A Organização Mundial da Saúde declarou a varíola dos macacos como uma emergência global de saúde, diante do rápido aumento de casos da doença pelo mundo.
Essa classificação é o alerta mais alto que a OMS pode emitir e a decisão foi tomada neste sábado (23) após a segunda reunião do comitê de emergência da organização sobre o vírus.
O anúncio foi feito pelo secretário-geral da instituição, Tedros Adhanom Ghebreyesus. Na prática, o estado de emergência obriga agências sanitárias pelo mundo a aumentar medidas preventivas. Até agora foram registrados 16 mil casos de varíola dos macacos em 75 países.
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No entanto, ele disse que o surto se espalhou rapidamente pelo mundo e, por isso, decidiu que era, de fato, uma preocupação internacional. "A avaliação da OMS é que o risco de varíola é moderado globalmente e em todas as regiões, exceto na Europa, onde avaliamos o risco como alto", acrescentou.
Medidas preventivas e vacinas
Tedros disse que a declaração ajudaria a acelerar o desenvolvimento de vacinas e a implementação de medidas para limitar a propagação do vírus. Isso porque agências sanitárias pelo mundo balizam suas decisões nas avaliações da OMS.
A organização também está emitindo recomendações e disse esperar que elas estimulem os países a tomar medidas para interromper a transmissão do vírus e proteger aqueles em maior risco.
"Este é um surto que pode ser interrompido com as estratégias certas nos grupos certos", disse Tedros.
O que é a varíola dos macacos
A varíola dos macacos doi descoberta pela primeira vez na África central na década de 1950. O vírus é transmitido quando alguém tem contato próximo com uma pessoa infectada. Ele pode entrar no corpo por lesões da pele, pelo sistema respiratório ou pelos olhos, nariz e boca.
Os sintomas incluem erupções cutâneas, febre, dor de cabeça, dor nas costas ou musculares, inflamações nos nódulos linfáticos, calafrio e exaustão.
A varíola dos macacos não é uma doença que se espalhe tão facilmente, mas pode infectar da seguinte forma:
- Ao se encostar em roupas, lençóis e toalhas usadas por alguém com lesões de pele causadas pela doença;
- Ao se encostar em bolhas ou casquinhas na pele de pessoas com essas lesões;
- Pela tosse ou espirro de pessoas com a varíola dos macacos.
Até agora, o vírus não foi descrito como uma infecção sexualmente transmissível, mas pode ser passado durante a relação sexual pela proximidade entre as pessoas envolvidas.
Os casos mais recentes na Europa e no Brasil foram observados em homens gays ou bissexuais. No Reino Unido, a Agência de Segurança de Saúde (UKHSA) pediu que homens prestem atenção a coceiras ou lesões de pele que lhes pareçam incomuns.
Mateo Prochazka, epidemiologista da Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido, reforçou entretanto que "as infecções não são relacionadas a sexualidade". "Estamos preocupados com a varíola em geral, como uma ameaça pública. Estamos preocupados com a saúde de todos."
Animais, como macacos, ratos e esquilos, também podem contrair e transmitir o vírus.
Depois da infecção, leva-se geralmente de 5 a 21 dias para os primeiros sintomas surgirem. Nesse processo pode surgir a coceira, geralmente começando no rosto e depois se espalhando por outras partes do corpo, principalmente nas mãos e sola do pé.
A coceira, que costuma ser bastante irritante e dolorida, muda e passa por diferentes estágios - de modo parecido à varicela - antes de formar uma casquinha, que depois cai.
A infecção termina geralmente depois de 14 a 21 dias.
Na atual epidemia, a maioria das infecções até agora são leves. Mas a doença pode ter formas mais graves, especialmente em crianças pequenas, mulheres grávidas e pessoas com sistema imune frágil. Na África Ocidental, já houve casos de mortes pela doença.
A melhor forma de prevenir surtos é com a vacinação: a vacina da varíola é capaz de proteger contra a ampla maioria dos casos de varíola dos macacos. O desafio é encontrar doses disponíveis.
O problema das vacinas
Atualmente, existem duas vacinas eficazes contra a varíola dos macacos. Uma delas, chamado Jynneos, é recém-fabricada e só foi aprovado nos Estados Unidos e no Canadá.
A outra é a vacina ACAM 2000, usada contra a varíola tradicional.
Mas, segundo o professor Carlos Rodríguez-Díaz, as reservas de ambas são limitadas e, neste momento, organizações internacionais de saúde e governos não podem realizar vacinações em massa, o que deixa a população desprotegida.
O New York Times informou no início de julho que a empresa dinamarquesa que fabrica Jynneos enviaria 2 milhões de doses para os EUA, mas isso não acontecerá até o final de 2022. E ela só tem capacidade para fabricar menos de cinco milhões de vacinas a mais para o restante do mundo.
No Brasil, o Ministério da Saúde informou que está avaliando comprar vacinas, enquanto o Butantan estuda a possibilidade de fabricar o imunizante no país.
Esta reportagem foi inicialmente publicada em https://www.bbc.com/portuguese/geral-62279558
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