Acostumado a estar sempre com os amigos, o servidor público Eduardo Souto, de 27 anos, começou a perceber que a vontade de ficar cercado por quem ama estava impedindo que ele vivesse determinadas experiências.
O rapaz viu que havia se tornado dependente de companhias para tudo o que queria fazer. Deixava de conhecer restaurantes, de ver uma peça no teatro e de curtir a estreia de um filme no cinema toda vez que não conseguia alguém para acompanhá-lo.
O rapaz viu que havia se tornado dependente de companhias para tudo o que queria fazer. Deixava de conhecer restaurantes, de ver uma peça no teatro e de curtir a estreia de um filme no cinema toda vez que não conseguia alguém para acompanhá-lo.
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O servidor público gostou da experiência, que o ajudou a ter mais autoconfiança e independência, e a transformou em hábito. Quebrar barreiras, improvisar e se virar sozinho se tornou um exercício de superação importante para ele. Todas as viagens internacionais, desde então, foram por conta própria.
Antes da pandemia, em fevereiro de 2020, Eduardo conheceu Nova York. "Tive a sorte de ter acabado de fazer uma viagem muito boa no limite. Em março, tudo fechou e foi aquela loucura. Depois dessa minha libertação, foi difícil ficar parado durante esse tempo", conta.
A RETOMADA Após mais de um ano sem colocar o pé para fora, Eduardo começou a se inquietar. O tempo livre permitiu que ele pesquisasse bastante e começasse a considerar o que achava ser um sonho impossível: conhecer Dubai. "Para mim, era um tipo de viagem que os meros mortais não poderiam fazer. Coisa só de gente muito rica mesmo. Era um sonho distante e pesquisando eu descobri que talvez conseguisse realizar."
Com a meta de conhecer um país diferente por ano pausada, o sonho distante começou a parecer mais próximo. Vendo que a situação vacinal e de restrições nos Emirados Árabes estava muito avançada e vislumbrando até mesmo a possibilidade de se imunizar do outro lado do mundo, Eduardo comprou um pacote para maio de 2021.
Ansioso, acompanhava avidamente as notícias de abertura e fechamento de fronteiras e chegou a mudar as passagens quando o país em que faria escala proibiu a entrada de brasileiros. "Bateu um desespero, eu já tinha reservado tudo. Todo o roteiro planejado, até pela necessidade do teste de COVID-19 com 72 horas", diz.
Sem saber se poderia embarcar, Eduardo revela que o risco valeu a pena, pois a sensação de voltar a viver, fazer planos e se arriscar para realizar sonhos foi importante para que ele não se entregasse aos sentimentos de desesperança trazidos pela pandemia.
"Tudo podia ir por água abaixo, e foi dinheiro e tempo que investi ali. Mas aprendi a sair da minha zona de conforto, entendi que se fosse esperar ficar com zero medo, fosse de viajar ou de pegar covid, eu não ia mais viver, pois o medo e o risco estão sempre ali. Precisamos tomar os cuidados necessários, claro, mas não deixar de viver", pondera.
"Tudo podia ir por água abaixo, e foi dinheiro e tempo que investi ali. Mas aprendi a sair da minha zona de conforto, entendi que se fosse esperar ficar com zero medo, fosse de viajar ou de pegar covid, eu não ia mais viver, pois o medo e o risco estão sempre ali. Precisamos tomar os cuidados necessários, claro, mas não deixar de viver", pondera.
Em Dubai, Eduardo conta que parecia estar vivendo tudo pela primeira vez e que aprendeu a valorizar pequenos prazeres que não percebia antes. Ver o rosto das pessoas, comer em um restaurante, e o simples ato de poder andar pelas ruas sem máscara, medida liberada no país, foram momentos mágicos para ele.
O servidor conta que ainda gosta muito de viajar e sair com alguém, mas hoje entende que a falta de companhia não pode ser um obstáculo para curtir novas experiências. "Sempre fui muito apegado e esse foi um aprendizado que as viagens solo me trouxe- ram. Eu me conheci mais profundamente e passei a apreciar muito minha companhia."
De olho no futuro, Eduardo sonha em acompanhar o campeonato mundial de vôlei na Rússia e na Holanda. Por enquanto, está apenas no planejamento e de olho nas medidas sanitárias. A princípio, ele vai sozinho, mas se alguém quiser acompanhá-lo na aventura, está de braços abertos.
Oportunidade de estudar ou trabalhar fora do país
Joana Gontijo
Compartilhar experiências e conhecimento, conhecer novas culturas e vivenciar o mundo, estudar ou trabalhar fora, ou somente viajar e viver por algum tempo. O intercâmbio é o foco principal de quem embarca, é adquirir saberes interculturais. Os programas são infindos e oferecidos por inúmeras instituições de ensino, podendo abarcar cursos de pós-graduação, doutorado, com bolsas ou não, e muita coisa mudou com a pandemia de COVID-19.
Na Faculdade da Saúde e Ecologia Humana (Faseh), os programas de intercâmbio agregam basicamente as áreas da medicina e saúde. Na instituição, não foi diferente do que aconteceu em muitas: a pandemia impactou diretamente qualquer tipo de intercâmbio internacional, como diz o professor do curso de medicina José Antônio Ferreira.
Por questões de saúde e segurança, o programa na Faseh foi suspenso e agora começa a ser retomado com a reabertura das fronteiras pelos Estados Unidos. Para evitar o risco de contágio e transmissão do coronavírus, a suspensão se deu não só para a ida dos alunos a países estrangeiros, mas também para a vinda de alunos de fora ao Brasil.
A Ânima Educação (grupo educacional mantenedor da Faseh), conta José Antônio, proporciona viagens para diversos lugares do mundo, como América do Sul e Europa. Especificamente no caso da Faseh, o programa contempla os Estados Unidos, por meio da parceria com as instituições Stanford University e Emory University, em Atlanta, e com a University of Miami.
"Vamos retomar o intercâmbio a partir deste ano. Existe uma série de documentações sobre o aluno que irá viajar que deve ser enviada antecipadamente, além da comprovação da vacina e teste de COVID-19, tanto na ida quanto para o retorno ao país de origem. Todo o processo deve ser iniciado com até seis meses de antecedência e o papel da Faseh é dar suporte ao aluno ao longo desse percurso até a concretização da experiência, incluindo cartas de recomendação, registro na instituição internacional parceira, visto e demais documentos necessários", conta o professor.
GANHOS NA FORMAÇÃO Os principais ganhos do programa de internacionalização envolvem a experiência cultural, diz o professor. O aluno tem a chance de imergir em uma cultura totalmente diferente, além do ganho de conhecimento. A Faculdade SKEMA Business School é outro exemplo de uma instituição que oferta o intercâmbio. A proposta educacional se diferencia de um simples intercâmbio para ser uma experiência completa que permite formação de excelência em diferentes áreas de conhecimento, para diferentes habilidades.
Logo nos primeiros dias em que foi identificado o contexto pandêmico, a SKEMA adaptou suas operações e sua infraestrutura, passando a oferecer aulas on-line aos alunos matriculados, conta a reitora da faculdade, Geneviève Poulingue.
"Agimos rápido para tentar reduzir danos e passamos a fomentar o acolhimento psicológico já oferecido a alunos brasileiros e estrangeiros. Nosso setor de atendimento ao aluno incrementou a presença especialmente junto àqueles fora de seus países. E os professores passaram a estar ainda mais próximos da coordenação dos cursos para atendimento a eventuais urgências emocionais ou de outra natureza."