Que todo alimento na medida certa, no preparo mais adequado e respeitando possíveis restrições de cada um são verdadeiros aliados da saúde todos já sabem.
Mas a pandemia da COVID-19 escancarou, jogou holofote e mostrou a importância de determinados alimentos, principalmente para fortalecer a imunidade e ser uma arma contra sintomas da gripe e outras doenças sazonais.
A nutrição adequada é fundamental em qualquer momento da vida e, agora, deve ser levada ainda mais a sério e com rigor para que o organismo se mantenha forte e apto para combater doenças. Alho, cebola, canela e cravo fazem parte de um quarteto e são chamados de soldados da saúde.
Maria Cláudia S. G. Blanco, engenheira-agrônoma da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, que atua no Departamento de Extensão Rural (Dextru), da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), de São Paulo, destaca esses quatro alimentos que estão presentes em quase todos os lares e mesas dos brasileiros: “Podemos destacar, por conta de seus altos valores nutricional e medicinal, o cravo e a canela, base da confecção das compotas de frutas e outros quitutes; bem como o alho e a cebola, temperos obrigatórios no arroz, feijão e carne de cada dia, assim como em diversos outros pratos”.
Conforme Maria Cláudia, esses alimentos, além de temperar os mais diversos pratos, salgados e doces, são fonte de diversas substâncias bioativas de ação terapêutica. “Por isso, estão sendo recomendados pelo Programa de Fitoterapia de Campinas nos serviços de saúde integrativa, e futuramente em uma cartilha que será distribuída pela prefeitura municipal , elaborada por uma equipe que conta com médica e farmacêutica.”
Sandra Maria Pereira da Silva, pesquisadora da APTA Regional de Pindamonhangaba, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, enfatiza que o quarteto da saúde é considerado tempero, condimento, especiaria, portanto, utilizados em menor quantidade no preparo de alimentos salgados, como o alho e a cebola, e em doces, como o cravo e a canela. Seus benefícios na alimentação são inúmeros, pois além de auxiliar na conservação do alimento, aromatizar e dar sabor, têm propriedades medicinais.
A fitoterapia pode auxiliar muito em tempos de pandemia, com medicamentos de base natural, que têm efeitos comprovados cientificamente
Sandra Maria Pereira da Silva, pesquisadora da APTA Regional de Pindamonhangaba
“Imagine um arroz feito com alho fresco, um refogado acebolado, um doce de abóbora com cravo e um doce de leite e arroz-doce com canela. Ficam maravilhosos. O alho (Allium sativum) e a cebola (Allium cepa) estão entre as plantas mais antigas utilizadas como especiaria e como medicinal. Ao alho conferem-se propriedades antissépticas, bactericidas, expectorante, diurética, para baixar a pressão arterial (hipotensora), inibidor de formação de plaquetas, tônica, entre outras. À cebola conferem-se propriedades também expectorante, diurética, hipotensora, protetor contra colesterol LDL (ruim), cálculos renais, dores de garganta, rouquidão e outras doenças do aparelho respiratório. Ou seja, são alimentos importantes para tempos de pandemia. Estão na lista das principais especiarias mediterrâneas.”
Ela destaca que o cravo (Syzyium aromaticum) e a canela (Cinnamomum verum), considerados especiarias orientais, são também de uso antigo. Desde tempos muito antigos que se referenciam propriedades estimulantes e afrodisíacas ao cravo, assim como carminativo (auxilia na expulsão de gases intestinais), analgésico (dores de dente), tratamento de cáries e antisséptico.
Também para a canela destacam-se suas propriedades medicinais, como estimulante, estomática, carminativa, antidiarreica e adstringente, além de lhe atribuírem a redução de colesterol e triglicérides no sangue. “Essas plantas, aliás, tornaram-se alimentos, especiarias e medicinais utilizados no mundo inteiro.”
Também para a canela destacam-se suas propriedades medicinais, como estimulante, estomática, carminativa, antidiarreica e adstringente, além de lhe atribuírem a redução de colesterol e triglicérides no sangue. “Essas plantas, aliás, tornaram-se alimentos, especiarias e medicinais utilizados no mundo inteiro.”
IN NATURA OU INDUSTRIALIZADO
Dúvida comum é saber qual a melhor forma de ingestão dos alimentos para que seus nutrientes sejam preservados e os benefícios assegurados. In natura, processado ou industrializado? Conforme Sandra Maria, dependendo das condições em que essas plantas forem cultivadas, colhidas, beneficiadas e desidratadas, por exemplo, em um processo controlado de secagem em secadoras próprias para isso, em que a temperatura não ultrapasse os 45°C, a qualidade desse material, em termos nutricionais e de princípios ativos, se manterá.
