Plié, derriére, balancé, allegro, adágio, balançoire, allongé, arrondi... Não é preciso saber francês ou decorar todas as palavras que indicam o que a bailarina deve executar para dançar balé depois dos 60 anos.
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Balé para idosos: dançar faz bem à vidaBalleterapia, saúde e prazer na dançaComo reconquistar o prazer sexualComo evitar lesões frequentes no baléAtividades físicas para idosos que querem começar a se exercitar em 2022Dicas para adaptar a casa e prevenir acidentes com pessoas idosas Balé: sonho de dançar não tem idadeGeração do quarto. Entenda esse fenômenoA psicomotricidade proporcionada pelo balé, e que é o equilíbrio entre o corpo e mente, garante mais estabilidade emocional e um físico com mais força e alongamento, garantindo o despertar do prazer, da emoção e da satisfação proporcionadas pela dança. E não importa a idade.
Sim, balé não é só para crianças ou jovens. Com a metodologia adequada para cada idade, o balé pode ser praticado em qualquer faixa etária com segurança. Pensando assim, Meiry de Paula, professora de balé e fisioterapeuta, criou em 2018 o Reabilitação e Ballet (R&B), projeto que desenvolve uma técnica específica para pessoas idosas e interessados que já tenham completado 50 anos.
Um trabalho que não visa somente à beleza e à leveza do balé, mas a importância dos seus movimentos como recurso terapêutico, um benefício físico e emocional capaz de auxiliar no tratamento de doenças associadas ao processo de envelhecimento, que comprometem o sistema musculoesquelético, contribui para a melhora da qualidade de vida e combate o preconceito do etarismo.
E, sim, em algum momento da vida, se quiser, vão estar aptos a subir num palco, participar de apresentações e mostrar à sociedade que idade não significa incapacidade.
E, sim, em algum momento da vida, se quiser, vão estar aptos a subir num palco, participar de apresentações e mostrar à sociedade que idade não significa incapacidade.
A técnica aplicada por Meiry de Paula trabalha o fortalecimento, alongamentos, coordenação, equilíbrio, marcha, entre outros movimentos, ensinando o balé numa versão mais leve e com mais cuidado. Todas passam por uma avaliação.
A ideia é conhecê-las melhor, a saúde, se fizeram alguma cirurgia recente, se têm hipertensão etc. O objetivo é descartar a impossibilidade de participar do balé. “Indico o Reabilitação e Ballet principalmente para idosas que estão em casa sedentárias, em casos de depressão, dores crônicas e outros casos.”
A intenção é que esse método opere como auxiliar no tratamento medicamentoso de doenças associadas ao processo de envelhecimento que comprometem o sistema musculoesquelético, tendo em vista a reabilitação física e mental por meio dos movimentos e da socialização, visando não somente ao prazer de dançar, mas ao desejo e à alegria de viver, a melhora da autoestima e da autoconfiança, a recuperação da força muscular, da flexibilidade, do equilíbrio estático e dinâmico e da mobilidade física, a analgesia, o alívio da tensão e do estresse, o aumento da disposição, e consequentemente a melhora da qualidade de vida.
O Reabilitação e Ballet, atualmente, funciona em uma sala doada dentro do Colégio Arnaldo. “A proposta do projeto é alcançar a terceira idade, contribuindo de maneira relevante na inclusão desta faixa etária na sociedade por meio da arte, visando à quebra do preconceito e ter a oportunidade de mostrar por meio do balé que envelhecimento, sem indicação de algum sinal de comprometimento funcional ou psicológico, não determina incapacidade e falta de aptidão. O trabalho é em prol do bem-estar físico e emocional.”
AULAS GRATUITAS
Os interessados podem entrar em contato pelo WhatsApp (31) 99493-4221 ou no site da Meiry. “Dar oportunidade a essa faixa etária com aulas de balé num ambiente exclusivo para elas é um privilégio. As aulas são totalmente gratuitas. Se não fosse o Colégio Arnaldo, eu não teria a possibilidade de atender as minhas alunas de maneira voluntária, já que o espaço é doado. E, futuramente, penso em abrir uma associação e submeter esse projeto às leis de incentivo à cultura”, diz.
