Ora uma sensação extrema de felicidade e bem-estar, ora o sentimento de tristeza, desânimo, cansaço mental ou de autoextermínio, ora irritabilidade exacerbada...
Cada momento e quadro há a predominância de um “estado de espírito” específico. Porém, todos eles estão ligados entre si, haja vista serem parte de uma ou várias crises de transtorno de bipolaridade.
Isso porque o paciente costuma ter alternância de humores, indo da euforia – também chamada de mania ou hipomania, a depender da intensidade do quadro – para a depressão. E, para além de tratamentos medicamentosos ou psicoterapias, a alimentação pode ser uma ótima aliada do tratamento da patologia mental.
Isso porque o paciente costuma ter alternância de humores, indo da euforia – também chamada de mania ou hipomania, a depender da intensidade do quadro – para a depressão. E, para além de tratamentos medicamentosos ou psicoterapias, a alimentação pode ser uma ótima aliada do tratamento da patologia mental.
O tratamento do transtorno, do ponto de vista biológico, é feito tradicionalmente com uso de psicofármacos. “Em alguns casos, o tratamento não proporciona melhora da qualidade de vida, para além de evitar as crises, o que já é um efeito bastante significativo. Também há o uso de duas ou mais medicações, o que acarreta efeitos adversos, impactando na qualidade de vida. Além disso, essas medicações atuam em mecanismos específicos do funcionamento cerebral e não atuam sobre processos que estão alterados. Nesse cenário, a dieta com restrição de carboidratos pode ajudar.”
É o que explica o psiquiatra Régis Chachamovich. Isso porque esse tipo de dieta, ainda que restritiva, é capaz de melhorar diferentes aspectos da fisiopatologia do transtorno bipolar. “Em vez de provocar efeitos adversos indesejados – ganho de peso, aumento das chances de desenvolver doenças como diabetes, entre outros –, essa dieta reverte esses processos, aumentando a qualidade de vida em grande parte dos pacientes que a adotam”, comenta.
Carlos Bastian, médico cirurgião do aparelho digestório e diretor da Associação Brasileira Low Carb (ABLC), explica que esse tipo de dieta, mais especificamente a cetogênica ou very low carb – feita com restrição de carboidrato e com alto teor de gordura –, tem sido utilizada há anos para tratar casos de epilepsia e se torna plausível para tratar, também, outras condições psiquiátricas.
“Sabemos que nosso cérebro pode utilizar glicose como fonte primária de energia, mas também pode usar os corpos cetônicos, produto da oxidação das gorduras, que parece ser um combustível mais eficiente para o funcionamento cerebral”, diz.
Segundo o cirurgião, pacientes com transtorno bipolar têm, concomitantemente, síndrome metabólica, obesidade ou diabetes. O que está por trás dessas três doenças? Uma condição chamada resistência à insulina, hormônio secretado pelo pâncreas e que tem como função estimular a captação de glicose pelas células.
Segundo o cirurgião, pacientes com transtorno bipolar têm, concomitantemente, síndrome metabólica, obesidade ou diabetes. O que está por trás dessas três doenças? Uma condição chamada resistência à insulina, hormônio secretado pelo pâncreas e que tem como função estimular a captação de glicose pelas células.
“Quando as células se tornam resistentes à sua ação, a glicose não consegue mais adentrar as células. Antigamente, pensava-se que o cérebro não se tornava resistente à insulina. Mas estudos recentes têm mostrado que essa resistência também ocorre em nível cerebral. Nosso cérebro literalmente começa a ter escassez de energia, pois não consegue mais usar a glicose de maneira adequada. E aí que entram as dietas cetogênicas: oferecendo ao cérebro um combustível alternativo. Em vez do açúcar, oferecemos a gordura”, explica Carlos Bastian.
Assim, conforme Régis Chachamovich, a intervenção alimentar atua em mecanismos em que os remédios disponíveis não conseguem atuar de forma eficaz. Com essa dieta, o funcionamento cerebral tende a tornar-se mais eficaz e algumas condições associadas ao transtorno, como obesidade e diabetes, tendem a melhorar bastante e, eventualmente, serem colocadas em remissão. Ou seja, os pacientes perdem peso e melhoram os níveis de triglicerídeos, pressão arterial e açúcar no sangue. E a melhora psiquiátrica tende a acompanhar a física. Além disso, se consegue eliminar a dose de medicamentos diários.
