Pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV) estão desenvolvendo duas formulações farmacêuticas, uma pomada e um gel transdérmico, muito promissoras para tratar o melanoma. Se tudo der certo, esta será a primeira medicação de uso tópico do mundo para tratamento de câncer. Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, o câncer de pele responde por 33% de todos os diagnósticos oncológicos no Brasil. São 185 mil novos casos por ano.
Os medicamentos de uso tópico são veículos para uma molécula totalmente inédita, desenvolvida em laboratório pela professora Marisa Alves Nogueira Diaz, do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular (DBB).
Desde o seu pós-doutoramento, ela já vinha estudando uma família de compostos naturais que interagem com as moléculas de DNA, impedindo a proliferação de células cancerosas. De volta à UFV, Marisa propôs algumas mudanças químicas, criando vários compostos diferentes.
Em parceria com a professora Anésia dos Santos, do Departamento de Biologia Geral, foram testados os compostos em laboratório até chegarem a uma molécula que apresentou um grande potencial para matar células cancerosas, sem afetar as saudáveis. Foi então que as equipes das pesquisadoras se juntaram à do professor Tiago Mendes, também do DBB, para ampliar os estudos e propor o desenvolvimento de produtos para uso na pele com melanoma.
A parceria rendeu um artigo publicado, em dezembro do ano passado, na revista de alto impacto científico, Chemico-Biological Interactions. Os testes ainda estão em fase pré-clínica, ou seja, feitos em camundongos inoculados com melanoma.
Mas os pesquisadores explicam que, além da eficácia em destruir as células cancerosas, a substância, chamada de Derivado de Dibenzoylmetano (DPBP), tem um altíssimo grau de seletividade, o que dá segurança ao medicamento.
“Identificamos que o DPBP tem alto grau de segurança porque apresenta um potencial 40 vezes maior de agir nas células doentes que nas saudáveis, ou seja, a ação é seletiva. Para afetar uma célula saudável seria preciso uma concentração 40 vezes maior do que a que estamos propondo nos produtos”, disse a professora Marisa.
A descoberta dos pesquisadores, publicada no artigo, é uma promessa de sucesso para as próximas fases das pesquisas. Nelas, é necessário testar se a substância é capaz de afetar outras células ou causar algum tipo de intoxicação, o que parece não ser o caso da DPBP. “Já estamos começando os testes de farmacocinética e toxicidade para avaliar estes parâmetros e o próximo passo, então, será testar a medicação em humanos com melanoma”, explicou a professora.
De acordo com o professor Tiago, o uso da pomada ou do gel transdérmico não exclui a retirada cirúrgica dos melanomas. Ele explica que as cirurgias só extirpam as partes visíveis das lesões na pele. O que sobra, e não é visto, pode regenerar a lesão ou silenciosamente, provocar uma metástase em outros órgãos. O gel vai agir matando as células que sobraram. Já a pomada, de uso mais superficial, poderá ser formulada juntamente com um filtro solar, com uso indicado para prevenir a reincidência do câncer.
As pesquisas com os derivados do DPBP já resultaram em duas teses de doutorado e foram financiadas pelo CNPq, Fapemig e Programa de Pesquisa para o SUS/PPSUS. Os pesquisadores também já têm uma patente do produto, autorizada, no último ano, pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI).
Outros quatro compostos que apresentam atividade tumoral contra o melanoma também já foram submetidos ao INPI para registros de patentes. Agora, a equipe está estudando o uso deles também como medicamentos anti-inflamatórios.
Com os dados promissores do artigo publicado, já há empresas especializadas em pesquisas com melanoma interessadas em dar continuidade aos estudos na UFV, o que deve gerar novas teses e dissertações.