Uma mulher que nasceu sem orelhas e que passou há 20 anos por uma inovadora cirurgia para colocar uma prótese contou à BBC como o procedimento mudou sua vida.
Até os 47 anos, Janet Craven conseguia ouvir mal e cobria o rosto com os cabelos porque se sentia mal com sua aparência.
Janet, de Wakefield, na Inglaterra, nasceu com a síndrome de Treacher Collins, uma doença genética rara que afeta a forma como o rosto se desenvolve — especialmente as maçãs do rosto, mandíbulas, orelhas e pálpebras.
Na juventude, ela passou por várias operações para reconstruir sua estrutura facial. Mas a cirurgia que mudou mesmo sua vida foi realizada muito mais tarde, quando próteses de orelhas, feitas de silicone, foram magneticamente presas à cabeça por meio de implantes de titânio no osso.
Ela também tinha um aparelho auditivo colocado em seu crânio, o que significava que ela podia ouvir apropriadamente pela primeira vez.
Janet, de 67 anos, conta que antes da operação seu aparelho auditivo era muito ruim e sua experiência com os sons era como estar em um "túnel".
"Quando as pessoas me falavam algo, eu só ouvia 10 minutos depois, então eu estava sempre atrasada nas conversas".
A irmã de Janet, Jackie Blackall, conta como o problema afetava a família. "Por causa dessa condição, nossa mãe era muito protetora com ela. Então, durante toda a vida de Janet, ela foi acolhida e era assim que costumava ser."
Janet diz que sempre se sentiu "fechada e tímida", mas ter orelhas significava que ela finalmente podia cortar seus longos cabelos, "se sentir mais normal, e usar brincos.
Ela disse que agora "nunca para de falar".
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"A cirurgia é realmente apenas um pouco de carpintaria de alta classe", disse. "As pessoas realmente inteligentes, na minha opinião, são os técnicos que passam horas esculpindo as orelhas, que é o que todo mundo vê."
Janet se lembra que, após a cirurgia, se sentiu nas "nuvens", embora tenha sido subitamente lançada em um mundo de barulhos que nunca tinha conhecido.
"Havia todos esses barulhos ao meu redor e eu não sabia de onde eles vinham. Eu estava parada no semáforo e congelei porque havia o som do trânsito, e coisas como o vento, que eu nunca tinha ouvido antes", conta ela.
Janet disse que demorou um pouco para se acostumar e suas próteses não chegaram sem problemas. Ela se lembra quando seu cachorro, um Yorkshire terrier chamado Kirby, comeu suas orelhas.
"Eu bebi alguns drinques, fui para a cama e esqueci de tirar minhas orelhas. O cachorro deve ter pulado na cama no meio da noite e comido. Acordei na manhã seguinte e havia muitos pedaços de silicone por toda parte. Meu brinco ainda estava lá, mas os ímãs se foram. Eu apenas olhei para Kirby e disse: 'não é possível que você fez isso'."
Ela levou o pet ao veterinário, preocupada com uma possível reação aos ímãs, mas, para seu alívio, ele saiu ileso.
Janet disse que outro momento memorável foi quando ela viajou de férias para o exterior pela primeira vez, e os ímãs e implantes acionaram o alarme no equipamento de segurança do aeroporto.
"A moça da segurança me disse: 'por que sua cabeça está apitando?'. Respondi: ''você realmente quer saber?'. Eu contei a ela sobre minhas orelhas e as tirei. Ela ficou tão chocada que desmaiou."
Os primeiros 12 meses depois da cirurgia foram "um pesadelo", diz Janet.
Dependendo das condições, novas orelhas são produzidas para ela a cada dois ou três anos.
Ela espera que o próximo conjunto de orelhas venha com mais furos para que ela possa usar mais brincos.
Janet também teve várias atualizações em seu implante auditivo, com o dispositivo atual conectado e controlado por meio de seu telefone celular.
Ela diz que sua esperança agora é arrecadar dinheiro para uma instituição de caridade, o Institute of Maxillofacial Facial Prosthetics and Technologists, bem como para o Bradford Teaching Hospitals, que a ajudam em seu processo.
"Eu realmente quero ajudar e dar algo de volta para aqueles que me ajudaram tanto", diz.
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