Pais estão sempre preocupados com a saúde de seus filhos. Quando são crianças pequenas, então, qualquer tosse acende o sinal de alerta e faz com que saiam correndo para o pronto-socorro. Mas tão importante quanto reparar na menor alteração física dos filhos é ficar de olhos bem abertos à saúde psíquica deles. "Criança emocionalmente saudável não é aquela que não chora, tampouco que não se frustra ou se irrita, mas aquela que aprimora constantemente a compreensão sobre as próprias emoções”, explicam os médicos Thanguy e Patrícia Friço.
A pandemia trouxe novas reflexões nesse contexto. Um turbilhão de sentimentos vem à tona, e as crianças precisam lidar com eles. Neste ponto, conforme os médicos, vale ressaltar o conceito de inteligência emocional – habilidade de reconhecer os próprios sentimentos, compreender os dos outros e saber lidar com eles. “Quando as crianças têm a inteligência emocional aprimorada, encontram a serenidade e o discernimento necessários para que suas funções cognitivas trabalhem plenamente”, afirmam.
Patrícia destaca que a dificuldade em conviver com as próprias emoções pode acarretar uma série de problemas, não apenas emocionais, mas também físicos, e orienta os pais a prestar atenção em sinais que podem indicar algum grau de desequilíbrio. Ela cita exemplos como problemas para se concentrar nas tarefas do dia a dia, irritabilidade exacerbada, descontrole, insônia, gastrite, dores de cabeça e na musculatura, e depressão.
A médica faz um alerta aos pais para que procurem também por indícios que mostrem que seus filhos estão passando por quadros de ansiedade. “Segundo uma pesquisa desenvolvida pelo professor Fernando Asbahr, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), cerca de 10% das crianças e dos adolescentes já sofrem de ansiedade”, diz. Ou seja, a ansiedade nesse período da vida já é uma realidade, que pode se transformar em um problema sério se não controlada, pois prejudica o desenvolvimento e dificulta tarefas simples do cotidiano. E é o que muito vem acontecendo com a pandemia.
ENDORFINA
Além do diálogo, Thanguy sugere tentar encontrar atividades que ajudem a aliviar os sintomas dos filhos. Segundo o médico, a prática de atividade física é uma boa aliada nesses momentos, pois libera o hormônio endorfina, muito importante no combate à ansiedade. Outro ponto fundamental é fazer com que a criança tenha uma alimentação balanceada. “Isso é imprescindível para diminuir a probabilidade de transtornos alimentares ligados aos problemas emocionais típicos na infância”, declara.
Convivência agradável e sadia
O casal de médicos ressalta a importância de acompanhar e resolver esses problemas no seio familiar. Eles afirmam que é em casa onde acontecem as primeiras interações sociais, importantes para o desenvolvimento físico, cognitivo e emocional de uma pessoa. “Por isso, é fundamental que todos os membros da família estejam envolvidos e preocupados em conviver de maneira agradável e sadia”, argumentam.
Eles lembram que os pais são os principais exemplos de saúde e de controle emocional para seus filhos. A criança certamente observa a maneira como lidam com seus sentimentos, para dar conta dos próprios.
"Portanto, procure maneiras saudáveis de lidar e expressar o que você sente. É importante também que seu filho veja como você se sai de situações em que o estresse o faz chegar ao limite, além de mostrar aos seus filhos que conseguem manter o controle das emoções e que sempre estarão presentes ao lado deles. Nessa fase, ocorre um mar de emoções confusas, por isso os filhos precisam ter pais que estejam estáveis emocionalmente", pontuam.
Apesar de parecer que a pandemia está mais controlada, isso pode ser um engano, na opinião dos médicos. Surtos devem continuar acontecendo em ondas, mesmo com a vacinação em massa da população. "Pais e educadores terão que aprender a conviver com as novas realidades e também com as formas de comunicação das novas gerações, para dar o suporte necessário para que os filhos enfrentem esse novo momento."
OUTRAS DOENÇAS
Ao abordar o tema pandemia, continuam Thanguy e Patrícia, é preciso orientar as crianças sobre a necessidade de preservar a saúde para enfrentar de forma mais adequada essa e todas as outras doenças que possam surgir. "Se conseguirmos controlar os quatro elos da saúde (alimentação saudável, atividade física diária e regular, sono restaurador e controle emocional), estaremos muito mais preparados para viver qualquer desafio que vier pela frente. Não precisamos ter medo nem dessa pandemia e nem de outras doenças que poderão surgir, porque estamos construindo uma saúde sobre bases sólidas", argumentam.
GESTAÇÃO NA PANDEMIA
A família dos advogados Roberta Lessa Rossi, de 40 anos, e Gotardo Gomes, de 42, aumentou em plena pandemia. As filhas Sarah, de 11, e Luísa, de 7, acabam de ganhar uma irmãzinha, a pequena Bella, de 1 ano e cinco meses.
Mas passar por uma gestação em meio a toda a problemática com o coronavírus não foi tão simples assim. Roberta conta que as meninas tiveram receio de que algo pudesse acontecer com a bebê e os pais, propriamente. Isolados de tudo, a família se viu restringida ao espaço de casa; as garotas foram privadas da convivência que sempre foi próxima com os avós maternos, além de todo o medo sobre a doença em si, principalmente ao acompanhar o noticiário.
"Tinham medo de sair de casa, de entrar no elevador e ter alguém infectado. Luísa, mais sentimental, ficou assustada, com medo. Quando o pai saía para trabalhar, chorava com medo de ele ficar doente. Já a Sarah, sempre agitada e cheia de energia, presa em casa acabou ficando estressada, nervosa, irritada", conta Roberta.
Logo após o nascimento de Bella, a família inteira contraiu a COVID-19. A caçula apresentou 24 horas de febre, Sarah e Luísa tiveram sintomas leves, como coriza, Roberta e o marido ficaram um pouco pior, mas não foi necessária hospitalização.
Por fim, a experiência fez com que se acalmassem, percebendo que a doença não se manifestou de uma maneira tão grave assim. Aos poucos a vida vai retomando o prumo. "Voltaram à escola, fazem ginástica, gastam energia. O medo diminuiu. Viram que a doença está sob controle, que vai dar tudo certo, que todos ficarão bem", diz Roberta.