A infecção pelo coronavírus origina desequilíbrios de diferentes ordens. Mais do que as sequelas físicas, o lado emocional e psicológico também é muito afetado. Alguns estudos internacionais apontam, por exemplo, o aumento da automedicação na hora de dormir durante a pandemia.
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Entre os participantes do estudo, 16% disseram usar pílulas para dormir nos últimos 12 meses e 41% afirmaram tomar esses medicamentos desde o início do lockdown.
"Um achado interessante deste trabalho científico foi constatar que 72% das pessoas que apresentaram queixa de sono eram jovens entre 18 e 34 anos, uma porcentagem ligeiramente menor à dos idosos, que fica em 79%", ressalta Dalva Poyares.
Outro trabalho coordenado na Itália, sob a orientação de pesquisadores da Universidade de Perugia, elencou um grupo de 30 pessoas que vivem com dependência de álcool ou drogas, consideradas mais suscetíveis aos efeitos negativos do isolamento.
A metodologia partiu da análise de fios de cabelo dos participantes. Entre os resultados, a observação de que, após uma queda no consumo de heroína, cocaína e ecstasy, por exemplo, esses níveis voltaram a subir após o confinamento.
Por outro lado, o uso de substâncias que induzem o sono e amenizam a ansiedade, como o álcool e medicamentos sedativos-hipnóticos, cresceu, a um patamar que segue elevado mesmo depois da fase mais severa da quarentena. O estudo concluiu, assim, que, com o lockdown, o grupo mudou o padrão de consumo de drogas e álcool, passando a procurar substâncias mais facilmente encontradas.
De acordo com mais uma pesquisa, agora no Centro Médico Cedars-Sinai, na Califórnia, nos Estados Unidos, as prescrições de medicamentos sedativos-hipnóticos cresceram desde o início da crise sanitária.
A princípio, os pesquisadores observaram um aumento de 0,05 prescrições por 1 mil pacientes entre junho de 2019 e junho a março de 2020. Após um período de estabilização, as prescrições subiram para 0,13 por 1 mil pacientes entre julho e agosto e para 0,21 por 1 mil pacientes no final de setembro.
Curiosamente, enquanto as taxas de prescrição aumentaram, a proporção de novas receitas e a renovação de receitas autorizadas diminuíram.
Os estudiosos entendem que os médicos de atenção básica podem ter prescrito receitas únicas para que os pacientes gerenciassem as crises graves de ansiedade. Para os especialistas, antes de prescrever medicamentos, os profissionais deveriam ter oferecido aos pacientes alternativas não farmacológicas para prevenir o uso de remédios a longo prazo. "Entre essas alternativas estão a terapia cognitivo-comportamental, a meditação e a higiene do sono", indica Dalva Poyares.