Seria o surto de hepatite aguda em crianças uma nova epidemia? Detectados em mais de 12 países, principalmente europeus, a Organização Mundial da Saúde (OMS) notificou mais de 169 casos, com 17 transplantes de fígado e um óbito. A origem dessa grave inflamação permanece uma incógnita.
As crianças afetadas têm entre 1 mês e 16 anos e, embora a real causa do problema não tenha sido identificada, a aposta dos especialistas é que a inflamação hepática seja consequência da infecção do adenovírus humano (HAdv). Em entrevista para a BBC News, a consultora médica Ukhsa, explicou que 77% das crianças examinadas testaram positivo para alguma forma de adenovírus e esse seria o "gatilho provável".
Leia Mais
Entenda por que você deve se vacinar contra a gripe todo anoTratamento para esteatose hepática requer atenção multidisciplinarAumento de casos de meningite volta a preocupar especialistas em saúdeCientistas descobrem causa provável de surto de hepatite infantil'Dois vírus comuns' estão por trás de surto de hepatite infantilSurto de norovírus em Salvador preocupa; entenda os sintomas da infecçãoEstações mais frias do ano podem aumentar o risco de AVCCâncer: o que os brasileiros pensam sobre a doença?Mamografia contrastada: novo exame pode ampliar detecção do câncer de mama 'Espelho fitness inteligente' promete melhorar nossos exercícios físicosO neurocirurgião Paulo Gontijo explica que o adenovírus é o grupo de vírus que normalmente causa doenças respiratórias, como resfriado, bronquite e até pneumonia. "É provável também que o adenovírus provoque infecções no trato intestinal das crianças, entretanto, não havia relatos de que vírus deste tipo causasse hepatite aguda em pessoas mais novas. A grande probabilidade é que o vírus tenha sofrido diversas mutações até ganhar a capacidade de causar inflamações no fígado", esclarece o médico.
O fígado é a maior glândula do organismo humano e essencial para o funcionamento do corpo. Ele atua eliminando substâncias tóxicas ao fazer uma espécie de filtragem do sangue. Também é responsável pelo armazenamento e liberação de glicose, no metabolismo de medicamentos e destruição de microorganismos e hemácias velhas ou anormais.
"Outras funções de extrema importância são a transformação de amônia em ureia, a produção de proteínas, dos fatores de coagulação, de triglicerídeos, do colesterol e da bile, além de se responsável pela digestão de gorduras", salienta Diogo Umann, clínico geral membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia e diretor técnico da Imedato Consultas e Exames.
Afinal, o que é a hepatite?
A hepatite aguda é uma inflamação grave que compromete as funções desse órgão. Quando não tratada, pode tornar-se uma doença crônica, levar à cirrose ou insuficiência hepática, e gerando a necessidade de um transplante de fígado, já que o corpo não consegue sobreviver sem o fígado. Na sua forma mais branda, a inflamação pode ser assintomática, ou seja, não apresentar sintoma algum, sendo detectável apenas por meio de exames clínicos.
Os sintomas variam do tipo de hepatite, assim, dependendo do tipo, pode reunir um ou mais dos seguintes sintomas listados por Diogo. São eles:
- Pele ou olhos amarelados;
- Sensação de fraqueza;
- Redução de apetite;
- Dor na região abdominal;
- Enjoos;
- Febre baixa;
- Mal estar;
- Dor nas articulações;
- Urina escura;
- Fezes claras;
- Vômito e até perda de memória.
Assim como no caso dos sintomas, as causas também variam de acordo com o tipo de hepatite. De acordo com o médico, os tipos A e E se dão pelo contato com água ou alimentos contaminados, sendo que o tipo E também pode ocorrer por meio do contato com fezes ou urina de pessoas contaminadas; os tipos B, C, D e G ocorrem através do contato com secreções ou sangue contaminados, sendo que o G também pode ser transmitido de mãe para filho no parto normal.
Além disso, na hepatite autoimune, explica Umann, o corpo produz anticorpos contra as células do fígado, que é gradualmente destruído, enquanto na hepatite medicamentosa ocorre a intoxicação do fígado pelo uso excessivo ou inadequado de medicamentos, fazendo com que a função do órgão seja comprometida, o mesmo ocorre com o abuso de álcool e drogas.
A maior parte dos tipos de hepatite possui tratamento, principalmente se detectado precocemente. Mas, independentemente do tipo, é importante que o diagnóstico seja feito na fase inicial da doença para evitar a progressão e a necessidade de realização de transplante de fígado.
Se o surto de hepatite aguda realmente estiver associado ao adenovírus, o ideal é que as pessoas, principalmente as crianças, mantenham os hábitos de higiene adotados durante a pandemia, como lavar sempre as mãos com água e sabão, usar álcool em gel, máscaras e evitar contatos com outras crianças com sintomas gripais.