A acupuntura tem origens milenares. É um sistema médico complexo, e desde tempos remotos até os dias de hoje é exercida na China continental e em Taiwan exclusivamente por profissionais com formação em escolas médicas. Por exigência do Conselho Federal de Medicina (CFM), após análise das comprovações científicas de sua eficácia e efetividade, foi considerada por aquela autarquia como especialidade médica no Brasil em 14 de agosto de 1995.
Desde então, se popularizou e vem sendo recomendada para o alívio de dores de etiologias diversas, inclusive oncológicas (relacionadas ao câncer), dores de cabeça, e de origem musculoesqueléticas, como as dores lombares, dor ciática, disfunções da coluna vertebral, dos joelhos, ombros, quadril e articulações em geral. Essas informações são do médico acupunturiatra Hildebrando Sábato, especialista na área de dor, presidente do Colégio Médico de Acupuntura de Minas Gerais (CMA/MG), diretor e professor do Instituto Médico Brasileiro de Acupuntura (IMBA) e docente do curso de pós-graduação em dor do Hospital Albert Einstein.
Conforme Hildebrando Sábato, a acupuntura é empregada também como adjuvante ao tratamento convencional para distúrbios ginecológicos (como nas irregularidades menstruais), neurológicos (na recuperação de pacientes acometidos por acidente vascular cerebral) e na gastroenterologia, para o tratamento de gastrites e má digestão, por exemplo. Também apresenta bons resultados para alergias, sinusites agudas e crônicas, algumas doenças dermatológicas e para pacientes estressados pelos hábitos de vida modernos, como esgotamento, insônia e distúrbios psiquiátricos.
Hildebrando Sábato destaca que, à medida que foi se tornando mais conhecida e esclarecida em seus propósitos, a resistência ao tratamento pela acupuntura diminuiu muito nas últimas décadas. “Como se trata de procedimento invasivo, com a introdução de finas agulhas inseridas tanto superficialmente quanto em profundidade no corpo, estruturas nobres, como nervos e órgãos, devem ser evitados. Isso exige conhecimento da anatomia, e execução por mãos habilidosas num treinamento extenso.”
Além disso, segundo ele, é importante a realização de um diagnóstico diferencial da doença a ser tratada. Em alguns casos, o encaminhamento para um especialista deve ser feito até com urgência. “É fundamental o entendimento do que está acontecendo com o paciente, e isso só o médico pode identificar adequadamente, indicar a acupuntura, optar por uma investigação mais esclarecedora, ou encaminhar para o tratamento convencional. Essa pode ser uma das razões pelas quais os pacientes preferem fazer a acupuntura com um médico especialista em acupuntura.”
RECUPERAÇÃO DE PACIENTES
A acupuntura é mais uma aliada na recuperação do paciente que teve COVID-19 e lida com sequelas. Hildebrando Sábato explica que uma característica da acupuntura é proporcionar uma atuação não apenas curativa, mas também moduladora das funções autorrevigorantes que o organismo tende a realizar, principalmente quando adequadamente estimulado. “Claro que o êxito desta atuação vai depender do grau de acometimento da doença, sua gravidade, como também da vitalidade remanescente do organismo acometido. Sob essas condições, a acupuntura pode melhorar, em curto/médio prazo, sequelas pós-COVID-19, como cansaço, esgotamento, distúrbios de memória, falhas cognitivas e embotamento emocional.”
Hildebrando Sábato destaca que cada vez mais ganha espaço a aplicação da acupuntura no tratamento e prevenção de diversos transtornos mentais: “Há muitas palestras e cursos para o colega médico acupunturiatra com conteúdo bem fundamentado para a abordagem dos pacientes com transtornos mentais, tanto do ponto de vista psiquiátrico convencional, quanto da medicina tradicional chinesa e acupuntura médica contemporânea. Discorremos sobre quais seriam os limites da prática acupuntural para esses pacientes; quando, como, e quais casos encaminhar ao psiquiatra e a outros profissionais de saúde mental, quando associar acupuntura ao tratamento de pacientes já medicados e em acompanhamento psiquiátrico e psicológico, além de outras questões concernentes à prática médica da acupuntura, pormenorizadas para uma atuação segura e de resultados”.A sobrecarga de trabalho em dispositivos eletrônicos, associada à má postura e a tensões físicas e emocionais sobrecarregam a musculatura cervical, pescoço e ombros. O resultado é a formação dos chamados pontos-gatilhos miofasciais, que promovem por sua vez dores de cabeça reflexas em determinadas áreas.A acupuntura tem excelente atuação para estes casos, desabilitando estes pontos, e fazendo cessar a cefaleia quase que imediatamente
Médico acupunturiatra Hildebrando Sábato, especialista na área de dor e presidente do Colégio Médico de Acupuntura de Minas Gerais (CMA/MG)
O médico acupunturiatra destaca que, em 2020, participou como coordenador da elaboração do Mapa de Evidências da Efetividade Clínica da Acupuntura, encomendado pelo Ministério da Saúde (MS), realizado e publicado por um convênio entre a Opas, Bireme e o Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa (CabsIn). O Mapa foi elaborado a partir de revisões sistemáticas recentes, cada uma com dezenas a centenas de trabalhos científicos (RCTs – Ensaios Clínicos Randomizados), e está disponível em https://mtci.bvsalud.org/pt/efetividade-clinica-da-acupuntura/. “Este trabalho apresenta as evidências para desfechos em saúde, incluídos alguns transtornos mentais mencionados, como depressão e insônia, por exemplo, evidenciando efeitos positivos da acupuntura para seu tratamento.”
