Pense no último email de trabalho que você enviou. Suas frases terminaram com pontos finais ou pontos de exclamação? Ou você abandonou completamente a pontuação? Estava repleto de emojis — ou era um texto simples? E sua resposta foi imediata ou você teve que se desculpar pelo tempo que demorou para responder?
Leia Mais
Como o jeito de dirigir pode revelar sinais de AlzheimerPor que fluidez sexual é mais comum em mulheres do que em homensPor que sentir gratidão faz bem à saúdeConvergência linguística: fenômeno que te faz imitar sotaques sem perceberPor que decidir parar de falar por 17 anosAs vantagens de se incluir a maternidade no currículoComo o inconsciente controla nossas açõesDispositivo acaba com o pesadelo de quem tem medo de tomar injeçãoAgora, pense na sua última chamada de vídeo. Você checou seu telefone ou email pelo menos uma vez durante a reunião? Fez uma pausa para ter certeza de que a outra pessoa que estava falando havia terminado? Ou você se pegou interrompendo com frequência as frases dela, por não levar em consideração os pequenos atrasos na conexão?
De acordo com a especialista em liderança Erica Dhawan, todos esses são exemplos da nossa "linguagem corporal digital" — conceito que serve de título para seu novo livro.
Assim como a nossa linguagem corporal física, a linguagem corporal digital diz respeito a pistas sutis que sinalizam coisas como nosso humor ou engajamento e mudam o significado das palavras que dizemos — seja por texto, ao telefone ou em uma videochamada.
Não é preciso dizer que o aumento do trabalho remoto durante a pandemia de covid-19 apenas tornou essa questão mais urgente, embora os psicólogos saibam há muito tempo que a comunicação digital é propícia a mal-entendidos.
Dhawan cita, por exemplo, uma pesquisa de 2005 sobre como as pessoas interpretam o sarcasmo. No geral, cerca de 56% das pessoas identificaram corretamente o sarcasmo escrito em um email — pouco melhor do que o acaso — em comparação com 79% que ouviram as mesmas palavras proferidas em voz alta.
E a própria pesquisa de Dhawan sugere que esses tipos de mal-entendidos podem levar a uma grande perda de produtividade. Em um levantamento recente com 2 mil funcionários e gestores, ela descobriu que 70% relatam uma comunicação digital deficiente como uma barreira frequente para seu trabalho, levando a cerca de quatro horas de tempo perdido por semana. "Isso é 10% de uma semana normal de trabalho", diz ela.
Então, o que pode ser feito?
Dhawan evita oferecer regras rígidas de etiqueta on-line. Em vez disso, é uma questão de tentar garantir que nossa linguagem corporal digital é intencional e apropriada para a situação em questão.
Emoji?!?
Considere primeiro a comunicação escrita, começando pelo uso de emojis e sinais de pontuação, como a exclamação.
Alguns podem olhar com desprezo, mas Dhawan argumenta que os emojis muitas vezes ajudam a esclarecer os significados das palavras, da mesma forma que acenar com a cabeça ou sorrir pessoalmente.
Quer você esteja sinalizando urgência ou entusiasmo com CAIXA ALTA, impaciência e irritação com um "?!?" ou apreciação mútua com um emoji de soquinho, você está ajudando seu texto a transmitir os sentimentos que você teria incorporado pessoalmente.
"Pesquisas mostram que cerca de 60% a 80% da nossa comunicação cara a cara é a linguagem não verbal, como ritmo, pausas, gestos e tom. Todas essas pistas conferem energia e nuance emocional à nossa mensagem", diz ela. "De muitas maneiras, a pontuação e o uso de símbolos em um mundo digital são os novos meios de sinalizar essa emoção."
Portanto, não seja tímido ao adotar essas pistas digitais mais informais, quando apropriado — e esteja ciente de que outras pessoas podem estar esperando por elas.
De modo geral, o uso de pontuação e emojis faz parte de um conjunto maior de pistas que estabelecerão o tom de suas trocas, sejam elas formais ou informais, entusiasmadas ou entediadas.
Outros sinais vão estar presentes na saudação (se você inclui um "olá" amigável no início da mensagem ou simplesmente entra direto no assunto) e na assinatura (um "atenciosamente" emocionalmente distante versus um "Obrigado!" entusiasmado).
