A promoção da saúde tem sido amplamente divulgada e incentivada nos últimos anos. E uma das formas de melhorar a qualidade da vida está atrelada ao nível de atividade física que se pratica. Além dos benefícios para o corpo e mente, ela diminui o risco de inúmeras doenças crônicas, vários tipos de cânceres, além de prevenir e combater a obesidade, porta de entrada para uma outra série de enfermidades.
“O Guia de Atividades Físicas lançado recentemente pelo Ministério da Saúde busca não só incentivar, mas envolver diversas camadas da sociedade na promoção de atividades físicas. Com o documento em mãos, feito por vários professores, pesquisadores e estudiosos, é possível ter informações precisas sobre o que realizar e durante quanto tempo, com o objetivo de atingir uma população saudável e com mais qualidade de vida”, destaca Daniel Oliveira, médico ortopedista especializado em coluna vertebral.
O médico ressalta que, para alcançar o resultado esperado, o guia tem de ser divulgado e abraçado por outros setores da sociedade e apresentado aos brasileiros como um documento com dicas viáveis e alcançáveis, que podem ser realizadas por todos, no tempo e no lugar que estiverem e que impactem positivamente no dia a dia.
Ele alerta sobre o número de obesos que tem aumentado assustadoramente nos últimos anos no Brasil e, além dele, uma parcela crescente da população com sobrepeso e que pode evoluir para um quadro de obesidade. “A falta ou diminuição das atividades físicas, que são responsáveis pela menor queima calórica do corpo, leva ao aumento do peso corporal. Isso é uma bomba-relógio para a população, já que aumenta o risco de diversas doenças e causa impactos severos tanto na saúde física como financeira das pessoas e também nos cofres públicos, órgãos governamentais e hospitais públicos que atuam cuidando das pessoas que já estão doentes em consequência da obesidade e sedentarismo.”
NÃO É BOBAGEM
Assim como todos já sabem que para viver mais e melhor é preciso ter uma alimentação saudável, com menos sal, gordura e açúcar, sabem também que se exercitar é fundamental. O ideal seria uma mudança total, tanto no que diz respeito a uma alimentação saudável e equilibrada, como de práticas de atividades físicas todos os dias. “Como sabemos que isso não funciona na prática, temos que incentivar a mudança de pequenos hábitos na nossa rotina”.
Parece bobagem, mas algumas dicas podem ser valiosas, continua o ortopedista, como: cozinhar o próprio alimento em vez de consumir processados; não utilizar óleo e gorduras ao preparar os alimentos ou diminuir a quantidade utilizada; dar preferência a frutas nos lanches, assim como os alimentos integrais; aumentar a ingestão de água; reduzir os níveis de açúcar; incluir legumes e verduras no prato e não substituir o almoço e jantar por lanches rápidos.
No caso do comportamento sedentário, o médico lembra que vale procurar não permanecer muito tempo parado, começar a se deslocar mais dentro de casa, trocar o elevador pela escada, o carro pela caminhada ao ir à padaria ou supermercado, fazer pequenas caminhadas, mesmo que no quarteirão de casa.
AVALIAÇÃO MÉDICA
Regra única é que, antes de começar um exercício físico, é preciso ter um diagnóstico médico que o libere para a prática. Dentro da sua especialidade, o médico ortopedista tem na “Avaliação Ortopédica e Fisiátrica Pré-Participação Física” um modelo que deve ser feito em pessoas que estejam acima do peso ou sedentárias e que desejam iniciar uma atividade física.
“Com ela é possível averiguar clinicamente o paciente por meio de exames de imagem, analisando a postura, pisada, tipo de pé, possíveis desgastes articulares, além de desvios no joelho e nos pés. Se o indivíduo apresentar qualquer tipo de disfunção, ele é encaminhado para outro profissional com o intuito de reabilitá-lo para, em seguida, começar a prática da atividade física”, explica Daniel Oliveira.
Segundo ele, existem vários estudos indicando que as pessoas ficaram ainda mais sedentárias durante a pandemia. Muitas daquelas que praticavam algum tipo de atividade viram-se presas em casa e não tiveram a mesma motivação de continuar praticando exercícios. Aquelas que caminhavam ou corriam nas ruas estavam com medo de se expor.
