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Estado de Minas SAÚDE DOS PEQUENOS

Efeitos da pandemia: como lidar com os altos e baixos das crianças

O distanciamento de quem se gosta e das atividades de costume gerou prejuízos para a saúde emocional e psicológica dos pequenos


19/06/2022 08:00 - atualizado 19/06/2022 08:05

ilmara e Luiz Gustavo Trindade, pais de Dastan e Rayan
(foto: Arquivo pessoal)

"Estarmos unidos nesses momentos foi fundamental. Tentamos manter o equilíbrio"

Silmara e Luiz Gustavo Trindade, pais de Dastan e Rayan


A webdesigner Silmara Cardoso Trindade, de 46 anos, e o administrador Luiz Gustavo Rabelo Trindade, de 47, viram os filhos manifestarem diferentes sentimentos durante a pandemia. Dastan é o caçula, de 9, e o mais velho é Rayan, de 16. O que parecia uma certa diversão no início, com a suspensão das aulas, acabou se prolongando e o assunto virou coisa séria. 
 
Sobre o filho menor, Silmara conta que seu forte desejo de interação e socialização com amigos e primos e o empecilho para tanto foram motivos para agitação, tristeza e ansiedade. No caso de Rayan, que sempre foi um menino alegre, ele acabou apresentando um quadro de depressão –, muito pelo medo de ocorrerem situações ruins e diante da possibilidade de morte de pessoas próximas.

"Ficamos assustados. Rayan teve um estresse forte, chorava muito e parou de comer. Procuramos auxílio na terapia on- line", diz Silmara. A webdesigner conta também que teve dificuldade em se posicionar diante dos filhos restritos ao ambiente de casa, e a necessidade de auxiliá-los com as atividades escolares a distância, por exemplo, foi outro motivo de desgaste para ela.

"Ficamos cansados, exaustos. Em nossas conversas com os dois, procurávamos demonstrar a esperança de que tudo ia ficar bem. Estarmos unidos nesses momentos foi fundamental. Tentamos manter o equilíbrio emocional." Agora, com todos vacinados, Silmara fala sobre a dificuldade de se adaptar novamente a tudo que começa a voltar à normalidade. "Eles estão ansiosos, as crianças não são mais como eram", relata.

O que a família experimenta tem sido recorrente para muita gente. Impedidas de ir à escola, privadas do convívio com amigos, familiares como avós e primos, e limitadas a brincar fora de casa, as crianças foram duramente impactadas pela pandemia. Ainda que uma alternativa seja o universo digital, com sua lista de benefícios, o distanciamento de quem se gosta e das atividades de costume geraram prejuízos para a saúde emocional e psicológica dos pequenos. É o alerta que faz o casal de médicos Thanguy Friço e Patrícia Friço.

ALTERAÇÕES 

Segundo os especialistas, é importante estar atento a alguma alteração brusca ou exagerada de comportamento da criança, como agressividade, agitação, inquietude ou dificuldade em manter a atenção, problemas escolares e regressão de alguma fase do desenvolvimento. "Essa faixa etária é mais vulnerável a essas mudanças que a pandemia impôs, por estar em franca fase de amadurecimento psíquico e de desenvolvimento físico e motor", esclarecem.

Thanguy e Patrícia contam que, do início da disseminação do coronavírus até hoje, têm recebido pacientes com desequilíbrios emocionais, além de muitas situações que surgem a partir do relato de pais e responsáveis pelas redes sociais, pedindo orientação sobre como podem ajudar os filhos. "Os problemas mais recorrentes são ansiedade, déficit de atenção na escola e também depressão, que vem acontecendo cada vez mais entre os mais jovens."

Dificuldade de verbalizar dores e inseguranças

Um ponto importante a ser observado, de acordo com os médicos, é se as crianças ficam doentes sem que os pais encontrem uma causa biológica ou física para esse quadro. Isso pode acontecer, explicam, porque as crianças muitas vezes não conseguem verbalizar suas dores e inseguranças. 

Dessa forma, podem aparecer sintomas comportamentais ou mesmo físicos. Ou seja, é o corpo falando pela criança. "Se seu filho ou filha está manifestando sinais como dor de cabeça, febre ou dor de barriga, sem que exista uma explicação médica, é importante procurar ajuda profissional", orientam.

EXEMPLOS 

Antes de mais nada, os pais precisam lembrar que são exemplos para os filhos. A criança pode estar vivendo uma montanha-russa de emoções, com mudanças de atitudes que podem acontecer de uma hora para outra. Mas, por mais tentador que possa ser, é importante que pais e mães não embarquem nessa onda, nas palavras dos profissionais.

"Mantenha seus pés no chão, procure se acalmar e esteja pronto para guiar seu filho quando ele retornar ao estado de tranquilidade. Talvez seja importante respirar fundo ou até sair de perto quando ele começar a tirar você do sério. Se você conseguir manter a calma enquanto eles estão fora de controle, estará mais apto a falar sobre a vida deles quando a situação acalmar", ensinam.

Outra questão importante é incentivar a viver os sentimentos. "As emoções, sejam boas ou ruins, não são erradas e os filhos não devem ter vergonha delas. E os educadores também têm um papel central no ensino do controle emocional das crianças e adolescentes", dizem Thanguy e Patrícia.


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