Uma fonte comum de ansiedade é quando o tom de alguém muda no meio de uma troca de mensagens. Às vezes, pode ser deliberado — talvez queiramos sinalizar que estamos entrando em um território mais formal — da mesma forma que a voz de alguém muda quando está contando algo sério. Mas, se acontecer sem querer, pode gerar uma ansiedade desnecessária e deve ser evitado.
E se, a partir de uma mudança de tom, você sentir que algo está errado, Dhawan sugere que você pegue o telefone e tire a dúvida diretamente com a pessoa.
Ao trocar mensagens escritas — seja por email ou aplicativos de mensagem — você também deve pensar cuidadosamente sobre o tempo de suas respostas e o que isso pode dizer sobre seu envolvimento com o projeto ou a pessoa em questão.
Você pode não querer responder a uma consulta até que seja capaz de fazer jus a mesma, mas o atraso pode parecer uma falta de interesse — resultando, às vezes, em grande ansiedade. Nestes casos, Dhawan sugere que você envie uma resposta inicial curta e simpática para sinalizar que você vai refletir a respeito no devido tempo.
Por fim, Dhawan acredita que o simples ato de revisar as mensagens para garantir que o significado e o subtexto emocional sejam os mais claros e apropriados possíveis pode economizar tempo e complicações no futuro.
"Quando se trata de se comunicar com cuidado, menos pressa é mais velocidade." É uma medida simples, talvez, mas que frequentemente é esquecida.
Ligações de vídeo
As videochamadas têm seus próprios problemas. Não há uma maneira fácil de contornar isso — na visão de Dhawan, temos que aceitar que elas vão envolver um certo constrangimento. Mas ela tem várias sugestões para melhorar a experiência.
Em chamadas em grupo, as pessoas podem ser solicitadas a levantar a mão antes de falar, por exemplo. Também pode ser útil designar um moderador para a conversa, que pode garantir que as pessoas sigam uma programação e não se distraiam.
Dhawan desaconselha fortemente executar outras tarefas durante essas chamadas ou se permitir distrair por outros dispositivos. "Fica óbvio se você está olhando para o seu telefone enquanto outras pessoas estão tentando fazer contato visual com você", adverte. Você pode pensar que ninguém vai notar, mas isso sinaliza uma falta de engajamento e entusiasmo.
E se você sabe que pode haver uma interrupção — como outra chamada recebida — vale a pena avisar as pessoas com antecedência, diz ela, ou pelo menos colocar uma mensagem na caixa de bate-papo para explicar por que você saiu, apenas para enfatizar seu respeito pelas pessoas que ficaram na reunião.
Confiança e poder
Qualquer que seja o meio de comunicação que você usa, Dhawan argumenta que você deve permanecer consciente de dois fatores — confiança e poder — em todas as suas interações. Essas avaliações vão ser subjetivas, é claro, mas se você sentir que há uma lacuna clara em qualquer uma dessas dimensões, você precisa ser mais cauteloso.
A princípio, é algo que se aplica a pessoas que estão tanto no topo da hierarquia como no início de carreira.
Um estagiário deve ser altamente sensível ao estilo de comunicação da chefia para ter certeza de que não vai escorregar para uma forma inadequadamente informal, mas — igualmente importante — um gestor deve considerar se sua brevidade é simplesmente vista como um sinal de eficiência ou se mostra uma falta geral de interesse pelo bem-estar dos funcionários.
Dois colegas que trabalham juntos com frequência talvez possam se dar ao luxo de ficar mais relaxados com sua linguagem corporal digital — com mensagens mais informais — mas, mesmo assim, você pode se questionar regularmente se realmente está sendo percebido da maneira como pensa.
Em geral, devemos ser especialmente cuidadosos ao expressar nossa apreciação. "No passado, o aperto de mão e o sorriso nos davam esses sinais", diz Dhawan — mas, na comunicação on-line, nossa gratidão é com frequência menos aparente ou pode nem sequer ser expressa.
As medidas para remediar isso podem ser tão simples quanto enviar um email após uma reunião virtual, para deixar claro que você valoriza a opinião de alguém, ou colocar em cópia um colega júnior em um email para o cliente, reconhecendo o papel que ele desempenhou em um projeto.
Não podemos simplesmente presumir que nossos colegas vão saber o quanto os valorizamos.
Como qualquer habilidade, aperfeiçoar sua linguagem corporal digital requer prática — mas alguns momentos de reflexão por dia podem economizar horas de ansiedade e confusão nos dias e semanas pela frente.
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Work Life.
Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!