Quando se fala da nacionalidade de espécies, é comum se remeter aos seres humanos. Mas os animais, a exemplo dos cães, também podem ser nativos de um país específico. Segundo a veterinária comportamental Rebecca Terra, as raças são a padronização das características desejadas de determinados animais.
Dessa forma, dizer que uma raça é brasileira significa que ela foi criada aqui. "Ou seja, uma determinada população cruzou animais com características desejadas e, ao atingir animais 'ideais', os cruzou entre si para perpetuar indivíduos com tais fenótipos. É importante ressaltar que, mesmo as raças brasileiras tendo sido formadas aqui, elas são descendentes de raças estrangeiras", explica.
Dessa forma, dizer que uma raça é brasileira significa que ela foi criada aqui. "Ou seja, uma determinada população cruzou animais com características desejadas e, ao atingir animais 'ideais', os cruzou entre si para perpetuar indivíduos com tais fenótipos. É importante ressaltar que, mesmo as raças brasileiras tendo sido formadas aqui, elas são descendentes de raças estrangeiras", explica.
A veterinária Lara Halterbeck, especializada em neurologia canina, da SOS Animal, conta que, apesar de o Brasil ter uma das faunas mais abundantes do mundo, não é uma referência quando se trata de raças caninas.
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"O Brasil dispõe de muitas espécies de animais, sendo grande parte delas silvestres nativos da Mata Atlântica, do cerrado e da Amazônia. Mas as raças brasileiras são resultado de cruzamentos entre cães oriundos do Brasil e algumas raças que foram inseridas de fora, como é o caso da fila brasileiro, resultado do cruzamento de cães nativos e algumas raças introduzidas pelos colonizadores portugueses."
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Além disso, ela aponta que há uma preferência do mercado por animais de pequeno porte, assim como uma falta de interesse pelas características das raças. "Um fator preponderante que faz com que essas raças caiam no esquecimento é a demanda do mercado para cães de companhia cada vez menores. Outra questão interessante, no caso dos cães de grande porte, é a aceitação de determinadas raças pela população sem um estudo sobre a adaptação do animal ao clima brasileiro e à finalidade dele na família."
Fila brasileiro
A veterinária Rebecca Terra aponta as principais características físicas do fila: forte, rústico, destemido, pele escura (resistente ao sol), orelhas caídas, grande quantidade de pele na face com cores variadas. "São impetuosos e, ao mesmo tempo, afetivos. Excelentes cães de guarda", detalha.
Fox paulistinha
Segundo a veterinária Lara Halterbeck, existem diferentes teorias sobre a origem do fox paulistinha, também conhecido como terrier brasileiro. Mas a teoria mais aceita atualmente é a de que, durante o início do século 20, jovens brasileiros que estudavam em universidades europeias retornavam ao Brasil com cães pequenos do tipo terrier. "Após cruzamentos com cadelas da região, foi possível definir um critério único para a raça", conta.
É um cão de pequeno a médio porte, geralmente, tricolor (branco, preto e marrom), que tem a base das orelhas eretas e focinho comprido. Além disso, ele tem pelo bem denso e curto. Sobre a personalidade do cão, Lara diz que é uma raça "muito companheira, com uma energia incansável". Por isso, é necessário que o tutor proporcione uma rotina ativa, com atividades, exercícios e brincadeiras. Rebecca Terra destaca que a raça tende a ser resistente a doenças e muito afetuosa com a família. "Por ser muito atento e relativamente barulhento, ele é criado muitas vezes como cão de alarme".
A professora Rita de Cassia Abrão, 51, apaixonou-se à primeira vista pelo fox paulistinha Dick Barreto Sampaio. "Não conhecia essa raça, estava procurando um cão que fosse dócil com criança e de porte pequeno, pois, na época, minha filha tinha três anos e adorava cachorro. Queria um companheiro de brincadeira para ela e, quando cheguei à agropecuária, eu me apaixonei pelo Dick", conta.
Ao saber, por meio do vendedor, que Dick convivia bem com crianças, Rita se motivou a levá-lo para casa. Somente depois ela pesquisou mais sobre a raça e descobriu que ele era um brasileiro legítimo. Hoje, o companheiro adora passear e brincar com os brinquedinhos inseparáveis: apitos, bola e carrinhos. "Ele tem muita energia, é superbrincalhão. Mas também é protetor. Toma conta da casa e até dos vizinhos."
Buldogue campeiro
O buldogue campeiro tem porte médio, é bastante atlético e pode ser encontrado em várias cores. Rebecca Terra descreve que ele tem um focinho achatado e uma aparência entre um boxer e um buldogue. "Gosta de vida livre, espaço. Costuma ser absurdamente destemido e corajoso". Apesar disso, Lara aponta que ele é um cão muito dócil com crianças e de fácil adaptação.
Ovelheiro gaúcho
É um cão diretamente ligado ao trabalho do campo, pois tinha a missão de acompanhar o peão em suas tarefas rurais. De acordo com a veterinária Lara Halterbeck, era utilizado para desempenhar a função de conduzir as ovelhas, além de protegê-las de outros animais e de desconhecidos.
"Concebido para ser um cão de pastoreio com adaptação à variação de clima brasileiro", acrescenta Rebecca Terra sobre a origem do ovelheiro gaúcho, que tem a aparência de um border collie com maior liberdade de cores. Os pelos longos e macios, além da boa camada de subpelo, o protege durante o inverno. Para ela, o temperamento dele pode se resumir em inteligente, muito ágil e resistente.
Veadeiro pampeano
Caracterizado por ser um cão de pelo curto, pernas compridas e muscolosas, além da cor que varia entre branco e caramelo, a raça foi concebida nos pampas gaúchos, argentinos e uruguaios com a finalidade da caça. "O pampeano é bem veloz, destemido e muito forte, com um temperamento independente", lista Rebecca Terra.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte