Constantes incertezas, aumento de mortes e na quantidade de casos da COVID-19 têm gerado uma reação comum nas redes socias: tristeza e medo. Postagens sobre relatos de mortes pela doença elevaram essas sensações nos internautas, de acordo com levantamento feito pela Fundação Dom Cabral (FDC) e divulgado nesta quarta-feira (14/4).
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Porém, lidar com a morte não é fácil, principalmente na cultura ocidental. E esse assunto, que já é um tabu, virou ponto principal em várias discussões. Diariamente, milhares de pessoas morrem pela COVID-19 no mundo e o Brasil vem batendo recordes, chegando a 3 mil óbitos registrados em 24 horas.
Momentos como velório e enterro são considerados cruciais para o luto. E eles estão muito limitados em tempos de COVID-19. Isso levou a uma mudança de comportamento, segundo a psicóloga especialista em luto Luciana Carvalho Rocha: "Não pode haver missa ou enterro. Isso torna o luto mais difícil de ser elaborado, o que a pessoa tem para expor são as redes sociais. Para o enlutado, é saudável se expressar através das redes. É uma forma de homenagear o ente querido”.
Outro lado é o de quem lê as postagens. A proximidade dos casos de COVID-19, incerteza do futuro e o medo de se contaminar geram reações normais para o cenário.
“A pessoa que vê isso, é esperado que sinta medo e tristeza. É natural estarmos todos um pouco tristes com a situação. O medo existe a partir do momento que a morte se tornou muito próxima de todos, ainda mais na nossa cultura ocidental”, comenta a psicóloga.
“A pessoa que vê isso, é esperado que sinta medo e tristeza. É natural estarmos todos um pouco tristes com a situação. O medo existe a partir do momento que a morte se tornou muito próxima de todos, ainda mais na nossa cultura ocidental”, comenta a psicóloga.
Os comunicados nas redes sociais
Com o crescente número de mortes e as redes socias se tornando meio de homenagens, usuários começaram a enxergá-las como ‘obituários’.
Apesar da possível proximidade entre o usuário que vê a postagem e quem publicou a homenagem, nem sempre há uma relação. De qualquer forma, é comum sentir empatia, compaixão, tristeza e medo.
Luciana Carvalho Rocha alerta, contudo, para o comportamento não se tornar excessivo, podendo ser transformado em uma síndrome.
“Até um certo ponto, sentir medo e tristeza faz parte, é humano ter compaixão. O que não pode acontecer é a pessoa viver todo o tempo voltado para olhar a situação da pandemia nas redes. Aí, ela passa a ter um comportamento, de certa forma, patológico. Pode desenvolver uma síndrome do pânico ou depressão”, afirma.
Luciana Carvalho Rocha alerta, contudo, para o comportamento não se tornar excessivo, podendo ser transformado em uma síndrome.
“Até um certo ponto, sentir medo e tristeza faz parte, é humano ter compaixão. O que não pode acontecer é a pessoa viver todo o tempo voltado para olhar a situação da pandemia nas redes. Aí, ela passa a ter um comportamento, de certa forma, patológico. Pode desenvolver uma síndrome do pânico ou depressão”, afirma.
Para lidar com as sensações despertadas por um post sobre a perda de um ente querido para o coronavírus, Luciana deixa algumas orientações
“Sugiro que essas coisas que estão deixando a pessoa com medo e tristeza sirvam como incentivo para que tome os devidos cuidados, evitando que ela ou a família se contamine. O usuário não precisa, também, só focar a questão da doença e das mortes. É necessário impor limites, não se encher de informações. Não é ser negacionista, mas se afogar nas informações também não é saudável”, comenta.
“Sugiro que essas coisas que estão deixando a pessoa com medo e tristeza sirvam como incentivo para que tome os devidos cuidados, evitando que ela ou a família se contamine. O usuário não precisa, também, só focar a questão da doença e das mortes. É necessário impor limites, não se encher de informações. Não é ser negacionista, mas se afogar nas informações também não é saudável”, comenta.
“Em segundo lugar, parar de compartilhar coisas sem saber, passando para frente tudo que vê. É necessário buscar informações em meios confiáveis. Além disso, buscar meios de distração em casa, como ginástica, meditação, vivendo um dia de cada vez. Pensar muito pode gerar uma ansiedade grande”, destaca Luciana.
O pensamento no presente é uma forma de enfrentamento, diz a psicóloga: “Hoje eu vou viver bem, amanhã você pensa da mesma forma. E se um dia ficar triste, fique. Mas não foque somente nas coisas ruins. Se a pessoa perceber que está em um nível difícil, sem ânimo, é preciso buscar ajuda de um profissional, psicólogo ou psiquiatra”, completa.
“Na própria rede, há muitos perfis bons. Se soubermos usar, elas são excelentes, tem vários canais de informações boas e positivas. Precisamos de apoio, não dá para andar sozinho. Seja de um filho, mãe, amigo, não podemos aglomerar, mas dá para conversar em chamadas de vídeo, por exemplo. Temos que buscar essas coisas, porque se ficarmos dentro da bolha, o sofrimento é maior”, finaliza.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Kelen Cristina