A menstruação é, sem dúvida, um período que costuma causar desconforto para as mulheres. Cólicas, dor de cabeça, irritabilidade, inchaço e dor nas mamas e mudanças de humor são alguns dos sintomas que acompanham o ciclo menstrual que, normalmente, ocorre no intervalo de 28 a 30 dias, e que consiste no espaço de tempo entre uma menstruação e outra e que faz parte do processo reprodutivo da mulher.
O professor e doutor em ginecologia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCMMG), Walter Pace, explica que para muitas mulheres a supressão da menstruação ainda é um assunto que envolve alguns tabus: "Resistência associada a fatores culturais e à falta de informação podem influenciar na decisão da mulher de bloquear ou não a menstruação, mesmo quando surgem sintomas que interferem na qualidade de vida."
Walter Pace destaca que o tema ganhou notoriedade no Brasil e no mundo a partir dos estudos de Elsimar Coutinho, professor e doutor em ginecologia e cientista renomado que, com pioneirismo, defendeu a ideia de que a menstruação é um sangramento desnecessário ou inútil. "Entre suas contribuições para a ciência destacam-se “Is Menstruation Obsolete?” (A Menstruação é Obsoleta?”), publicado pela Oxford University Press, e “Menstruação, a sangria inútil” - em que revelou como a supressão menstrual pode contribuir para a saúde das mulheres."
É durante o ciclo menstrual que o corpo se prepara para a gravidez. A menstruação corresponde ao processo de descamação do endométrio (membrana interna do útero) quando não há a fecundação do óvulo pelo espermatozoide. A camada espessa, formada durante o período de preparação da gestação desprende-se da parede uterina ocasionando o sangramento.
Ainda é nesta fase que ocorrem importantes mudanças no organismo feminino devido às oscilações hormonais. "Os hormônios trazem, muitas vezes, uma série de manifestações clínicas que podem propiciar alterações emocionais. Como eles (hormônios) vão mudando durante o mês, os níveis aumentam e diminuem, o que faz com que haja alternância de comportamento da mulher."
A mudança de comportamento, aliás, é um dos fatores, conforme Walter Pace, que tem incentivado mulheres a buscarem tratamento para suspender a menstruação, "pois o bloqueio do ciclo menstrual favorece o equilíbrio no comportamento feminino que, naturalmente, é afetado por conta de intensas variações hormonais."
Doenças infecciosas e anemias
Outro fator que merece ser enfatizado, lembra Walter Pace, é que a menstruação pode causar consequências à saúde: "Quando o sangramento ocorre em excesso, não é raro o surgimento de anemias e doenças infecciosas."
Walter Pace diz que existe uma série de doenças que são hormônio dependentes, ou seja, quando não há o equilíbrio dos hormônios elas podem ficar mais prevalentes ou evoluírem rapidamente, principalmente, o estrogênio, que estimula a formação e o agravamento de doenças tais como, a endometriose, a miomatose, hiperplasia doenças de mama, entre outras.
"A supressão menstrual deve ser indicada nos casos em que a mulher apresenta sintomas que inviabilizam ou pioram a sua qualidade de vida, a exemplo de sangramento excessivo, tensão pré-menstrual (TPM), oscilações significativas de humor e as doenças hormônio dependentes – já mencionadas. Interromper esse processo pode prevenir doenças que prevalecem quando as mulheres menstruam."
Quais são os métodos para interromper a menstruação?
Walter Pace afirma que há muitas formas de suspender a menstruação. "A mais conhecida é por meio da utilização de pílulas anticoncepcionais. Em muitos casos, as mulheres recorrem a esse tratamento com o intuito de se livrar dos sintomas característicos dessa fase, com as cólicas e a tensão pré-menstrual, a TPM. No entanto, também há situações em que a supressão menstrual é indicada com o propósito de reduzir os riscos de doenças hormônio dependentes mais graves, como por exemplo, a endometriose, o câncer de útero e de ovário."
Como tudo evolui, Walter Pace destaca que hoje existem inúmeras alternativas medicamentosas capazes de diminuir os efeitos colaterais proporcionados pelo uso diário das pílulas. "Os mais eficazes são os implantes hormonais e o DIU. Os implantes hormonais nada mais são do que uma via de administração de hormônios."