultados alcançados até agora.”