Uma avalanche de informações. Estímulos que partem de todos os lugares. Experiências instantâneas, sensações que correm em velocidade ímpar, uma fugacidade perigosa. A facilidade de acesso, um fluxo sem critérios. Tudo acontece o tempo todo, e chega sem filtros por uma infinidade de canais. Quando se pensa em crianças e jovens, estar sempre conectado pode não ser algo tão corriqueiro e inofensivo assim.
O consumo de séries e filmes, por exemplo, pode acarretar consequências que devem ser consideradas. Não é qualquer temática que se adequa a cada faixa etária, e essas são circunstâncias com reflexos diretos no comportamento desse público. Para pais, responsáveis e educadores, sinal de alerta. Acompanhar o que os filhos procuram, o que gostam de assistir, acaba sendo uma medida importante para a manutenção da saúde, psicológica e emocional. Afinal, toda exposição excessiva precisa ser evitada. São seres humanos em formação.
A administradora de empresas Luciana Guimarães de Morais, de 50 anos, é mãe de Manuella, de 14. A menina começou a se interessar pelo celular e o universo digital aos 10. Na casa, praticamente todos os canais de streaming estão acessíveis. O interesse maior de Manuella é por séries voltadas para adolescentes, filmes da Marvel, “Star wars”, entre outros. Também vídeos pelo Instagram e TikTok, acompanhando memes e coisas engraçadas, tudo adequado para sua idade. "Ela ri o tempo todo", diz Luciana.
Depois que chega da aula, após o almoço, a não ser no intervalo separado para estudar, Manuella fica praticamente o dia inteiro conectada, até a hora de ir dormir, e por mais tempo ainda nos fins de semana. A mãe sabe bem o que a filha acessa – a relação entre as duas é de transparência. A própria menina conta tudo. É uma experiência saudável. "Ela nunca mente para mim. Ela mesma me mostra ao que está assistindo. E não tem interesse por nada além do que é indicado para sua idade", diz Luciana, lembrando que o celular faz parte da vida de Manuella, nesse caso de forma positiva.
VIDRADOS
Mas essa é uma realidade que Luciana não encontra no seu exercício como educadora. Ela dá aulas de inglês em uma escola pública em Belo Horizonte, e diz que o que mais observa em relação ao celular, para os alunos, são situações perigosas. Durante a aula, é difícil ter algum estudante que não esteja ao celular. Pedir atenção é uma tarefa árdua. Fazer com que os alunos se interessem pelas lições, ainda mais.
Para Luciana, a tecnologia tem coisas boas, mas muitas ruins também. E vai além do que apenas acessar conteúdos de entretenimento. "É tudo muito rápido. Tudo muito à mão, e muitas vezes os pais não percebem o risco. Eles estão expostos, não sabem, por exemplo, discernir o que é um elogio sincero, de algum colega, ou quando é uma mentira. Marcar um encontro sem saber quem é, ir a algum lugar sem que os pais estejam cientes", diz.
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Nesses casos, o acesso irrestrito ao celular gera problemas. Luciana cita, por exemplo, situações de venda de drogas pelo telefone, ameaças, e até um caso de uma menina que foi estuprada depois de um contato telefônico. É difícil saber quem realmente está por trás da tela. "São crianças e jovens que muitas vezes estão à deriva. Os pais não olham, é muito fácil fazer coisa errada."
VALORES
Algumas séries e filmes podem trazer reflexões necessárias e preceitos de vida que estão alinhados com valores da própria família, diz a especialista em desenvolvimento infantil Aline De Rosa, lembrando que são valores que cada pai e mãe devem passar para seu filho, não somente pensar que um filme ou uma série vai ensinar esses conceitos para a criança. "Não adianta meu filho assistir a determinado filme que celebra a natureza, se eu moro dentro de um apartamento, vivo dentro do shopping e consumo sem parar, não respeitando o meio ambiente."
Algumas séries e filmes podem trazer reflexões necessárias e preceitos de vida que estão alinhados com valores da própria família, diz a especialista em desenvolvimento infantil Aline De Rosa, lembrando que são valores que cada pai e mãe devem passar para seu filho, não somente pensar que um filme ou uma série vai ensinar esses conceitos para a criança. "Não adianta meu filho assistir a determinado filme que celebra a natureza, se eu moro dentro de um apartamento, vivo dentro do shopping e consumo sem parar, não respeitando o meio ambiente."
No caso de uma exposição inadequada aos conteúdos, isso pode acarretar diversos tipos de prejuízos, pontua Aline De Rosa. Por exemplo, crianças que têm acesso a conteúdos que as aterrorizavam enquanto assistiam aos desenhos. Muitas tiveram que fazer terapia, sem conseguir dormir e tendo pavores inexplicáveis, medos infundados e dificuldades em se relacionar com desconhecidos.
"Também pode expressar comportamentos agressivos, birras, distanciamento dos pais e reclusão. Pode mostrar certos comportamentos de ansiedade, como roer unha, mexer em uma ferida e com brincadeiras agressivas. É necessário um controle muito criterioso para que isso não aconteça. A internet é um mundo muito vasto e, em um toque, a criança pode ter acesso a algo muito grave, que pode marcá-la por muito tempo."
Quando se fala em adolescente, é importante que existam regras, orienta Aline De Rosa. Não é indicado que acesse o celular ou o computador no quarto, com a porta fechada, e passar a noite inteira assim sem que os pais tenham a menor ideia do que vem sendo acessado. "Eu recomendo que adolescentes não tenham telas em locais onde podem se trancar e ter acesso à internet sem nenhum tipo de supervisão. Uso de telas é na sala, em conjunto, em família, onde todos possam ver."