Quente. Gelado. No verão, no inverno. Não importa, não há regras, etiquetas. Certo é que o chá é a bebida mais consumida no mundo e deveria fazer parte da rotina de todos. Pesquisa de mercado Euromonitor International – Global tea: Consumer trends converge around brewed beverages – mostra que, em 2016, foram tomados 331 bilhões de litros de chá quente e 41 bilhões do gelado. E os benefícios vão desde a hidratação até refresco, passando por indulgência e fonte de energia funcional.
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Luto: as dores da perdaElaborar o luto é fundamental para seguir a 'nova' vidaTodo mundo merece uma segunda chance?Saúde da peleTatuagem na terceira idade: memórias marcadas na peleLaser genital: aliado na recuperação da autoestima femininaCurso sobre práticas lunares para quem busca sucesso e recomeçosSíndrome de Burnout: a exaustão que vai além dos limitesPor isso, muitas mulheres apostam no chá como a primeira opção para tratar de alguns sintomas de desconforto. “É o caso dos chás de erva-doce, lavanda e erva-cidreira, que funcionam como calmante, diminuindo a ansiedade que costuma aparecer em certos momentos da gravidez. Já o chá de capim-limão é indicado para quem está passando pela etapa dos enjoos e inflamações na gestação”. Mas Ana Paula alerta: “Antes de consumir é importante conversar com o obstetra, já que alguns chás vão na contramão desses benefícios, e podem levar até a um aborto”.
Ana Paula lembra da bebida como aliada no período menstrual. Os chás de camomila, gengibre e orégano são reconhecidos por ajudar a diminuir as cólicas menstruais. O de camomila também ajuda a acalmar, o que faz reduzir a irritação típica da TPM. Já se o problema forem os inchaços, a receita é apostar no chá de carqueja com gengibre. Com o maracujá, o gengibre ganha outro papel: o chá com essa mistura é excelente para a melhora da flora intestinal. E para aquelas que atravessam o período da menopausa, os chás também são uma alternativa: “Para fazer a reposição hormonal, a escolha deve ser pelo pé-de-leão, sálvia, agripalma ou árvore-da-castidade. Já para amenizar os sintomas, as opções são o chá verde, ginseng, camomila, erva-de-são-cristóvão e amora”, recomenda.
As mulheres têm muito prisão de ventre, intestino preso. O chá é uma saída: “Os chás com propriedades digestivas e anti-inflamatórias são bem importantes para mulheres que têm problemas estomacais e intestinais. São boas opções para quem sofre desse mal o consumo de boldo, uma vez que a boldina melhora a ação da bile que é liberada no intestino, auxiliando na digestão de gorduras; a melissa, que tem propriedades antiespasmódicas; e a erva-doce, que já é usada popularmente para gastrite, inchaço abdominal, má digestão, gases e dor de cabeça devido às propriedades analgésicas, anti-inflamatórias e antidispépticas.”
Por outro lado, Ana Paula destaca que os chás, em tempos de pandemia, são ideais para controle da ansiedade, pressão, estresse, sobrecarga de trabalho que afetam muito (não só) as mulheres: “Certamente, os chás com propriedades calmantes como melissa, camomila, boldo e sálvia são de grande auxílio para afastar a ansiedade e tentar relaxar em um momento tão exigente e delicado.” A perda do sono, dificuldade em dormir, é outra consequência do medo de ter a COVID-19. Os chás são uma forma natural e simples no auxílio contra a insônia.
CIÊNCIA E RITUAL
Ana Paula Baptista enfatiza que a ciência há séculos pesquisa sobre os benefícios do chá. “Estudo recente apresentado na Fiocruz mostra que a medicina tradicional chinesa não só se apoia no uso da bebida como também recorre a plantas medicinais da flora brasileira. Especificamente sobre a saúde da mulher, pesquisa feita há 10 anos na Universidade de São Paulo (USP) indica o quanto o chá verde é potencialmente benéfico para a perda de peso e diminuição da gordura corporal, sem prejuízo da massa muscular. Dividida em grupos, o resultado foi a perda de gordura corporal entre as mulheres que fizeram uso do chá verde durante dois meses de acompanhamento. Essa é apenas uma das várias provas que atestam a eficácia dos chás para a saúde.”
