Lunático, surtado, esquizofrênico, imbecil, retardado, demente, maníaco. São palavras que costumam ser usadas de forma pejorativa na sociedade, em contextos variados, da política ao futebol, e muito além da esfera psiquiátrica. O que só reforça o preconceito que já existe em relação aos transtornos mentais e seus pacientes, como ocorre de maneira significativa com a esquizofrenia, doença lembrada mundialmente no último dia em 24 de maio.






Nesse contexto, a Janssen, empresa farmacêutica da Johnson & Johnson, em parceria com o Programa de Esquizofrenia (PROESQ) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a Associação Mãos de Mães de Pessoas com Esquizofrenia (AMME), a Associação de Crônicos do Dia a Dia (CDD) e a Associação Gaúcha de Familiares e Pacientes Esquizofrênicos (Agafape), fez uma campanha de conscientização "Ouçam Nossas Vozes", que conta com o lançamento do Dicionário Anticapacitista sobre saúde mental.

O dicionário conta com a curadoria de palavras a partir da escuta das famílias, pacientes com esquizofrenia e seus médicos sobre os termos e expressões que ouvem e potencializam o preconceito.

Seu objetivo é conscientizar a sociedade sobre a importância de combater os estigmas erroneamente atribuídos às doenças mentais, como a esquizofrenia, e promover o debate sobre a importância da linguagem inclusiva também em saúde mental, trazendo luz à luta contra o capacistimo – termo discriminativo que se refere à falta de aptidão e capacidade de uma pessoa com alguma deficiência (física ou mental) de realizar tarefas corriqueiras.

Dicionário Anticapacitista sobre saúde mental


O preconceito já começa na forma como as pessoas utilizam o termo “esquizofrenia” e outras palavras correlatas. O que pode impactar no entendimento das doenças mentais e dificultar o convívio social e a adesão ao tratamento adequado.



Por isso, o dicionário convida a sociedade a conhecer a origem dessas expressões, compreender seus efeitos e adotar alternativas. O material poderá ser acessado na íntegra, gratuitamente, no site da Janssen. 

“A falta de conhecimento sobre a doença e o preconceito podem impactar diretamente na vida da pessoa que tem esquizofrenia e em sua família. O preconceito é um dos principais impeditivos para que o paciente busque tratamento. Muitas vezes o próprio paciente e sua família encaram a doença com preconceito, não aceitando e nem procurando a ajuda médica. O que prejudica ainda mais o controle da doença, ampliando episódios de crises e internações”, reforça o  Rodrigo Bressan, psiquiatra e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

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A esquizofrenia não tem cura


Delírios, alucinações, alterações de comportamento, redução do afeto com as pessoas, isolamento social e dificuldade em iniciar e manter atividades são características da esquizofrenia, uma das doenças psiquiátricas mais graves e que atinge 1,6 milhão de brasileiros.



Considerada a terceira doença que mais afeta a qualidade de vida entre a população de 15 a 45 anos de idade, ela é definida como um transtorno mental grave que compreende manifestações variadas de pensamento, percepção, emoção, movimento e comportamento.

Não existe um exame laboratorial ou de imagem que identifique a esquizofrenia. O diagnóstico é clínico e baseado em critérios definidos, como o primeiro deles a presença de sintomas, e o segundo, a exclusão de determinadas condições.

Apesar de não ter cura, é possível que, com o tratamento mais adequado, a pessoa se recupere e volte ao convívio social e ao mercado de trabalho, evitando novos surtos psicóticos que podem causar perdas biológicas cerebrais.





O tratamento é multidisciplinar 


O tratamento para a esquizofrenia deve englobar abordagens múltiplas com o psiquiatra e equipe de saúde multidisciplinar, incluindo tratamentos medicamentosos, psicoterapia e acompanhamento psicológico, além da atenção de familiares e da rede de apoio.

“Quando a esquizofrenia não está controlada adequadamente com as medicações, o paciente pode ter crises psicóticas, alteração de comportamento e eventualmente internações. A cada episódio psicótico existe uma progressão da doença e uma piora da resposta às medicações, além de uma redução do volume cerebral. Mas, quando tratada correta e continuamente, os sintomas estabilizam e o paciente pode ter uma vida autônoma, produtiva e com qualidade de vida”, complementa Rodrigo Bressan. 

Campanha 'Ouçam Nossas Vozes'


Em seu quarto ano consecutivo, a campanha Ouçam Nossas Vozes tem como objetivo a conscientização sobre a esquizofrenia para alertar, levar conhecimento sobre a doença e combater os estigmas e preconceito existentes sobre saúde mental. Além disso, visa empoderar os pacientes e seus familiares na busca pelo diagnóstico correto e as melhores alternativas de tratamento para voltar a ter uma vida socialmente ativa. 

“A neurociência está diretamente ligada à história da Janssen. Nos anos 1950, o fundador da companhia, Paul Janssen, foi quem criou o primeiro antipsicótico que permitia o tratamento de pacientes em casa. E desde então, mantivemos o compromisso em buscar tratamentos e levar conhecimento que auxiliem os pacientes de saúde mental a ter mais qualidade de vida”, ressalta Luciana Sobral, diretora de comunicação & public affairs da Janssen Brasil.






Alguns exemplos citados em dicionários:

 
1 - “Surtado(a)”

Muitas pessoas utilizam a palavra “surto” para descrever mudanças de comportamento inesperadas ou desproporcionais diante de acontecimentos do dia a dia. No entanto, diferentemente do que ocorre em situações cotidianas específicas, como um acesso de raiva passageiro em meio a uma briga, por exemplo, o surto psicótico faz parte do conjunto de sintomas que caracterizam o diagnóstico de esquizofrenia. A pessoa diagnosticada pode apresentar alucinações, delírios, ansiedade, agressividade, pensamento ou comportamento desorganizados e dificuldade de comunicação.

Pessoas com esquizofrenia, quando não estão com os sintomas controlados pelo tratamento, podem ter quadros de surto. Chamar alguém de “surtado(a)” estigmatiza quem vive com essa condição.





Troque por: “Sem controle”, “Está impulsivo”, “Está descontrolado”
 

2 - “Você não tem ‘cara’ de esquizofrênico”


Sintomas de embotamento afetivo, ou seja, dificuldade de demonstrar emoções e sentimentos, podem modificar a expressão facial de pessoas com esquizofrenia, mas não causam mudanças na fisionomia e nos traços em si. Quando o indivíduo está em tratamento regular e com os sintomas controlados, não é possível notar que ele vive com esse transtorno psiquiátrico. Por isso, quando alguém compartilhar com você que foi diagnosticado com essa condição, evite este tipo de comentário.

Troque por: na realidade, não há substituição para esta expressão. Afinal, como já foi mencionado, a esquizofrenia não tem “cara”.

3 - “Você é lunático(a)”


O termo lunático é derivado da palavra latina lunaticus, que originalmente se referia principalmente à epilepsia ou à loucura, como doenças que se pensava serem causadas pela lua. Hoje, essa associação pode diminuir o caráter médico dos transtornos neurológicos e psiquiátricos, conferindo a eles um ar místico, o que alimenta mitos e desencoraja o acompanhamento especializado. Ao usar esta expressão, o interlocutor pode insinuar que a pessoa é perigosa, imprevisível e não tem controle sobre suas próprias ações. Palavras como “maníaco(a)” e “psicótico(a)” também devem ser evitadas.

Troque por: não há substituição para esta expressão. Por isso, é melhor não utilizá-la. 

 

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