A infertilidade acomete até 80 milhões de pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), dos quais cerca de 8 milhões são brasileiros. No mês mundial de conscientização da infertilidade, a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) chama atenção para a principal causa de infertilidade masculina: a varicocele.
De acordo com a OMS, o alerta de infertilidade é aceso quando há ausência de gestação após 12 meses de relação sexual regular sem contraceptivo. Os fatores causadores correspondem a 30% exclusivamente masculinos, 30% exclusivamente femininos e 40% de ambos os lados. Estima-se que a infertilidade atinja de 10% a 20% dos casais em idade reprodutiva.
"A varicocele é a causa de 40% dos homens que não conseguem engravidar suas parceiras e de até 80% dos homens que já têm filhos, porém perderam o potencial reprodutivo, tornando-se inférteis. É importante ressaltar que, embora seja um problema comum, que acomete cerca de 1/4 da população masculina, apenas 20% dos homens diagnosticados com varicocele terão infertilidade, mas ainda sim esses números são expressivos", alerta o supervisor da Disciplina de Reprodução do Departamento de Andrologia, Reprodução e Sexualidade da SBU, Daniel Zylbersztejn.
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Varicocele
A varicocele se caracteriza pela formação de varizes (veias dilatadas) internas para os testículos, mais frequentemente do lado esquerdo, podendo não ser perceptível facilmente pelo indivíduo, até porque frequentemente não produz sintomas.
O problema começa a surgir na puberdade (por volta dos 12-13 anos) em decorrência das transformações físicas e hormonais dessa fase, com aumento dos níveis da testosterona, ganho de peso e de estatura. "Essas rápidas mudanças físicas e hormonais geram sobrecarga nas veias testiculares, que se dilatam e não mantêm a integridade funcional, gerando o refluxo venoso", explica Daniel Zylbersztejn.
Para produzir bons espermatozoides, o testículo precisa estar 2ºC a 3ºC abaixo da temperatura corporal. Esse papel é desempenhado pela bolsa escrotal e pelas veias testiculares saudáveis. Quando as veias se dilatam, esse sistema de resfriamento e de retorno de sangue pode se tornar ineficiente, e o testículo poderá produzir gradativamente menos espermatozoides e em pior qualidade, o chamado estresse oxidativo, ou seja, uma produção excessiva de radicais livres que provocam dano celular progressivo.
A varicocele também possui um componente hereditário. É comum o adolescente que tem pai e irmão com histórico de varicocele desenvolver a doença.
Diagnóstico
O problema na maioria das vezes é assintomático. O diagnóstico é realizado por meio de exame físico, e o ultrassom da bolsa testicular com doppler colorido pode auxiliar no diagnóstico de forma complementar. É importante que essa avaliação seja realizada já na adolescência, período em que a doença se desenvolve.
A SBU, inclusive, realiza anualmente no mês de setembro a campanha #VemProUro, de conscientização da saúde do adolescente masculino. Pesquisa realizada pela entidade apontou que cerca de 30% dos adolescentes não vão ao médico regularmente. Como não costumam ir ao urologista com regularidade, a varicocele acaba não sendo detectada precocemente.
Quando não descoberta na adolescência, a varicocele vai ser diagnosticada provavelmente apenas na fase adulta, quando o homem apresentar dificuldade de engravidar a parceira e procurar ajuda do urologista.
Tratamento
A solução para a varicocele é sempre cirúrgica. O procedimento é coberto pelo SUS e o paciente geralmente tem alta pouco tempo após a cirurgia. A cirurgia melhora o potencial reprodutivo e aumenta as chances de o homem engravidar a parceira naturalmente.
Daniel Zylbersztejn ressalta, entretanto, que quanto maior o tempo de existência da varicocele, pior poderá ser para a função do testículo. "A detecção precoce na adolescência é a melhor maneira de prevenir a infertilidade na vida adulta, pois a correção cirúrgica da varicocele ainda durante o desenvolvimento testicular pode recuperar o potencial de produção de espermatozoides e permitir ao homem manter seu potencial fértil no futuro."
Outros agentes
A idade é outro fator importante tanto para mulheres quanto para homens. Nas mulheres, as chances de engravidar diminuem geralmente a partir dos 35 anos. Nos homens, estudos têm mostrado que pode surgir dificuldade a partir dos 45 anos. Além disso, espermatozoides produzidos em homens mais velhos têm maior risco de alterações cromossômicas, aumentando as chances de abortamento precoce, síndromes genéticas, autismo e esquizofrenia.
Outros fatores que prejudicam a fertilidade masculina incluem Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), tabagismo, uso de drogas, obesidade e sedentarismo. Já nas mulheres, os principais fatores costumam ser: síndrome do ovário policístico, ISTs e endometriose.
Outros hábitos também estão ligados à infertilidade no casal, como:
- Consumo exagerado de alimentos ultraprocessados;
- Dieta pobre em legumes, frutas e verduras;
- Ansiedade, insônia, estresse, depressão;
- Uso de testosterona ou anabolizantes;
- Doenças reumatológicas e inflamatórias que requerem o uso de imunomoduladores;
- Cirurgias ou doenças que alterem a ejaculação;
- Quimioterapia e radioterapia;
- Prática de esporte de alto rendimento que geram alto estresse no organismo.
A recomendação é sempre tentar identificar e tratar a doença que está causando a infertilidade a fim de que o casal possa alcançar a gravidez naturalmente. Quando isso não é possível, há tratamentos de reprodução assistida como a inseminação artificial e a fertilização in vitro (FIV), que são oferecidos na rede privada e em alguns serviços pelo SUS.