EFEITOS POSITIVOS
Hildebrando Sábato enfatiza que o Mapa de Evidências da Efetividade Clínica da Acupuntura também mostra efeitos positivos do tratamento de condições dolorosas, como as dores de cabeça em geral e a enxaqueca em particular. “Evidenciam-se os efeitos da acupuntura não só para as crises agudas, quanto para o acometimento crônico, mas também como adjuvante na prevenção das recaídas. A experiência clínica tem demonstrado que as séries de sessões de acupuntura contribuem grandemente para uma melhora na intensidade das crises, assim como num maior espaçamento entre elas, trazendo alívio e melhora da qualidade de vida dos pacientes acometidos pela enxaqueca.”
Outra condição muito prevalente é a chamada cefaleia tensional. Ele explica que ela pode ocorrer pela sobrecarga de trabalho em dispositivos eletrônicos como laptops e aparelhos celulares, principalmente quando associada à má postura e a tensões físicas e emocionais que sobrecarregam a musculatura cervical, pescoço e ombros. O resultado é a formação dos chamados pontos-gatilhos miofasciais, que promovem por sua vez dores de cabeça reflexas em determinadas áreas. “A acupuntura tem excelente atuação para estes casos, desabilitando estes pontos, e fazendo cessar a cefaleia quase que imediatamente.”
DE GRAÇA
Hildebrando Sábato destaca que a acupuntura está presente no Sistema Único de Saúde (SUS), introduzida pelos médicos desde 1982. A rede assistencial em Belo Horizonte, por exemplo, oferece o tratamento em vários postos de saúde, onde é feita por médicos especialistas em acupuntura dentro do Programa de Homeopatia, Acupuntura e Medicina Antroposófica – Prohama, implementado pela Secretaria Municipal de Saúde.
Além disso, por iniciativa do Colégio Médico de Acupuntura de Minas Gerais (CMA/MG), ambulatórios didático-assistenciais foram introduzidos no Hospital das Clínicas da Escola de Medicina/UFMG, no Hospital Odilon Behrens, e outros convênios estão sendo firmados para ampliar o atendimento de forma gratuita. A saúde complementar, por meio dos convênios de saúde, também oferece a especialidade da acupuntura, que pode também ser realizada em tratamentos particulares em diversas clínicas na região metropolitana.
EQUILÍBRIO DAS FUNÇÕES ORGÂNICAS E EMOCIONAIS
“A ação da acupuntura na saúde mental envolve fatores diversos, a partir de estímulos que levam ao relaxamento, controle de processos inflamatórios e álgicos, modulação de neurotransmissores e consequentemente à sensação de bem-estar”, destaca Vítor Barbosa, acupunturista e coordenador da especialização em acupuntura do Centro Universitário Newton Paiva.
Mestre e doutor em patologia investigativa pela Faculdade de Medicina da UFMG, ele explica que a técnica promove o equilíbrio das funções orgânicas e emocionais por meio do estímulo de pontos específicos do corpo, chamados de acupontos. Vítor Barbosa diz que, além da ação local nos tecidos onde estão localizados os acupontos, existe a ação sobre a medula espinhal e a ação somatotópica, essa última referente ao processo em que os estímulos em diferentes pontos do corpo agem sobre áreas específicas do córtex cerebral. “Cada diferente área do córtex estimulada forma uma resposta aferente, que, por sua vez, estimula diversos outros órgãos e tecidos, como glândulas, vasos sanguíneos, nervos periféricos...”
