No Brasil, até o momento, não há informações robustas que mostrem oficialmente o número de sequelados pela COVID-19. Alguns estudos, como publicado na revista científica Lancet, no entanto, já apontam que os efeitos negativos da infecção podem ser sentidos ainda um ano depois do período inicial da doença, o que, no caso dessa pesquisa, aconteceu com metade dos pacientes. As condições físicas mais comuns são cansaço e fadiga muscular, sendo que uma em cada três pessoas, ouvidas no levantamento, também manifesta dificuldade para respirar.
São incapacidades temporárias – pelo menos é o que se espera. Mas o início precoce da reabilitação é crucial para evitar a evolução para quadros mais graves. A recuperação completa é proporcional à rapidez no início das terapias, sempre com apoio de saúde multidisciplinar para um trabalho coordenado, ainda que a necessidade pelo tipo de tratamento seja variável conforme cada indivíduo.
Além dos serviços nos hospitais, como de praxe, no Brasil, estados e municípios também têm criado ambulatórios específicos para a reabilitação pós-COVID, mas a capacidade do Sistema Único de Saúde (SUS) nesse sentido ainda não supre a demanda, gerando demora no início dos tratamentos recomendados, como alertam os médicos. Os programas de recuperação, em essência, também buscam minimizar a taxa de reinternação, que está em aproximadamente 20% em até seis meses.
RISCOS AUMENTADOS
Segundo estudo recente dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), a chance de miocardite (inflamação do músculo cardíaco) é 16 vezes maior entre infectados pelo coronavírus, se comparados a quem não foi contaminado. A doença aumenta ainda os riscos de infarto e acidente vascular cerebral (AVC). Outros dados que reforçam a importância dos cuidados posteriores à infecção.
Em São Paulo, está a coordenação central de um programa de reabilitação importante, realizado a pedido do Ministério da Saúde ao Hospital Sírio-Libanês, por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi-SUS). A instituição está a cargo do treinamento de hospitais públicos pelo país nesse sentido. Do início do segundo ciclo para cá, que começou em janeiro e continua pelo menos até o fim de 2023, houve melhora de 26 funcionalidades dos pacientes que tinham limitações causadas pela COVID, como destaca a coordenadora do projeto, a médica Amanda Santos Pereira.
Com o envolvimento de enfermeiros (entre eles os especializados em integridade cutânea), nutricionistas, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, médicos infectologistas e intensivistas, especialistas em gestão hospitalar, além de assistentes sociais que acompanham o paciente no pós-alta, o trabalho já está presente em cinco regiões do país: em Belém, Cuiabá, Porto Alegre, João Pessoa e Rio de Janeiro. Desde o início até agora, cerca de 500 a 600 pessoas foram atendidas. "A fadiga é a principal queixa pós-COVID. Depois vem a cefaleia, a perda de atenção, a perda do olfato, a queda do cabelo", descreve Amanda.
A médica explica que o impacto que a doença gera na vida, como um todo, é mensurado conforme os parâmetros do chamado Índice de Barthel. Em uma escala crescente de 1 a 5, sendo o primeiro estágio o pior, a classificação do paciente assim é observada: dependência total, dependência severa, dependência moderada, dependência ligeira e independência total. "Avaliamos as capacidades da pessoa em realizar sozinha algumas atividades, como se alimentar, manter a higiene pessoal, usar o banheiro, tomar banho, controlar urina e fezes, vestir-se, subir e descer escada, andar e se transferir da cama e da cadeira", explicita a profissional.
Para toda reabilitação, Amanda esclarece que a melhora esperada é de até 30%, aproximadamente, dentro de um índice total que vai de zero a 50. Do início ao fim da reabilitação, a melhora de 26% é a medida para 35 dias-projeto, e agora a medição será a partir de um ciclo de 4 meses. É principalmente observado se o paciente consegue voltar para casa em segurança.
Cuidado completo
Entenda como atuam os especialistas de cada área da saúde na reabilitação de pacientes que venceram a COVID-19
» Fisiatria - Especialidade médica indicada quando há limitações físicas, alterações no desempenho das atividades do cotidiano ou dores crônicas, sejam de origem neurológica, oncológica, cardiopulmonar ou musculoesquelética. O fisiatra atua no diagnóstico e prevenção de incapacidades, orientando o processo de reabilitação do paciente.
» Fisioterapia - Atua com reabilitação respiratória, motora, neurológica e uroginecológica, por meio de exercícios terapêuticos (cinesioterapia) e uso de equipamentos que ajudam a melhorar a mobilidade, aliviar a dor e prevenir ou amenizar as disfunções físicas de pacientes que evoluíram com alguma sequela de uma doença ou trauma. Entre os tratamentos, eletroterapia, termoterapia, fototerapia e hidroterapia.
» Terapia ocupacional (TO) - O trabalho do terapeuta ocupacional visa treinar movimentos e situações do dia a dia do paciente, sobretudo estimulando seu envolvimento com atividades que lhe dão prazer, para assim melhorar o desempenho funcional e favorecer o máximo de independência pessoal e qualidade de vida.
» Fonoaudiologia - O profissional realiza tratamentos que auxiliam no desenvolvimento ou na recuperação da comunicação, com atividades que estimulam a voz, a audição e a linguagem oral e escrita. Além disso, o fonoaudiólogo é responsável pela reabilitação de disfunções da mastigação, deglutição e respiração, que podem ocorrer em pacientes que tiveram acidente vascular cerebral (AVC), tumor cerebral, quadros de demência e doenças pulmonares crônicas, entre outras.
»Treinamento físico - O educador físico atua na avaliação e desenvolvimento de programas de exercícios físicos adaptados para auxiliar o paciente em sua recuperação e melhora da força, flexibilidade, mobilidade, capacidade cardiorrespiratória e consciência corporal.
Fonte: Rede de Hospitais São Camilo