A psicóloga destaca que, como compostos naturais, os benefícios dos chás podem ser melhor aproveitados quando há um ritual os acompanhando. “Um exemplo vem dos chás que por si só já auxiliam em uma melhor noite de sono, mas são potencializados quando somados a rituais como banho relaxante, meditação, alguns minutos de leitura e um ambiente com luz reduzida, sempre livre de eletrônicos e estimulantes. Para quem quer energia para o dia, recomenda-se o consumo de ervas como o mate, o chá preto, o chá verde, o hibisco e a pimenta-caiena. São bons aliados de alguma atividade esportiva, proporcionam um consumo calórico mais elevado, aceleração do metabolismo e, consequentemente, mais bem-estar.”
Com tantos benefícios e opções, a dúvida é sempre qual a forma de chá reserva as propriedades intactas. Ana Paula garante que tanto os chás industrializados quanto os in natura podem conservar a integralidade de suas propriedades. No caso do primeiro, é preciso estar atento ao rótulo e garantir que as ervas tenham sido colhidas e trituradas corretamente, a fim de se evitar a perda de vitaminas e polifenóis, bem como garantir que o mix esteja livre de corantes artificiais.
“A verdade é que, na maioria das vezes, chás em sachês estimulam a pessoa a tomá-lo, dada a praticidade de seu preparo. Nem sempre as ervas vendidas a granel são cuidadosamente escolhidas e também podem não corresponder 100% ao que está sendo vendido, de forma que as empresas especializadas em chás que reconhecidamente investem na seleção e pré-preparo das folhas, flores e talos se destacam por extrair todo o potencial que a erva pode ter.”
Ana Paula enfatiza que no momento da escolha de um chá é importante observar as funcionalidades das ervas escolhidas e sua procedência. “Sendo de boa qualidade, os riscos para quem tem boa saúde são quase sempre mínimos. No entanto, apesar de se tratar de um produto natural, existem duas questões principais que podem trazer problemas: produtos tratados sem a devida segurança e qualidade ou o consumo de determinadas ervas por pessoas com algum tipo de restrição. Por esse motivo, é sempre importante consultar um médico, preferencialmente especialista, caso tenha alguma condição preexistente.”
Outro ponto a ser observado é a quantidade de chá consumida durante um dia: o speaker da Soulchá Lucas Penchel, que é mestre em medicina nutricional, orienta que, apesar dos inúmeros benefícios, o chá não substitui por completo a água, bem como não é aconselhado o consumo superior a 800ml dos blends por dia.
Palavra de especialista
Renata Gandra, professora do curso de nutrição da Estácio Belo Horizonte
Propriedades benéficas
“As mulheres sofrem diversas alterações hormonais ao longo da vida, o que resulta em alterações fisiológicas e comportamentais. Uma alimentação saudável, rica em frutas, hortaliças e grãos integrais pode contribuir para a prevenção e/ou melhoria de sintomas que surgem em decorrência dessas alterações. Um aliado muito importante, e muitas vezes pouco valorizado pelos brasileiros, é o consumo regular de chás. Os chás obtidos da planta Camellia sinensis (chá verde, chá branco, chá preto, oolong) são os mais estudados e consumidos no mundo. Os compostos fenólicos presentes nesses chás, em especial as catequinas, juntamente com a cafeína e a L-theanina, resultam numa combinação de compostos com diversas propriedades benéficas à saúde. Apresentam intensa atividade antioxidante e anti-inflamatória, auxiliando na prevenção de diversos tipos de câncer, distúrbios neurodegenerativos (Alzheimer, Parkinson), doenças cardiovasculares, prevenção da osteoporose, além de reduzir o estresse e o cansaço. Além dos chás da Camellia sinensis, outras plantas podem ser utilizadas para preparar infusões e oferecer benefícios quando o assunto é saúde da mulher, como a erva-mate, que combate o estresse e o cansaço, a camomila, capim-cidreira e erva-cidreira e melissa, auxiliando na melhoria do sono e no tratamento da ansiedade.”