Preservar pernas e pés, aneurismas de aorta abdominal e torácico, além do ganho em qualidade de embolização de tumores como tratamento paliativo. Essas foram algumas novidades do Leipzig Interventional Course (LINC 2022), em Leipzig, na Alemanha, um dos maiores congressos de cirurgia endovascular do mundo.
O cirurgião vascular e endovascular mineiro Josualdo Euzébio da Silva, que participou dos três dias de evento, destacou as inovações demonstradas para a melhoria no salvamento de membros inferiores e membros e órgãos superiores. “Os procedimentos minimamente invasivos ganham ainda mais espaço na medicina, gerando vantagens como menor tempo de internação e riscos de infecção”, destaca.
MENOS INVASIVAS
O tratamento endovascular introduz cateteres no sistema vascular, via artéria femoral ou radial, guiado por um sistema de raios X, usando tecnologia em tempo real para a visualização. Enquanto a cirurgia vascular faz incisões na superfície do organismo (na pele), que se prolongam pelo interior do corpo até o vaso (para tratamento), a cirurgia endovascular chega ao local com punções de artérias ou veias em áreas superficiais com técnicas pouco invasivas, usando pequenas incisões.
Segundo o cirurgião, a evolução aumenta o salvamento de pernas e pés, evitando a amputação em pessoas com doença aterosclerótica avançada, comum entre pacientes com diabetes e fumantes.
As intervenções para tratar esses membros com “pontes” utilizam a veia safena por meio de grandes cortes. “A intervenção apresenta excelentes resultados; no entanto, é um processo mais agressivo, com maior perda de sangue e uma recuperação mais demorada”, avalia.
Ele explica que a amputação é indicada para quem tem entupimento ou uma obstrução em pernas e pés, comprometendo a circulação do sangue. O grande corte da cirurgia terá maior risco de infecção com mais sofrimento e comprometimento dos resultados. “O congresso mostrou novos cateteres com poder de maior penetração, decorrente do uso de insumos diferenciados em sua fabricação. O fio é muito mais delicado para maior eficiência do processo”, conta.
STENT
A evolução chegou também ao stent, um pequeno e expansível tubo tipo “malha”, feito de metal, como aço inoxidável ou liga de cobalto. O especialista esclarece que os stents servem para restaurar o fluxo sanguíneo na artéria coronária, retomando um ritmo quase normal.
“Alguns desses materiais já existem no Brasil e outros ainda chegarão. O stent com droga, por exemplo, proporciona uma melhor permeabilidade da artéria por mais tempo, inclusive com maior durabilidade. A angioplastia é muito recomendada para pacientes graves, mas sem indicação de cirurgia. O processo ocorre com pequena incisão, sendo minimamente invasivo e com resultados mais eficazes”, relata.
Os novos cateteres também são eficientes para a extração de trombos, proporcionando o imediato restabelecimento da circulação. A trombose venosa é a formação de coágulos (trombos) no interior das veias que podem se deslocar até o pulmão, causando a embolia pulmonar, condição responsável por uma em cada quatro mortes no mundo. O angiologista cita que novas drogas e técnicas podem retirar o trombo desse órgão, evitando situações mais críticas.
O tratamento da trombose venosa ainda pode ser feito com medicamentos. O congresso também apresentou inovações em drogas para esse processo. Ele ressalta que a trombose em veias muito finas, principalmente abaixo dos joelhos, responde bem a essa nova medicação. A situação é uma preocupação médica, pois a trombose em veias mais grossas, entre a virilha e o umbigo, apresenta risco maior por ser uma área com veias mais calibrosas.
Foco na redução do número de mortes
As novidades do evento deixam claro que, paulatinamente, será possível reduzir as ocorrências de mortes, sendo, perfeitamente possível tratar e curar indivíduos com doenças de circulação mais graves. Os palestrantes exibiram técnicas e procedimentos ainda mais modernos para cuidar dos problemas arteriais, evitando a cirurgia aberta como indicação mais frequente da intervenção endovascular.
A mesma inovação em cateteres e técnicas também permite cuidar das lesões de artérias carótidas, responsáveis pela circulação cerebral, usando um pequeno furo no braço ou na virilha para implantação de um stent, restabelecendo o fluxo sanguíneo. É importante alertar que as placas nas carótidas respondem pela grande parte dos acidentes vasculares cerebrais.
O aneurisma de aorta é conside- rado uma doença grave por dilatar a maior artéria do corpo. A condição requer um diagnóstico precoce, cujo tratamento, em casos iniciais, é feito a partir de medicamentos e mudança de hábitos de vida, como, por exemplo, parar de fumar. Até então, a opção disponível era apenas cirúrgica e com grandes incisões no abdômen e/ou tórax.
Atualmente, os dispositivos de alta tecnologia já propiciam pequenas incisões em estruturas hospitalares com aparelhos modernos, permitindo uma recuperação mais rápida. A técnica de embolização, inclusive com esses avanços, também pode ser indicada, cada vez mais, para o tratamento de miomas uterinos com a preservação do útero e para pacientes com tumores que não podem mais ser removidos cirurgicamente.
“Vale observar que essas doenças também são identificadas em fases graves, ou evoluem para situações arriscadas e, mesmo com toda essa tecnologia, os resultados podem não ser favoráveis. A recomendação é cuidar da saúde com atividade física, evitar o tabagismo, manter uma alimentação saudável, controlar o peso, colesterol, pressão arterial e diabetes”, finaliza.