GRATIDÃO
Foi assim com o advogado Diego Francisco, de 35 anos. Ele conta que a dieta como aliada do transtorno bipolar foi descoberta por ele por acaso e os resultados foram extraordinários. Segundo ele, em janeiro deste ano, a psiquiatra que o acompanhava disse que ele precisava emagrecer de qualquer maneiou a doença certamente iria piorar.
Foi aí que a alimentação o salvou. “Eu já não estava em boa situação: falta de concentração, foco e retenção de fatos recentes. Como precisava perder muito peso, cerca de 35 quilos adquiridos em um ano, comecei uma dieta very low carb. Após uma semana, me tornei outra pessoa.”
Foi aí que a alimentação o salvou. “Eu já não estava em boa situação: falta de concentração, foco e retenção de fatos recentes. Como precisava perder muito peso, cerca de 35 quilos adquiridos em um ano, comecei uma dieta very low carb. Após uma semana, me tornei outra pessoa.”
“Ganhei energia, foco, concentração e melhora na memória recente. Fiquei, primeiramente, com muito medo de regredir no meu tratamento. Fui buscar informações e o psiquiatra que me trata atualmente me apresentou uma explicação para tudo o que ocorria e me mostrou uma opção de tratamento. Ele me explicou de forma simples, mas não simplória, o que era a abordagem de redução dos carboidratos para tratar o meu transtorno mental. Hoje, estou há quatro meses nesta abordagem, com disposição física e mental e muito feliz de novamente ser um cidadão produtivo.”
Além disso, Diego destaca que, hoje, está com 26 quilos a menos somente com a abordagem da dieta. Ele destaca que a mudança de vida foi radical e feliz.
CETOGÊNICA
A dieta cetogênica consiste na restrição de carboidratos – menos de 50g por dia, às vezes até menos de 30g por dia – e com alto teor de gorduras – pelo menos 70% das calorias são advindas de gorduras. “O princípio é fazer com que o corpo passe a utilizar gordura e corpos cetônicos como fonte primária de energia. Portanto, pães, massas, açucares, farinhas e carboidratos refinados, como arroz, batata e outros vegetais com alto teor de amidos e várias frutas, são proibidos nesse tipo de dieta.”
“Muitos pacientes com transtorno bipolar são polimedicados – usam vários medicamentos. Assim, não é incomum ter que ajustar doses ou mesmo tirar medicamentos. Dessa forma, o aconselhamento médico é fundamental. Nós recomendamos um acompanhamento multidisciplinar, que irá ajudar o paciente na adesão a esse novo estilo de vida. Aliás, é assim que o paciente tem que encarar: não como uma dieta, mas como um novo estilo de vida.”
Régis Chachamovich pondera que há contraindicações do uso da dieta, e são poucas. “Em geral, alterações raras do metabolismo que são detectadas na infância. É de extrema importância que seja feita avaliação por psiquiatra com experiência em dieta cetogênica para avaliar a indicação e a segurança da implementação desta estratégia, pois há fatores que devem ser avaliados, como ajuste de medicamentos, adaptação, entre outros. De forma geral, é uma intervenção bastante segura”, afirma.
ABORDAGEM EM VOGA...
A abordagem nutricional como tratamento psiquiátrico de quadros de transtorno bipolar é relativamente nova e, portanto, pede cautela, apesar de promissora e segura. “Não existem até o momento ensaios clínicos randomizados que suportem essa conduta. Tudo ainda está em fase experimental. Mas existem diversos relatos anedóticos de pacientes que melhoram com esse método. E ele parece trazer benefícios para pacientes com depressão, ansiedade e transtorno bipolar. Para condições neurológicas, como Alzheimer, Parkinson e epilepsia, as evidências a favor dessa abordagem são mais robustas”, afirma Carlos Bastian, médico cirurgião do aparelho digestório e diretor da Associação Brasileira Low Carb (ABLC).
*Estagiária sob supervisão da editora Teresa Caram
*Estagiária sob supervisão da editora Teresa Caram