Mulheres na sala academia fazem exercício

Ministério da Saúde lançou o primeiro Guia de Atividade Física para incentivar a prática regular. O segredo é escolher a que mais gosta

karabulakastan/Pixabay


O que explica as pessoas saberem que algo só lhe fará bem e, mesmo assim, ignorá-lo? Como entender aqueles que tomam atitude contrária ao que pode lhe proporcionar saúde, bem-estar, prevenção e controle de doenças, qualidade de vida e longevidade? Alegria, energia, sociabilidade, bom humor também são efeitos garantidos. E, ainda assim, grande parte do brasileiro tem aversão ao exercício físico, apesar de, forçadamente, muitos praticarem a atividade física. São efeitos distintos.

Desta forma, a frieza dos números revelam um país de obesos e de sobrepeso, com alto risco de adoecimento. O percentual de pessoas obesas em idade adulta mais do que dobrou em 17 anos, indo de 12,2%, entre 2002 e 2003, para 26,8%, em 2019. No mesmo período, a proporção da população adulta com excesso de peso passou de 43,3% para 61,7%, representando quase dois terços dos brasileiros. Os dados são do segundo volume da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019, divulgada em outubro de 2020, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em parceria com o Ministério da Saúde (MS).
 
Astrid Boller, de 55 anos, médica e professora

Astrid Boller, de 55 anos, médica e professora, pratica regularmente ginástica localizada com pesos e exercícios de pilates associados

Arquivo pessoal
Para reverter este cenário sombrio, este ano, o Ministério da Saúde lançou o primeiro Guia de Atividade Física para a População Brasileira, de acesso gratuito. Dividido em oito capítulos, o guia aborda a prática de atividade física em diversos contextos, grupos e ciclos de vida, além de trazer recomendações sobre a quantidade, a intensidade e exemplos de atividades aeróbicas, de força e de equilíbrio, além de indicações para um estilo de vida ativo.

A cartilha foi construída em parceria com a Universidade Federal de Pelotas, que reuniu um corpo de 70 pesquisadores de todas as regiões do país, além do corpo técnico do Ministério da Saúde e da Organização PanAmericana de Saúde (OPAS). No documento são apresentadas informações e recomendações específicas para crianças de até 5 anos, crianças e jovens de 5 a 17 anos, adultos e idosos, gestantes e mulheres no pós-parto, pessoas com deficiência e para a educação física escolar.

Antes de lhe apresentar mais argumentos para, de uma vez por todas, passar a movimentar o corpo, saiba a diferença entre exercício e atividade física. Tenha em mente que ao correr para alcançar o ônibus é uma atividade física, enquanto praticar corrida na esteira é um exercício físico. Carregar sacolas do supermercado é uma atividade física, levantar peso é um exercício. Portanto, a atividade física está presente no lazer, nas tarefas domésticas ou no deslocamento para a escola ou o trabalho. Já o exercício é uma decisão planejada com o objetivo de melhorar ou manter a estrutura muscular, a flexibilidade e o equilíbrio. Ou seja: todo exercício físico é uma atividade física, mas nem toda atividade física é um exercício físico.

Ambos são benéficos, o que não é permitido é ser sedentário, em hipótese alguma, diante dos inúmeros ganhos para a proteção e prevenção de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs), além de aspectos psicológicos e sociais.

SENTIR-SE BEM 


Astrid Boller, de 55 anos, médica e professora, pratica regularmente ginástica localizada com pesos e exercícios de pilates associados, de três a quatro vezes por semana. “Já faço essa modalidade há 15 anos, pois foi a que mais me identifiquei. Aula dinâmica e muito variada. Gosto de fazer em grupo. O nosso é de até cinco alunas. Gosto de exercícios moderados. Alguns dias, mais intensos.”

Astrid conta que é fundamental escolher o exercício que se sinta bem. Ela confessa que antes de descobrir o pilates encarou outras modalidades e fazia meio que por obrigação, pois não gostava. Agora, ela encontrou o prazer.

A atividade física sempre fez parte da vida de Astrid: “Desde pequena, pratico quando possível o esqui na neve. Adoro andar de bicicleta. Não gosto de musculação, é muito repetitivo e monótono. Me sinto muito bem nos dias que pratico exercícios. Dá mais ânimo, disposição e bem-estar. Além de ajudar na prevenção de doenças, melhorar a condição física e ajudar na manutenção do peso. E é bom para a 'cabeça' também. Gosto de fazer de manhã cedo, as 6h. Assim o dia rende”.

Além de todos os benefícios destacados por Astrid, ela lembra também que a atividade física é um local para socializar e fazer novas amizades. “Acho que em grupo, com mais pessoas, é ainda mais motivador.”

A atividade física faz parte da vida da aposentada Margarida Léa Gomes Nunes, de 65. Ela nunca ficou parada. “Já me exercitava. Antes da pandemia estava no pilates presencial e, durante, fiz aula virtual e caminhada na garagem de casa. Gosto muito de praticar algum exercício físico porque faz bem para a mente e para o corpo.”

Margarida, no entanto, destaca que a atividade física não tem efeito isoladamente: “A ginástica tem de ser acompanhada de uma boa alimentação, que são indispensáveis para a minha idade. É bom para a saúde e para a mente. Durante a pandemia emagreci 14 quilos. Mudei minha alimentação com orientação de uma médica e de uma nutricionista”.

Com mudança de hábito, Margarida conta que se sente muito bem. “Melhorou tudo. Pressão arterial, peso, a autoestima e outras coisas mais.” Animada, ela destaca que conta com um incentivador especial: “Tenho a companhia do meu marido, Paulo, que me acompanha nas caminhadas. Um motiva o outro. Durante a pandemia motivamos um ao outro.”

 
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL 


Mulher faz exercício com um peso na academia, em frente ao espelho

Incluir a atividade física na rotina diária é fundamental para ter uma boa saúde

Matthew Sichkaruk/Unsplash
O médico do esporte Gabriel Vieira, nutrólogo do Hospital Vila da Serra, destaca que é importante aliar exercício físico a uma alimentação saudável e de boa qualidade, já que a boa nutrição é base para que todos os processos fisiológicos ocorram de maneira adequada e eficiente no organismo.

“A amamentação fornece nutrientes, vitaminas e anticorpos fundamentais para o crescimento e desenvolvimento do sistema imunológico da criança. Nos primeiros anos de vida, os carboidratos e as gorduras são muito importantes, uma vez que são as principais fontes de energia utilizadas pelo nosso organismo. Atividades como correr, brincar, jogar bola, pular corda ou amarelinha requer muita energia, que podem ser adquiridas de frutas, legumes, vegetais e tubérculos, preferencialmente.”

Gabriel Vieira alerta que os alimentos processados e industrializados, principalmente na infância, podem ativar vias metabólicas que favoreçam o ganho de peso na adolescência e vida adulta. “À medida que vamos crescendo, a necessidade de proteínas na alimentação aumenta proporcionalmente ao aumento da massa muscular. Carnes, ovos e/ou proteínas de origem vegetal sempre devem estar presentes. A partir dos 60 anos é muito importante que a meta proteica seja ingerida a fim de preservar a massa muscular e evitar a sarcopenia, condição em que há perda de massa e/ou força muscular. A incorporação de hábitos alimentares saudáveis na infância e adolescência é fundamental para redução da incidência e prevalência de sobrepeso e obesidade na população adulta e em idosos.”