Estimular nervos da medula espinhal que sobreviveram a uma lesão grave pode melhorar o controle motor do membro danificado, permitindo que o paciente recupere parcialmente o movimento, segundo um estudo liderado pela Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos. Resultados da fase pré-clínica, feita com três primatas não humanos, foram publicados na revista Nature Neuroscience.
Deficits na mobilidade do braço e da mão - desde limitações em dobrar o pulso até a incapacidade de mover todo o membro - são algumas das complicações que mais alteram a funcionalidade de pacientes de derrame e de pessoas que sofreram paralisação. Mesmo os mais leves limitam significativamente a qualidade de vida e a autonomia, tornando a restauração do controle um foco importante no campo da neurorreabilitação. No entanto, não existem terapias ou tecnologias médicas que permitam, hoje, melhorar a função perdida do membro superior.
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Testes para COVID: o que explica teste negativo em tantos infectados?Câncer de mama: Minas registra 122,8 mil mamografias no 1º semestre de 2022Quais os melhores tratamentos contra piolhos?Livro aborda conscientização sobre síndrome raraSegundo Capogrosso, que é professor-assistente de cirurgia neurológica e integrante dos Laboratórios de Reabilitação e Engenharia Neural de Pitt, uma ampla gama de movimentos e habilidades dos membros superiores diferencia primatas e humanos de outros mamíferos. A capacidade de girar o ombro, dobrar o cotovelo, flexionar e estender o pulso e alterar a pegada com diferentes posições dos dedos permite um controle extraordinariamente complexo da maneira como seguramos objetos e interagimos com o mundo, argumenta o cientista. "Essa incrível habilidade também é o que torna a restauração do movimento do braço e da mão extraordinariamente difícil."
Naturalidade
Os pesquisadores de Pitt depararam-se com um desafio: desenvolver uma tecnologia que pudesse ativar os nervos saudáveis restantes que conectam o cérebro e a medula espinhal para controlar os músculos do braço a partir de estímulos externos. Além disso, a abordagem precisava ser perfeita e exigir pouco ou nenhum treinamento para ser usada, permitindo que os indivíduos continuassem a executar as tarefas motoras da maneira que faziam antes da lesão.
Para testar a tecnologia, os pesquisadores trabalharam com três macacos com paralisia parcial do braço. Os animais foram treinados para alcançar, agarrar e puxar uma alavanca para receber a comida favorita. Além dos implantes cerebrais que detectam a atividade elétrica das regiões que controlam o movimento voluntário, as cobaias receberam um pequeno conjunto de eletrodos na coluna, conectados a um estimulador externo do tamanho de uma borracha. Os dispositivos eram ativados quando aqueles implantados no cérebro detectavam a intenção do primata de mover o braço.
"Nosso protocolo consiste em padrões de estimulação simples que são iniciados pela detecção da intenção do animal de se mover", disse a coautora Sara Conti, da Escola Médica de Harvard e do Hospital Infantil de Boston. "Não precisamos saber para onde o animal quer se mover. Só precisamos saber que eles querem se movimentar, e extrair essa informação é relativamente simples. Nossa tecnologia pode ser implementada em clínicas de muitas maneiras diferentes, potencialmente sem exigir implantes cerebrais."
Os eletrodos, o design e a colocação do estimulador - sobre as raízes nervosas que brotam da medula espinhal em direção aos músculos do braço e da mão - foram amplamente testados, usando uma combinação de algoritmos computacionais e imagens médicas. Isso garantiu que a anatomia exclusiva de cada macaco fosse compatível com o dispositivo.
Mais eficiência
A análise mostrou que, embora não seja suficiente para restaurar completamente a função do braço, a estimulação melhorou significativamente a precisão, a força e a amplitude de movimento, permitindo que cada animal mexa seu braço com mais eficiência. Os macacos continuaram a melhorar à medida que se adaptavam e aprendiam a usar a tecnologia.
"Dar um passo para trás e enfrentar um problema clínico muito complexo de uma perspectiva diferente e mais simples em comparação com qualquer coisa que foi feita antes abre mais possibilidades clínicas para pessoas com paralisia de braço e mão", disse a coautora Beatrice Barra, pesquisadora visitante em Pitt e, atualmente, na Universidade de Nova York . "Ao construir uma tecnologia em torno do sistema nervoso que imita o que é naturalmente projetado para se fazer, obtemos resultados melhores"