O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), vem travando uma luta contra o câncer desde o fim de 2019, quando a doença foi diagnosticada. Foi constatado um câncer na cárdia, região localizada na transição entre o estômago e o esôfago, chamado adenocarcinoma.
Além desse tumor, o prefeito apresentou também pequenas lesões no fígado e nos gânglios linfáticos, devido ao processo de metástase, quando as células cancerosas viajam através da corrente sanguínea ou dos vasos linfáticos para outras áreas do corpo, fora da região de origem do câncer.
O tratamento inicial proposto foi baseado em quimioterapia e os médicos também recorreram, depois, à imunoterapia. Com o avanço metastático, que agora acomete o fígado e o sistema linfático, recentemente novos focos do tumor foram encontrados nos ossos.
Nesta segunda-feira, o quadro clínico de Bruno Covas teve complicações e ele precisou ser internado em unidade de terapia intensiva (UTI) e entubado, depois da ocorrência de um sangramento no estômago, detectado em um exame de endoscopia. Ele já deixou a UTI, mas segue em observação. Bruno Covas está licenciado do cargo na prefeitura desde o início da semana.
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Bruno Covas sai da UTI, mas permanece em observaçãoBruno Covas, prefeito de São Paulo, sai da intubação, mas segue na UTIBruno Covas vai para a UTI e é intubado após sangramento no estômagoEvitar a irritação do intestino é fundamental para quem está emagrecendoEntenda o câncer que acometeu Bruno Covas, morto aos 41 anosTumores renais: procedimentos não invasivos têm menor risco de complicaçõesO nome adenocarcinoma significa que o tumor vem de glândulas que estão localizadas nos pulmões, nos intestinos, no estômago ou no pâncreas, por exemplo. Para a detecção da doença, são realizados exames de laboratório, endoscopia e biópsia, neste útlimo procedimento a retirada de um fragmento da região afetada pelo tumor. Os exames são sempre direcionados a um patologista, que responde pelo diagnóstico final.
Como a doença é mais comum em pessoas em idade avançada, Carolina Vieira explica que, quando aparece nos mais jovens, é também indicada uma investigação acerca de causas genéticas.
"Na faixa etária de Bruno Covas, a doença não é tão comum. Provavelmente ele fez essa investigação de hereditariedade do câncer. O problema é que foi diagnosticado na fase 4, quando já havia metástase", diz a médica, lembrando que a detecção do problema no caso de Bruno Covas aconteceu por acaso, quando foi tratar uma trombose.
Os sintomas podem ser confundidos com refluxo, azia, indigestão, perda de peso, saciedade precoce e até hemorragia digestiva. Em estágio inicial, o principal tratamento é o cirúrgico, para extração do tumor, que pode ou não ser complementado com quimioterapia, e é uma medida curativa. Quando a doença é localmente avançada, com o tumor maior, porém sem metástase, são geralmente feitas combinações de tratamentos quimioterápicos mais intensivos e procedimento cirúrgico.
"Quando já existe a metástase, o tratamento se baseia em quimioterapia e/ou imunoterapia, com intuito paliativo, muito mais para minimizar sintomas e prolongar a sobrevida do paciente", explicita Carolina Vieira.
O sangramento que levou o prefeito à internação de agora aconteceu devido a uma úlcera em cima do tumor original, explica a médica. A endoscopia, propriamente, além de ter servido ao diagnóstico, tem o objetivo de tentar cessar a hemorragia e Bruno foi logo depois levado à UTI, a fim de sua estabilização clínica. Somente após essa estabilização serão avaliados os próximos passos no tratamento oncológico.
"O câncer do Bruno tem um comportamento biológico agressivo, e sua piora está ligada a esse fato. Apesar do tratamento moderno, a doença já evoluía com sinais de piora, o que é agravado por ser uma região muito vascularizada, o que aumenta o risco de sangramento", esclarece Carolina.
O tipo de câncer semelhante ao do prefeito muitas vezes é assintomático e acomete, em grande parte, idosos. Como é um problema silencioso, muitas vezes é descoberto quando exames são realizados por motivos diferentes ou em avaliações médicas ligadas a refluxo gástrico, esofagite ou a sintomas provocados por metástase.
O tratamento varia conforme a evolução da doença, o estágio em que se encontra. Quando o câncer já está disseminado pelo corpo, é sistêmico, e o enfrentamento não se dirige apenas aos pontos visíveis, mas ao organismo como um todo. Cirurgia é recomendada em momentos iniciais da doença.
Geralmente, a linha terapêutica parte de associações de substâncias quimioterápicas, radioterapia, anticorpos monoclonais e combinações de quimioterapia com imunoterapia.
Cada doença é única e de comportamento biológico distinto. O êxito no combate ao desequilíbrio está ligado à fase da doença, de quanto o indivíduo responde ao tratamento e acesso do paciente aos melhores tratamentos.
A predisposição genética que pode gerar o aparecimento desse tumor é observada em apenas 10% dos casos. O motivo central para o desenvolvimento do câncer no aparelho digestivo parece ser uma mutação celular do próprio corpo associada a fatores de risco, como tabagismo, refluxo, obesidade e a presença da bactéria H. pylori, causadora de úlceras e gastrite. O tipo do tumor que acomete Bruno Covas não está entre os cinco com mais ocorrências no Brasil, e também não é raro.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), tumores no sistema digestivo são recorrentes entre os brasileiros. Mais de 11 mil pessoas são diagnosticadas no país com câncer de esôfago todos os anos e 8,7 mil delas morrem em decorrência do distúrbio. Para o câncer de estômago, são 21 mil casos e 15 mil mortes anualmente.
"Às vezes, os tumores metastáticos são diagnosticados durante os exames realizados para o diagnóstico do câncer primário, como aconteceu no caso do prefeito. Outras vezes, as metástases são encontradas após o término do tratamento. Tipos de câncer diferentes tendem a se espalhar para locais diferentes, mas os locais mais comuns incluem os ossos, fígado (no caso descrito), cérebro e pulmões", diz a oncologista.