Nas pontas das agulhas, a cada mover de mãos de uma artesã, um novo ponto ganha forma. Aos poucos, então, aquele crochê se transforma em algo mais: uma manta, um casaco, uma touca. E ainda sim, mesmo depois de pronto, esse emaranhado de linhas se torna mais. Mais que roupa, acessório ou cobertor para se esconder do frio: um aconchego feito a mão que é doado a outrem, de forma a aquecê-lo de amor.
É assim com o Agulhas de Belô, grupo de artesãs mineiras que carregam com orgulho em seu nome o carinho pela cidade em que atuam e doam amor e, também, a referência ao seu maior bem: a agulha, instrumento de trabalho e companheira de desafios.
“Somos um grupo de artesanato solidário. Somos um coletivo, um grupo de voluntárias. E, desde 2018, fazemos crochê e tricô com o objetivo de produzir mantas e peças de lã para aquecer pessoas menos favorecidas”, relata a professora Ângela Teixeira Santos, de 50 anos, uma das coordenadoras do grupo, que surgiu em uma roda de conversa no Parque Municipal da capital mineira.
Desde então, solidariedade e amor têm sido palavras de ordem no grupo. “Ao longo da nossa trajetória, já ajudamos asilos, hospitais e abrigos infantis. Mais recentemente, estamos em processo de produção para a entrega de mais mantas para os pacientes da hemodiálise da Santa Casa. Já realizamos a entrega de 180 mantas e agora estamos a todo vapor para doar mais 165. Porém, precisamos de ajuda.”
No grupo, todos são voluntários, algumas somente doam os materiais e outras crochetam, enquanto ainda tem um grupo responsável pela entrega. “No entanto, não temos parceria fixa. É uma luta diária. Aos poucos, vamos juntando ‘daqui e dali’ e comprando lãs em promoção. Mas, claro, toda ajuda é sempre bem-vinda e precisamos muito de doações de novelos de lãs acrílicas para não causar alergia.”
Independentemente das dificuldades, ajudar é um ato de amor, afirma a coordenadora do Agulhas de Belô. Uma ajuda mútua. “O que vai em cada manta, cada casaquinho, cada meia, cada cachecol é muito mais que agulhas e linhas. É o desejo de aquecer um coração e de mostrar que todos somos importantes. O sorriso no rosto de quem recebe aquece o coração de quem doa.”
É também uma forma de esquecer as preocupações, conforme a empresária Meire Luiza França, de 53. “Amo fazer parte desse grupo. A cada desafio proposto, fico com o coração a mil. Distraio e me sinto útil. Há mais de um ano estava procurando algo em que pudesse ajudar sem sair de casa e com que me identificasse. Achei o grupo por acaso no Instagram. E, hoje, me sinto feliz em poder ajudar. No fim das contas, quem me ajuda é o projeto. São momentos prazerosos.”
Para a professora Mara Rocha Hissa, de 50, também colaboradora do projeto, a ajuda ao próximo é quase um sinônimo de ajuda a si mesmo. “Cada peça produzida leva consigo um carinho imenso, o cuidado de quem, mesmo tendo diversas outras tarefas a serem feitas, dedica parte do seu tempo para ajudar alguém que precisa. Para mim, poder distribuir carinho e cuidado, principalmente no momento difícil em que vivemos em razão da pandemia, é um privilégio enorme. O amor que colocamos nas peças é retribuído imensamente. Não precisamos estar presentes, in loco, para que possamos sentir a alegria das pessoas que são presenteadas”, diz.
PANDEMIA
Se a presença in loco foi afetada pela pandemia de COVID-19, muitos outros momentos do grupo também foram. Porém, nada que abalasse ou impusesse barreiras para que a ajuda chegasse até os que mais precisam. Afinal, de acordo com Ângela Santos, a missão é “ajudar não só neste momento, mas principalmente neste momento, no qual tudo parece fora de lugar, temos que nos afastar e sentimos mais falta de calor humano”.
Os principais impactos foram nos encontros mensais, que não puderam mais ocorrer. A troca de experiência, o bate-papo e a alegria de estarem crochetando precisou se resumir apenas à tela do celular. Além disso, as entregas, antes feitas pessoalmente e com o aconchego em completude – lanches e conversas com aquele que recebia a ajuda –, agora, precisaram se assemelhar aos aplicativos de entrega de comidas e pedidos via internet, por exemplo: “Entregamos na porta do local”.
Por outro lado, Ângela Santos conta que mais pessoas têm procurado a oportunidade de participar do projeto. “Realizamos desafios no projeto para confeccionar mantas, meias, casaquinhos e toucas, e tem sido um sucesso, pois temos tido participação das artesãs e estamos conseguindo concluir os desafios com sucesso e muito trabalho voluntário”, revela a artesã e dona de casa Dayse Menegati, de 49.
MAIS AMOR
Segundo a participante do projeto e técnica em secretariado Luciana Setragni, de 45, elas sempre carregam em mente o lema que criaram: “Juntas em cada pontinho. Afinal, fazer o bem faz bem, e este projeto é sinônimo de amor. Ajudar o próximo participando desse projeto nos faz cada dia mais felizes ao sabermos que fazemos e construímos o bem. E de fato estamos sempre juntas, ensinamos uma à outra. Há quem já chegou ao projeto sem saber crochetar e hoje nos ajuda a confeccionar lindas mantas.”
A administradora Soraia Maria Coelho Leão, de 56, que faz parte do grupo desde o início, se diz muito feliz em fazer parte desse “grupo de amor”. “Além de muito agradável, funciona como uma terapia. Sinto um bem-estar muito grande, pois acredito que a maior beneficiária sou eu”, relata.
COMO AJUDAR?
As doações podem ser de matéria-prima ou produções prontas*
- Para fazer as mantas, gorros, meias e casacos, pode-se utilizar a técnica que quiser – crochê, tricô e tear. O importante é seguir as medidas sugeridas para as mantas: 1m x 1m
- A manta pode será feita inteiriça ou quadradinhos de 25cm x 25cm, que serão montados para a formação de uma manta
- A doação de lãs acrílica de TEX 500 também podem ser feitas. Ela é usada porque esquenta bem, não é alérgica e é leve
- Atenção! As entregas podem ser feitas em alguns pontos de apoio do Projeto Agulhas de Belô. Confira:
- Boneca de Linha (Instagram: @bonecadelinha)
- Silvia Assunção (ateliê e armarinho) (Instagram: @bysylviassuncao)
- Variete Comercial (Instagram: @varietecomercial)
- Espaço Bellis Fios (Instagram: @espacobellisfios)
- Para saber mais, acesse o Instagram oficial do Agulhas de Belô: agulhas_de_belo
*Fonte: Agulhas de Belô
*Estagiária sob supervisão da editora Teresa Caram
*Estagiária sob supervisão da editora Teresa Caram