O cigarro eletrônico vem se popularizando entre os jovens no Brasil, porém, causa sérios danos à saúde. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proíbe a comercialização, importação e propaganda de todos os tipos de dispositivos eletrônicos para fumar no Brasil. Por isso, o Disque Denúncia Unificada (181) encontra - se disponível para os cidadãos denunciarem, de forma anônima, postos de venda ilegais do produto.
Os locais que insistirem em vender o produto, podem ser multados, ter os materiais apreendidos e pode haver até mesmo a interdição parcial ou total do estabelecimento que comercializa.
Segundo o superintendente de Integração e Planejamento Operacional da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp), Bernardo Naves, essa atividade também pode gerar uma pena de reclusão de um a cinco anos. "Se alguém tiver informações sobre pontos de venda desses itens, a pessoa pode denunciar anônima e gratuitamente pelo 181. Dentro de 90 dias, o denunciante poderá ter o retorno sobre quais ações as polícias promoveram a partir da sua denúncia”.
Cigarro eletrônico e os perigos à saúde
É conhecido por diversos nomes, como vap, pod, vaper, e-ciggy e e-pipe. Pesquisas desenvolvidas sobre o cigarro eletrônico, inclusive comparando suas consequências com outras modalidades de fumo, mostra efeitos prejudiciais à saúde, podendo causar complicações respiratórias e cardiovasculares, além de dependência.
Esses dispositivos nasceram em 2003, com intenção de ajudar dependentes químicos do tabaco a parar de fumar, pois supostamente, continha menos nicotina do que outros tipos de fumo comuns. Porém, com o tempo, pesquisadores foram percebendo que ele não era livre de nicotina, e em alguns casos, tinha até mais do que a regulamentação da Anvisa permite para o cigarro branco, que é de 1mg por unidade.
Também foram observadas outras substâncias, potencialmente tóxicas e até mesmo cancerígenas. Justamente por isso que o cigarro eletrônico pode causar dependência, e o que deveria funcionar como uma “porta de saída” para o cigarro comum, acaba produzindo o efeito contrário, principalmente em jovens.
Maurício Góes, médico intensivista, pneumologista e secretário geral do Sindicato dos Médicos do Estado de Minas Gerais (Sinmed MG), ressalta sobre o perigo do uso do cigarro eletrônico. “ A faixa de 13 a 17 anos está no topo de buscas pelo produto, devido a falsa impressão de que não faz mal'', explicou.
Ele esclareceu ainda as substâncias presentes no vaper. “ A gente sabe que tem nicotina e outras substâncias químicas, até mesmo cancerígenos comprovados para pulmão, bexiga, esôfago e até estômago. Além disso, já foi relatado em outros países, risco de explosões do aparelho e intoxicação”.
O médico acredita que boa parte da fama do cigarro eletrônico venha da estratégia de divulgação utilizada pela indústria. “ A indústria do tabaco vê nas fábricas de cigarro eletrônico justamente uma oportunidade de passar para esses jovens a mensagem de que ele não faz mal e induz o grupo à dependência da nicotina”, explicou.
“Foram duas estratégias: primeiro eles falaram que o cigarro eletrônico funcionaria como uma redução de danos no organismo em relação ao cigarro convencional, porque a quantidade de nicotina era menor, mas já sabemos que não é isso. A segunda jogada foi que esses produtos não continham monóxido de carbono (CO), e assim seria possível utilizá - los em ambiente fechado”, completou.
Evali
As consequências a longo prazo do cigarro eletrônico, além das doenças já citadas, podem trazer à tona a doença chamada “Evali”. Evali é uma lesão pulmonar associada ao uso de cigarro eletrônico, sendo descrita pela primeira vez em 2019, nos Estados Unidos, em usuários de vaping. Acredita-se que tenha relação com um diluente utilizado nesses dispositivos que afetam o pulmão, causando um tipo de reação inflamatória no órgão.
Em um estudo publicado no periódico Thorax, foi revelado que o vapor emitido por cigarros eletrônicos pode ser responsável por desativar as principais células do sistema imunológico no pulmão e aumentar as inflamações no organismo.
Maurício argumenta sobre a Evali “ é uma inflamação aguda, que pode levar inclusive pacientes até unidades de terapia intensiva. Pode acarretar fibrose pulmonar e até mesmo pneumonia e insuficiência respiratória. Em 2020 nos EUA, foram relatados mais de 2500 casos de Evali, em homens em torno de 24 anos”, disse.
Por fim, não somente a substância contida no cigarro eletrônico, mas também a contaminação da superfície do produto, devido ao compartilhamento “ de boca em boca”, pode causar doenças. “ Além da própria substância, o compartilhamento desse produto entre amigos e colegas, pode trazer doenças como herpes, fungos e outros vírus como o COVID-19 e em casos mais sérios, até sífilis”.