“As cápsulas de alho podem ser a base do bulbo desidratado e moído ou de óleo essencial. Inclusive, o alho consta no Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira, em diferentes formulações, em que tem indicações para auxiliar na prevenção de alterações ateroscleróticas, auxiliar no alívio dos sintomas associados às afecções das vias aéreas superiores (Ivas) e na congestão nasal e auxiliar no alívio de sintomas do resfriado comum. E a cápsula de óleo de alho tem sido prescrita pelos médicos como tratamento pós-covid, para evitar a coagulação do sangue, que pode causar trombose. A infusão (chá) de canela também consta nesse formulário, sendo indicada para auxiliar no tratamento sintomático de queixas gastrointestinais leves, tais como cólicas, distensão abdominal e flatulência, e auxiliar no alívio sintomático da diarreia leve não infecciosa”, destaca.
Sandra Maria atua com a equipe da rede pública de saúde de Pindamonhangaba, que tem o Programa de Plantas Medicinais e Fitoterapia desde 1990. “No final de 2020, aprovamos um projeto de estruturação da Farmácia Viva para o município via edital do Ministério da Saúde, que ainda não foi implementado porque está sob análise do gestor até a presente data. A fitoterapia pode auxiliar muito em tempos de pandemia, com medicamentos de base natural, que têm efeitos comprovados cientificamente. Mas tem que haver orientações e treinamentos, tanto para os profissionais de saúde como para os usuários, pois se trata de plantas que têm princípios ativos com atividade biológica em nosso corpo.”
CONTRAINDICAÇÕES
Conforme Sandra Maria, em relação às plantas medicinais e aromáticas, caso do alho, cebola, canela e cravo, geralmente há contraindicações para pessoas alérgicas, crianças, lactantes, pessoas com doenças crônicas que usam remédios, por exemplo, para controle de pressão alta, diabetes etc., pois pode haver interação medicamentosa e causar complicações. “Mas se consumir esses alimentos de forma moderada, eles auxiliam na manutenção e promoção da saúde, com certeza.”
Esse quarteto é tão importante, que tem seus benefícios confirmados no Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), além de literaturas especializadas. E você pode acessar o Formulário de Fitoterápicos – Farmacopeia Brasileira – Segunda Edição 2021 da Anvisa com informações completas no link . E acompanhar as informações de Maria Cláudia Blanco, que também faz parte do grupo Saberes à Luz do Sol, responsável pela Semana de Fitoterapia de Campinas, e especialista em plantas medicinais e aromáticas.
CONHEÇA O QUARTETO SAUDÁVEL
1 – ALHO
Nome científico: Allium sativum L.
Nomes populares: alho-comum; alho-bravo, alho-hortense
Indicações terapêuticas principais (uso interno): antimicrobiano, antifúngico, antiviral, expectorante, antioxidante, imunoestimulante, antiespasmódico e antitrombótico. Atua como coadjuvante no tratamento de bronquite crônica, asma, sintomas de gripes e resfriados. Coadjuvante no tratamento da hiperlipidemia e hipertensão arterial leve a moderada, auxiliar na prevenção da aterosclerose.
Posologia e forma de preparo (uso interno): maceração de 1 colher de café (0,5g) do bulbo do alho para 1 cálice (30ml) de água. Tomar duas vezes ao dia, antes das refeições.
Observação: o uso terapêutico prolongado do alho pode ter contraindicações, por isso fale com um profissional da saúde antes de se medicar. Como alimento, não tem contraindicação, mas o calor diminui seus compostos bioativos, por isso prefira consumi-lo cru
2 – CEBOLA
Nome científico: Allium cepa L.
Nome popular: cebola
Indicações terapêuticas principais (uso interno): antimicrobiana e anti-inflamatória. Expectorante (bronquite e estados gripais). Fonte de vitaminas A, B e principalmente C
Posologia e forma de preparo (uso interno): suco com 3 a 5 colheres de sopa (9 a 15g) do bulbo picado para 1 xícara de chá (150ml) de suco de limão com mel.