“Junto à inatividade física, muita gente se viu mais ansiosa e acabou descontando o emocional na comida. O resultado foram os quilos a mais na balança. Mas, ao mesmo tempo, uma campanha em prol dos cuidados com a saúde vislumbrando mais qualidade de vida e imunidade por meio de bons hábitos também cresceu, já que os casos mais graves da COVID-19 estavam relacionados a comorbidades. Quanto mais saudáveis estamos, mais chances o organismo tem de combater doenças, vírus e bactérias.”
CARGA SOBRE AS MULHERES
Na preocupação com o movimento, a mulher está no centro, já que na última pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) de 2019, divulgada em 2020, a obesidade feminina passou de 14,5% para 30,2% e se manteve acima da masculina, que subiu de 9,6% para 22,8%. “Apesar de as mulheres serem mais preocupadas com a saúde do que os homens, elas têm uma tendência maior ao acúmulo de gordura corporal, além disso, enfrentam maiores variações hormonais ao longo da vida, tendência a altos níveis de estresse com a tensão pré-menstrual, período pré-menopausa, gestação, menopausa, climatério. Tudo isso interfere no metabolismo e nos níveis de estresse, que também facilitam o ganho de gordura corporal.”
A faixa etária é outro sinal de alerta quanto ao ganho de peso e suas consequências para a saúde. Conforme dados da mesma pesquisa do IBGE, a população de 40 e 59 anos, tem o maior ganho de peso, chegando a 34,4%, e o percentual tem crescido tanto no excesso de peso quanto na obesidade em si. “À medida que envelhecemos, ele se torna cada vez mais lento e o organismo tem mais dificuldade em queimar gorduras, fazendo que ela fique estocada por mais tempo. Isso faz com que haja um aumento de peso.”
Argumentos não faltam, resultados científicos também não. O que tem faltado é uma atitude, tomada de decisão para começar a se exercitar e se cuidar mais, antes de mais nada. “Minha recomendação é procurar um médico antes de iniciar qualquer atividade física. Por mais que ela seja fundamental para uma vida saudável, é por meio dessa avaliação médica que são analisadas as condições físicas do paciente.”
TRÊS PERGUNTAS PARA...
Gabriel Vieira, nutrólogo do Hospital Vila da Serra e médico do esporte
Dietas restritivas, modismos, low carb, só proteína, barras energéticas, whey protein... Entre tantas ofertas e regras/receitas no mercado fitness, como se alimentar sem se preocupar com tudo isso e, assim, ter um bom desempenho na prática do exercício físico?
A alimentação baseada em produtos orgânicos in natura e minimamente processados favorece um bom desempenho na prática de exercício físico. Conservantes, acidulantes, estabilizantes e edulcorantes são substâncias que afetam o funcionamento normal de células e órgãos, além de alterar a composição e funcionamento do intestino, interferindo direta e indiretamente no desempenho esportivo. Uma alimentação balanceada com carboidratos (60%), gorduras (25%) e proteínas (15%) também é importante para este bom desempenho.
Por outro lado, há alimentos que são fundamentais para um bom resultado nesta parceria nutrição e exercício. Frango, batata-doce, ovo... Quais alimentos deveriam fazer parte da rotina de cada um e dependendo da fase da vida?
Mais do que determinados alimentos, temos que pensar na alimentação como um todo. Quanto maior a variedade de alimentos presentes respeitando-se a proporção entre macronutrientes, melhor. Carne, frango e ovos são boas fontes de proteínas e devem estar presentes, assim como as proteínas de origem vegetal. Os carboidratos, tanto simples como complexos, têm suas indicações, não existe um melhor que o outro, e sim o mais indicado para determinado horário e situação. As gorduras compostas por ácidos graxos poli-insaturados, como azeite e óleo de peixe, são as mais saudáveis, enquanto gorduras saturadas, como o óleo de coco, devem ser ingeridas com bastante moderação.
Qual o valor da hidratação no equilíbrio de uma boa alimentação com a prática de uma atividade física?
Estar bem hidratado é essencial para o bom desempenho esportivo. Todas as reações químicas acontecem em meio aquoso. A redução da quantidade de água intracelular interfere na velocidade das reações, reduzindo o desempenho esportivo. Água é o melhor meio de hidratação. Sucos naturais, água de coco e isotônicos também podem ser usados, cada um com sua indicação. Fuja dos líquidos açucarados, como sucos de caixinha, refrigerantes e energéticos.