Meiry tem mais de 25 anos de experiência com balé e revela que tudo o que sabe aprendeu com a irmã, Wilmára Marliére, que é bailarina, coreógrafa e maître. “Sempre dei aula para jovens. Com os idosos comecei em 2018, mas com a pandemia tive que parar o trabalho. Durante uma fase, cheguei a fazer live duas vezes por semana, inclusive, para alunas de outros estados. E criei um grupo no WhatsApp para enviar aulas também.”
Trabalhando na área de saúde como fisioterapeuta em Belo Horizonte, ela conta que teve a oportunidade de conhecer muitos idosos. Após tanto contato, só tinha certeza de que sua afinidade com eles não era por acaso. “Eu precisava fazer algo, alguma coisa que me mantivesse sempre perto deles, mas algo prazeroso, que não fosse numa clínica de fisioterapia. Foi assim que tive a ideia de unir a fisioterapia com o balé.”
Meiry destaca que o balé é para todos, não precisa ter feito dança. O balé contribui demais, tanto para a saúde física quanto mental. Mas, independentemente da arte, é indicado para prevenir doenças. No projeto, por enquanto, só tem mulheres, mas Meiry enfatiza que os homens são bem-vindos. É só chegar. E vale registrar que a aluna mais nova tem 57 anos e a mais velha caminha para os 80.
BALÉ, MISSA E CERVEJA
Aos 64 anos, aposentada, Rosângela Souza Jorge começou o balé em fevereiro e reencontrou a felicidade. “O balé chegou para preencher minha vida. É maravilhoso. Fui para conhecer e já comprei meu uniforme, a sapatilha, a meia e por lá fiquei. O balé me trouxe alegria, é o meu momento, onde esqueço os problemas. Aposentei-me, mas as atribulações continuam. Então, é uma hora única, em que estou encantada. É mágico”, diz.
Rosângela conta que foi costureira e trabalhou com moda, em fábricas, com facção por anos, fazendo roupas sob medida e depois consertos, e agora só pensa em curtir a vida. Não quer saber de ser uma aposentada dentro de casa, recolhida, nada disso.
Com um sorriso que contagia, ela revela que “nunca tinha dançado, balé para minha classe, sem grana, não era possível. Só ouvia falar, não tinha acesso, era caro, sem condição. Aposentada, também não tem como ter gasto extra, mas com aula gratuita é maravilhoso. Já tinha sonhado com o balé. Agora, estou realizando”.
Com um sorriso que contagia, ela revela que “nunca tinha dançado, balé para minha classe, sem grana, não era possível. Só ouvia falar, não tinha acesso, era caro, sem condição. Aposentada, também não tem como ter gasto extra, mas com aula gratuita é maravilhoso. Já tinha sonhado com o balé. Agora, estou realizando”.
Além de cuidar das suas articulações, dar mais energia para cuidar da mãe, Maria, de 88, e auxiliar o filho, Leonardo, de 27, que se formará em sistemas de informação, o balé trouxe novo ânimo para Rosângela: “Novas amizades, com encontros, conversas, bate-papo. A pandemia, acredito, nos forçou a procurar outras coisas para a vida depois de todo o isolamento, sem sair de casa. Com todo cuidado, o balé chegou para ficar. Quando fui conhecer, não contei a ninguém. Muitos podem estranhar, balé nesta idade? Revelei depois e todo mundo achou bacana. Agora, falo para todos, indico, seja no supermercado, na loja, vou incentivando. No passado, com 60 anos, as pessoas ficavam dentro de casa. Não mais. Tem que movimentar a vida, fazer o que quer, não tem nada a ver com idade, acredito que temos muito tempo de viver”.
Além do balé, Rosângela conta que barzinhos é outro programa certo: “O meu reduto é Santa Teresa, é o meu lugar para tomar uma cerveja à tarde. Eu e minha irmã vamos à missa da tarde no bairro e, depois, o destino é um boteco”. Com cuidado, com todas as doses da COVID-19 em dia e sem deixar de curtir a vida.