Observação: a cebola, quando muito cozida e frita, perde quase a totalidade do seu valor curativo e nutritivo, pois perde a vitamina C e os demais nutrientes, restando basicamente o sabor
3 – CRAVO-DA-ÍNDIA
Nome científico: Syzygium aromaticus (L.) Merr.et Perry
Nomes populares: cravo-de-odor, craveiro-da-índia, cravo-de-cabecinha
Indicações terapêuticas principais (uso interno): antiespasmódico, carminativo (combate gases intestinais), antiagregante plaquetário, antioxidante, antimicrobiano
Posologia e forma de preparo (uso interno): infusão de 3 colheres de café (1,5g) para 1 xícara de chá (150ml) de água. Tomar duas a três vezes ao dia. Indica-se acrescentar mel
Observação: não há relatos de contraindicações, a não ser a pessoas alérgicas
4 – CANELA
Nome científico: Cinnamomum verum Blume
Nome popular: canela
Indicações terapêuticas principais (uso interno): classificada como planta "quente", tem propriedades anti-inflamatória, tônica, adstringente e antimicrobiana em afecções do aparelho respiratório, com possível atividade no sistema imune e carminativa (flatulência). Por suas propriedades, pode ser utilizada no controle de sintomas de gripes, resfriados, estados febris, tosse e afecções de vias respiratórias. Como antialérgica, pode ser usada em rinites, especialmente as provocadas por frio e umidade; dores no estômago; flatulência e náuseas
Posologia e forma de preparo (uso interno): decocção (canela em pau) – 1 colher de sobremesa (2g) de casca seca para 1 xícara de chá (150ml) de água. Tomar 1 vez ao dia (de preferência à noite, ao deitar-se). Por infusão (canela em pó) – 1 colher de café (0,5g) de canela em pó para 1 xícara de chá (150ml) de água. Esfriar e coar. Tomar uma vez ao dia (de preferência à noite, ao deitar-se).
RECEITAS*
De forma a disponibilizar compostos bioativos que podem fortalecer a imunidade, é importante a inclusão desses condimentos na alimentação diária. Nada como inserir no cardápio algumas receitas culinárias
1 – Manteiga de alho
Ingredientes: 100g de manteiga, 1 colher (sobremesa) cheia de alho amassado e 3 colheres (sobremesa) de salsa picada, bem fininha
Preparo: deixar a manteiga em temperatura ambiente, depois bater até ficar cremosa. Misturar o alho amassado e a salsa picadinha. Embrulhar em filme plástico e levar à geladeira por 20 minutos. Fazer um rolinho ou moldar no formato que desejar. Conservar em geladeira por até 45 dias ou no freezer por até seis meses
2 – Biscoitos da Alegria de Sta. Hildegarda de Bingen
Ingredientes: 400g de farinha de trigo espelta ("épeautre"), que pode ser substituída por farinha de trigo integral, 250g de manteiga, 150g de açúcar mascavo (diabéticos devem preparar sem açúcar), 200g de amêndoas (moídas ou trituradas), 1 colher (sopa) de canela em pó, 1 colher (café) de cravo (moído ou triturado), 1 colher (café) de noz-moscada ralada, 2 ovos, 1/4 de colher (café) de sal e água (de acordo com o que for preciso)
Preparo: colocar a farinha sobre a mesa de trabalho, mármore ou bacia larga. Acrescentar a manteiga derretida ou cortada em pequenos pedaços, depois o açúcar, as amêndoas, os ovos e as especiarias. Misturar tudo muito bem, depois amassar rapidamente e deixar em lugar fresco (ou na geladeira) por cerca de 30 minutos. Depois desse tempo, abrir a massa com 2 a 3mm de espessura e cortar em pequenas bolachas ou no formato desejado. Levar ao forno em uma assadeira forrada com papel-manteiga, por cerca de 20 a 25 minutos, a 180-200°C
3 – Vinho quente
Ingredientes: 2 pedaços de canela em pau, 6 cravos-da-índia, 1 e ½ xícara de açúcar, 2 xícaras de água quente, 1 garrafa de vinho tinto e 2 maçãs descascadas e picadas
Preparo: em uma panela, coloque o açúcar, a canela e o cravo-da-índia, leve ao fogo e quando começar a derreter coloque a água quente e mexa um pouco, adicione o vinho e quando levantar fervura acrescente as maçãs e deixe cozinhar em fogo baixo por cerca de 10 minutos, mexendo de vez em quando. Após esse período, desligar o fogo e servir quente. Opcional: colocar algumas tiras de casca de laranja para aromatizar
*Fonte: Maria Cláudia S. G. Blanco, engenheira-agrônoma da
Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo
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