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Estado de Minas PESQUISA DA UFMG

COVID: estudo da UFMG revela suspeita de atraso no comportamento de bebês

Fatores de risco no ambiente familiar, como a insegurança alimentar, abuso de álcool e drogas e depressão materna podem explicar o cenário.


21/06/2022 08:46 - atualizado 23/06/2022 14:00

A mestranda Isadora Martins, do PPG Saúde da Criança e do Adolescente, em avaliação de um dos bebês participantes da pesquisa
A mestranda Isadora Martins, do PPG Saúde da Criança e do Adolescente, em avaliação de um dos bebês participantes da pesquisa (foto: Arquivo pessoal)

Uma pesquisa coordenada por professores da Faculdade de Medicina da UFMG está acompanhando 560 bebês nascidos durante a pandemia de COVID-19 para avaliar os impactos da infecção durante a gravidez e da própria pandemia no desenvolvimento e comportamento das crianças nos primeiros dois anos de vida. Resultados preliminares apontam para alta prevalência no número de casos suspeitos de atraso no desenvolvimento infantil. 

A primeira triagem foi feita aos seis meses de vida, por meio de inquérito telefônico realizado com as mães, usando um instrumento padronizado chamado SWYC. Os resultados preliminares indicam que 22% dos bebês apresentaram suspeita de atraso no desenvolvimento global e cerca de 52% apresentavam algum tipo de problema de comportamento, como irritabilidade e inflexibilidade. 
 

Chamou atenção dos pesquisadores a presença de fatores de risco no ambiente familiar, como uso abusivo de álcool e drogas (32%), insegurança alimentar (29%) e depressão materna (16%). "Comparando com estudos anteriores, a vulnerabilidade psicossocial encontrada nesta amostra foi superior à observada antes da pandemia", afirma a professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, Cláudia Lindgren. 


Agora, aos 12 meses de vida, os bebês estão passando por avaliação do desenvolvimento e da linguagem para confirmação do diagnóstico. "Fazemos uma série de testes para confirmar a suspeita de atraso e, se necessário, começar uma intervenção o mais cedo possível e minimizar os possíveis prejuízos a longo prazo", pontua a professora. 
 
Professora do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da UFMG, Stela Maris Lemos, e estudante de Fonoaudiologia, Ana Luiza Araújo, fazem o teste ADL para identificar problemas de linguagem. Foto: Arquivo pessoal.
Os bebês que participam da pesquisa nasceram no início de 2021 nos municípios de Uberlândia, Ipatinga, Contagem, Nova Lima e Itabirito e estão sendo acompanhados desde o nascimento. A pesquisa de anticorpos contra o coronavírus foi feita na primeira semana após o parto. Os participantes foram separados em dois grupos, sendo um com 196 mães com sorologia positiva para COVID-19 e, outro, com 364 mães que testaram negativo. 

Não foi observada diferença no desenvolvimento dos bebês entre os dois grupos. "Nossa hipótese é que os riscos ambientais se sobrepõem aos efeitos diretos da infecção pelo SARS-CoV-2 nos bebês durante a gestação, estando os problemas de desenvolvimento e comportamento mais relacionados com o estresse psicossocial vivido pelas famílias durante a pandemia", observa a professora.

Desde abril de 2022, os casos com suspeita de atraso estão sendo avaliados presencialmente com testes para diagnóstico de problemas de desenvolvimento e de linguagem, chamados Escala Bayley e ADL, que trarão melhores evidências sobre o cenário. Ao todo, o acompanhamento irá durar por dois anos e será feito via inquéritos por telefone, consultas e testes de desenvolvimento dos bebês dos grupos soropositivo e controle. 

Primeira fase

Na primeira fase do estudo, a equipe utilizou o teste do pezinho e testagem das mães para identificar a exposição ao SARS-CoV-2 durante a gestação e descobriu que a maioria das gestantes que se infectaram passaram anticorpos para os bebês por via transplacentária. O estudo conta com a parceria do Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico (Nupad), da Secretaria Estadual de Saúde (SES-MG), da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e do CT-Vacinas da UFMG. Os pesquisadores recebem, ainda, a consultoria do professor Anuraj Shankar, da Universidade de Oxford.

Os critérios para a escolha dos cinco municípios foram a taxa de prevalência de COVID-19, o número de nascimentos por mês e a existência de rede de apoio para eventual necessidade de reabilitação das crianças com alterações nos testes de neurodesenvolvimento. A interlocução é feita pela SES-MG, que demandou o estudo para apoiar o planejamento em saúde pública no estado.


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