Na mesma medida, entretanto, em que os resultados no enfrentamento à Aids representam um sopro de esperança, outra IST tem gerado preocupação entre os infectologistas e todos os profissionais da saúde: a sífilis.
“Vivemos uma epidemia da sífilis desde 2010. Os registros da infecção cresceram de forma indiscriminada e perigosa, e isso se deve muito ao relaxamento das pessoas que deixaram de usar preservativo durante a relação sexual. Por isso, podemos afirmar que esse crescimento tem relação com a mudança de comportamento dos indivíduos, que se sentiram mais seguros com o tratamento assertivo de controle do HIV e passaram a fazer sexo sem proteção”, explicita o coordenador da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Vila da Serra e presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano.
Segundo o Boletim do Ministério da Saúde (MS) de outubro de 2020, o número de casos registrados de sífilis adquirida passou de 3.925 em 2010 para 152.915 em 2019, um aumento de 3.795%, principalmente na faixa etária entre 20 e 39 anos. As outras duas formas da doença também aumentaram: em gestantes, passou de 10.070 para 61.127 e a congênita transmitida da mulher para o feto, de 2.313 para 6.354 nesses 10 anos.
O profissional explica que a sífilis pode ser dividida em três tipos. A primária é a mais simples, se manifesta no local de inoculação da bactéria, nas mucosas (peniana, vaginal, anal ou da boca). Ela surge como uma ferida que geralmente se cicatriza dentro de quatro a seis semanas, sendo pouco dolorosa, sem sequelas no local. Porém, se não for feito o tratamento adequado, essa sífilis primária pode voltar dentro de alguns meses como uma sífilis secundária, que ficou encubada no organismo.
Essa bactéria pode cair na corrente sanguínea e causar sintomas como febre, prostração, manchas pelo corpo, aumento do fígado e do baço, entre outras manifestações. Raramente é fatal, na maioria dos quadros é benigna e curável depois de alguns dias ou semanas de forma espontânea, mesmo sem tratamento.
Com relação ao terceiro tipo, o médico adverte que é a forma mais severa da sífilis. “A sífilis terciária é aquela que ataca lentamente órgãos nobres, como o cérebro, o sistema cardiovascular, os ossos, causando infecções. Ela pode se desenvolver durante décadas e muitas vezes é fatal mas, quando não mata, deixa sequelas muito importantes. O tratamento da sífilis consiste no uso de antibióticos, principalmente as penicilinas, e deve ser feito imediatamente ao diagnóstico, sem interrupção, para impedir que evolua para a forma terciária”, informa.
O infectologista lembra que, paralelamente ao aumento da sífilis, outras doenças sexualmente transmissíveis se acentuaram, como infecções por herpes, por clamídia e gonorreia.
Vacina contra o HIV
Uma vacina contra o HIV está em pesquisa. "O estudo Mosaico é bastante promissor, está na fase três, ou seja, já em teste em humanos. Incialmente, vai recrutar em torno de 3.800 pessoas. O objetivo é comparar a incidência de aquisição do HIV entre a população que tomou a vacina e aquela que não tomou o imunizante. A vacina em questão inclui antígenos, estimulantes de imunidade contra os vários subtipos do HIV, já que estamos falando de um vírus que tem várias linhagens do HIV mutantes. A esperança é que haja uma proteção ampla contra essas diversas cepas de HIV mutantes e que no futuro essa vacina possa ser massificada, capaz de gerar proteção para as pessoas”, esclarece o médico.
Há ainda um medicamento que acaba de ser aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Dovato, com poucos efeitos colaterais. “Trata-se do único medicamento novo composto de duas substâncias, a lamivudina e o dolutegravir, altamente eficaz e seguro, sem que precise fazer uso de um terceiro componente que é o tenofovir, presente em outras formulações, mas com o agravante de ser tóxico, principalmente para os rins”, conta Estevão Urbano.