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Estado de Minas Saúde

Epidemia de insônia no Brasil

Pesquisa aponta que problemas relacionados à dificuldade de dormir ameaçam a saúde e a qualidade de vida de cerca de 65% da população brasileira


21/02/2021 04:00 - atualizado 18/02/2021 11:29

(foto: Pixabay)


Cerca de 65% dos brasileiros sofrem de distúrbios do sono, percentual acima da média mundial – 45%. É o que diz um estudo divulgado pela Persono, da Coteminas, sobre a qualidade do sono no país, o chamado “Acorda, Brasil!”. A pesquisa foi feita por meio da plataforma human analytics da MindMiners e coordenada pela consultoria Unimark/Longo. Segundo Carlos Azevedo, diretor de ciência de dados da Coteminas e head do Persono, essa é uma iniciativa para melhorar a vida das pessoas a partir do sono.

“É a nossa missão. Por isso, o principal objetivo é conscientizar toda a sociedade, incluindo classe médica e autoridades públicas, para o grave problema de privação de sono que assola o nosso país. Essa já é uma epidemia global, conforme constatado pela Associação Mundial de Medicina do Sono (Wasm), atual World Sleep Society.

 E o problema é ainda mais grave no Brasil: um levantamento de 2016 publicado na revista Science Advanced mostra que somos um dos povos que menos dormem no planeta, só ficando atrás dos japoneses e dos habitantes de Cingapura”, aponta.
 
Carlos Azevedo comenta que os resultados apresentados pela pesquisa concluem que a maioria da população do país tem uma visão distorcida sobre o que é uma noite de sono bem-dormida.

“Em resposta à pergunta direta, pouco mais de 1/3 da população brasileira (38%) declarou ter problemas com a qualidade do sono. Entretanto, ao analisar mais a fundo, fazendo o cruzamento com outras respostas da pesquisa, pudemos ver que os 62% de respondentes satisfeitos com o sono se contradizem.”

Os dormitórios das casas brasileiras têm sofrido uma erdadeira invasão de telas digitais: nada menos do que 78% dos brasileiros têm o hábito de levar o celular para a cama. Os jovens são os que mais fazem isso

Carlos Azevedo, diretor de ciência de dados da Coteminas e head do Persono

Isso porque, segundo os dados apresentados pela “Acorda, Brasil!”, as pessoas que declaram dormir bem, mas acordam cansadas ou muito cansadas pela manhã, somam 58,7%. Além disso, 19,1% das pessoas que declaram dormir bem apresentam horas consideradas insuficientes de sono (menos de seis horas por dia). Ainda, 18% apresentam dificuldade de pegar no sono e demoram, em média, mais de 30 minutos para dormir de fato, e 11,9% despertam mais de uma vez durante a noite.

“Um outro dado preocupante é que cerca de 13,4% das pessoas que declaram dormir bem relatam algum problema de saúde que pode ter correlação com privação de sono, como diabetes, colesterol alto, hipertensão arterial, baixa imunidade ou estresse. Esses achados corroboram estudos que mostram que pessoas privadas de sono por tempo suficiente acabam se acostumando com o cansaço diário, tomando-o como normal”, justifica.
 

CAUSAS 


Segundo dados do estudo, 52% dos brasileiros apontam o estresse como o grande causador de noites maldormidas e consequente influenciador na qualidade de sono e vida. E isso muito tem a ver com fatores com o emprego e a vida financeira. Além disso, maus hábitos podem influenciar, e muito, no regulador de sono. Sedentarismo, alimentação inadequada e, principalmente, uso indiscriminado de telas de celulares à noite são alguns desses “vilões”.

“Os dormitórios das casas brasileiras têm sofrido uma verdadeira invasão de telas digitais: nada menos do que 78% dos brasileiros têm o hábito de levar o celular para a cama. Os jovens são os que mais fazem isso. E a luz azul emitida dos celulares, que inibe a produção de melatonina – o hormônio que regula o sono –, somada ao caráter ansiogênico de noticiários e redes sociais, faz do uso do aparelho antes de adormecer um hábito altamente prejudicial à qualidade do sono”, explica Carlos Azevedo.

Carlos Azevedo, diretor de ciência de dados da Coteminas e head do Persono, diz que a privação do sono causa uma série de malefícios ao corpo e à mente
Carlos Azevedo, diretor de ciência de dados da Coteminas e head do Persono, diz que a privação do sono causa uma série de malefícios ao corpo e à mente (foto: Epifânica/Divulgação )
A pandemia também afetou a qualidade do sono do brasileiro. Conforme relatado pelo head do Persono, cerca de 43% da população, especificamente as mulheres, tem dormido menos e pior, provavelmente devido ao estresse causado por questões relativas à saúde. E essa privação do sono causa uma série de malefícios ao corpo e à mente do organismo humano, aumentando, inclusive, o risco de diabetes, hipertensão – das consequências mais simples até um AVC –, obesidade, gerada pelo desequilíbrio da grelina/leptina, que nos leva a consumir alimentos mais gordurosos, e alteração dos níveis de colesterol.

“Porém, os distúrbios hormonais vão além: homens que dormem apenas quatro ou cinco horas por noite têm diminuição de testosterona comparável a homens 10 anos mais velhos. Outro aspecto importante é a diminuição ou a ausência de libido devido à reserva de energia que o cérebro faz para priorizar atividades mais importantes. Ao ser menos estimulada, a hipófise afeta a produção de testosterona, hormônio fundamental tanto para a libido masculina quanto para a feminina”, acrescenta.

Além disso, a má qualidade de sono leva, também, à diminuição da memória, redução da velocidade de raciocínio, lentidão dos pensamentos e irritabilidade, esse último ocasionando perda de paciência com facilidade em situações simples do cotidiano. A privação de sono provoca, ainda, o envelhecimento precoce e o aspecto de aparência “cansada”, devido à ausência ou à diminuição de hormônios como a melatonina, produzida durante a noite, que acalma e descansa a pele, além de inibir a queda de cabelo e melhorar a saúde das unhas.

“Em apenas uma noite, a simples redução para quatro horas de sono gera uma queda de 70% nas atividades de defesa do organismo, propiciando aumento das taxas de câncer de próstata, intestino e mama. Para completar esse quadro, dores em todo o corpo também podem ser sentidas devido à diminuição de serotonina e endorfina. A ciência vem evoluindo também na descoberta de uma relação cada vez mais próxima entre envelhecimento, demência e Alzheimer, diretamente ligados à má qualidade e quantidade de sono”, aponta.

*Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram



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