Uma vez adequadamente estimulados, a reatividade gerada permite que o organismo corrija certos padrões de desarmonia dos Zang-Fu (órgãos), e assim haja reequilíbrio. “Quando abordamos os padrões de desequilíbrio da mente, é necessário avaliar quais os órgãos comprometidos, mas sempre lembrando que, independentemente de qual seja, há sempre a necessidade de cuidar do coração (Xin) e do fígado (Gan), pois pela racionalidade médica chinesa, são respectivamente responsáveis por abrigar a mente, o sensorial, e harmonizar as emoções.”
De acordo com Vítor Barbosa, a acupuntura funciona como “excelente adjuvante” no tratamento de transtornos emocionais, contribuindo para a eficácia e eficiência da resposta terapêutica, como no caso de fobias e pânico. Os pacientes que buscam o tratamento, normalmente já fazem o acompanhamento com outros profissionais da saúde, como psicólogos e psiquiatras, e, segundo ele, relatam evolução após início da acupuntura, seja na melhora do estado geral e de bem-estar, seja controlando efeitos colaterais de medicamentos.
“É importante destacar que o acupunturista em momento algum deve desencorajar ou sugerir a retirada de medicamentos prescritos por psiquiatras ou desaconselhar a psicoterapia com profissionais da psicologia. O pensamento é o tempo todo de integração em saúde, já que o foco principal é o paciente.” Vítor Barbosa conta que nem sempre o tratamento com acupuntura será a longo prazo. O paciente normalmente recebe alta após melhora dos sintomas. “Habitualmente, após o diagnóstico energético da medicina chinesa, conseguimos determinar o número necessário de sessões para que possamos fazer uma nova avaliação, e assim orientar os pacientes a necessidade de mais sessões ou a alta, caso atingidos os objetivos.”
CONTRAINDICAÇÃO
Ele explica que durante os períodos de crises dos transtornos emocionais, a acupuntura atua no auxílio do controle dos sintomas mais incômodos. “No entanto, segundo a medicina chinesa, a melhor ação da acupuntura é na prevenção das crises ou das desarmonias do Qi e do Shen. Sendo assim, em momentos de crise é recomendado, em alguns casos, duas a três sessões semanais. Já se o objetivo é a manutenção do estado de bem-estar ou prevenção, as sessões podem ser espaçadas, quinzenais ou mensais ou até mesmo trimestrais. Obviamente, por seguir as premissas da medicina chinesa, as mudanças de hábitos são essenciais para melhores resultados.”
Vítor Barbosa assegura que qualquer pessoa pode receber o tratamento por acupuntura, porém existem algumas restrições e cuidados específicos com a técnica, a depender do estado prévio de cada um. “Pessoas fadigadas ou muito debilitadas devem receber número menor de agulhas e estímulos menos vigorosos; o mesmo vale para usuários de anticoagulantes e pessoas que apresentem fragilidade dos vasos sanguíneos, devido ao risco de hematomas e equimoses extensas. Portadores de marcapasso cardíaco não devem receber eletroacupuntura, sob o risco de interferência no funcionamento do aparelho.”
Outros cuidados são importantes para prevenir possíveis danos ao paciente, como a antissepsia adequada das áreas de aplicação das agulhas, higiene das superfícies e sempre exigir o uso de agulhas descartáveis. Assim, previne-se a infecção por micro-organismos patogênicos e o surgimento de doenças infecciosas. “É de primeira importância também que o acupunturista esteja sempre próximo ao paciente, pois em caso de sensação de mal-estar durante o procedimento, haja pronto auxílio, com retirada imediata das agulhas.”
ACUPUNTURA PARA GRÁVIDAS E CRIANÇAS*
- As indicações de tratamento por acupuntura, seja no recém-nascido ou a partir da primeira infância até o final da adolescência, são variadas e abrangem tanto doenças orgânicas (dermatite atópica, refluxo do recém-nascido, cólicas intestinais, asma, baixa imunidade) como distúrbios comportamentais (distúrbios de sono, angústia de separação, hiperatividade, isolamento, entre outros).
- A acupuntura, pelo seu nível de segurança, pode ser aplicada em gestantes durante toda a gravidez, com vários benefícios, inclusive. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda como tratamento principal para as náuseas e vômitos, tão comuns nos primeiros três meses da gestação, pela isenção de danos ao desenvolvimento fetal. À medida que a gestação evolui, pelo crescimento uterino e descolamento do ponto de equilíbrio do corpo são comuns as dores na região lombar. A acupuntura, com seu efeito analgésico, traz alívio para a dor sem riscos ao feto. A acupuntura também pode ser prescrita como auxiliar no diabetes gestacional, na hipertensão gravídica e na regulação das contrações uterinas, tanto diminuindo a intensidade e frequência das contrações precoces quanto estimulando as contrações para o parto.
*Fonte: Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura
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