Os surtos da chamada "varíola dos macacos" em mais de uma dúzia de países despertaram várias perguntas na comunidade científica e na população que ainda seguem sem respostas claras.
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No passado, o pequeno número de casos que surgiam em outras partes do mundo estava relacionado a pessoas que viajaram para países afetados e trouxeram o vírus para casa. Mas agora não está claro como as pessoas estão se contagiando.
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Embora os pacientes estejam evoluindo bem, a comunidade científica está trabalhando para entender melhor o que está acontecendo.
Confira abaixo algumas das principais incógnitas sobre a varíola dos macacos.
1. A varíola dos macacos pode se tornar uma pandemia?
"É bastante improvável", responde o professor Brian Ferguson, do Departamento de Patologia da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, à BBC News Mundo (serviço em espanhol da BBC).
Parece haver um consenso na comunidade científica de que estamos longe de a varíola dos macacos se tornar uma pandemia.
E por que é considerado improvável que a varíola dos macacos se torne uma pandemia?
A primeira razão é que é muito difícil transmitir de pessoa para pessoa, ao contrário de um vírus respiratório como o SARS-Cov-2.
A transmissão da varíola dos macacos ocorre quando uma pessoa entra em contato com o vírus através de um animal, humano ou materiais contaminados.
Não se sabe qual animal é o hospedeiro reservatório (principal portador da doença) da varíola dos macacos, embora se suspeite que roedores africanos estejam envolvidos na transmissão, de acordo com as diretrizes dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA.
Para se infectar a partir de outro ser humano, é necessário haver um contato próximo, com troca temporária de fluidos e atrito direto ou indireto com material infectado.
A segunda razão é que os sintomas óbvios da varíola dos macacos, especialmente o aparecimento de pústulas na pele, ajudam a identificar os casos mais rapidamente e a controlar os surtos com relativa facilidade.
E, finalmente, se trata de uma doença que, embora muitos não tenham ouvido falar até agora, é conhecida desde 1958 e é bastante estudada.
Mas os cientistas dizem que não se deve relaxar no combate à varíola dos macacos. Este é o maior surto do vírus já visto fora da África.
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2. Por que estamos vendo surtos simultâneos em vários países?
Responder a essa pergunta é a principal urgência para os cientistas — a chave para evitar que novos casos apareçam.
No momento, a varíola parece se espalhar principalmente com atividade sexual, o que não implica que ela seja uma doença sexualmente transmissível.
"Mas a ocorrência incomum de vários surtos em vários países significa que precisamos ter a mente aberta sobre o que aconteceu e não descartar nada imediatamente", diz Ferguson.
Por isso, atualmente estão sendo investigadas outras possibilidades de transmissão, como por meio de aerossóis, "caso tenha havido alguma alteração na forma como o vírus se transmite", diz o especialista da Universidade de Cambridge.
É muito cedo para se tirar conclusões, mas no momento não há evidências de que estamos lidando com uma variante desconhecida do patógeno.
As primeiras análises genéticas sugerem que os casos atuais estão fortemente relacionados com as formas do vírus observadas em 2018 e 2019.
Uma possibilidade é que o vírus simplesmente estivesse no lugar certo e na hora certa para se espalhar, como vimos na última década com os vírus Ebola e Zika, que sem mudanças em sua genética levaram a surtos inesperados.
O pesquisador médico Jeremy James Farrar, diretor do Wellcome Trust (uma instituição de caridade de pesquisa biomédica com sede em Londres) falou à BBC sobre a possibilidade de um "evento de superdisseminação" onde as pessoas foram infectadas e levaram o vírus para diferentes países.
3. Por que estamos vendo mais casos em homens homossexuais?
Os comportamentos sexuais facilitam a propagação? É apenas uma coincidência? A comunidade está mais atenta à saúde sexual e à realização de exames médicos que facilitem o diagnóstico?
O que se tem observado é que muitos dos afetados são jovens homossexuais e bissexuais, mas os cientistas alertam que "não há nada biológico no vírus que diga que essa comunidade é mais suscetível do que outras", diz Ferguson. Ele diz que é importante não se estigmatizar esse grupo.
"Todos somos igualmente suscetíveis à varíola dos macacos, pelo que sabemos. Não depende da preferência sexual e também não é uma doença sexualmente transmissível."
O motivo pelo qual esses surtos parecem atingir esse grupo demográfico com mais força pode ser mais uma questão de sorte do que uma característica específica na biologia do vírus.
Os especialistas consultados pela BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC, dizem que as crianças seriam mais suscetíveis ao vírus porque têm um sistema imunológico menos desenvolvido.
E porque a vacina contra a varíola humana, erradicada em 1980, parece funcionar contra a varíola dos macacos, quem tem mais de 55 anos de idade e recebeu o imunizante pode estar mais protegido do que adultos mais jovens que não foram vacinados.
4. Haverá muito mais casos nas próximas semanas?
É um pouco difícil de prever porque a magnitude das infecções e as razões pelas quais estamos vendo o maior surto desta doença fora da África ainda não são totalmente compreendidas.
No entanto, os especialistas insistem que, uma vez que os casos sejam identificados e os alertas de saúde emitidos, deve ser "relativamente fácil controlar os surtos".
"Agora que se sabe que o vírus está circulando e que essa informação foi dada à sociedade, o lógico é esperar que apareçam casos mais específicos, mas que no decorrer de quatro ou cinco semanas os casos desapareçam", disse à BBC Raúl Rivas González, professor de microbiologia da Universidade de Salamanca, na Espanha.
Os cientistas lembram que o que estamos percebendo é mais um exemplo do perigo que a humanidade enfrenta com os vírus emergentes, especialmente os de origem animal.
"O contato com animais silvestres está aumentando devido ao desmatamento, urbanização descontrolada, turismo e mudanças climáticas. Há uma série de fatores que, juntamente com a baixa imunidade de rebanho, fazem com que os surtos apareçam com mais frequência, que é o que está acontecendo", diz Rivas González.
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