Hoje, 28 e julho, é celebrado o Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais. A data foi criada em 2010 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, a Lei nº 13.802/2019 instituiu o Julho Amarelo, a ser realizado a cada ano em todo o território nacional, quando são efetivadas ações relacionadas à luta contra as hepatites virais.
"A hepatite é a inflamação do fígado que pode ser causada por vírus ou pelo uso de alguns remédios, álcool e outras drogas, assim como por doenças autoimunes, metabólicas e genéticas. Em alguns casos, são doenças silenciosas que nem sempre apresentam sintomas", explica a médica Fernanda Canedo, hepatologista do Pilar Hospital, de Curitiba (PR), que integra a Hospital Care.
As hepatites virais são causadas por vírus que são classificados pelas letras A, B, C, D (Delta) e E. No Brasil, mais de 70% dos óbitos por hepatites virais são decorrentes da hepatite C, seguida da hepatite B (21,8%) e A (1,7%).
As hepatites virais são causadas por vírus que são classificados pelas letras A, B, C, D (Delta) e E. No Brasil, mais de 70% dos óbitos por hepatites virais são decorrentes da hepatite C, seguida da hepatite B (21,8%) e A (1,7%).
Cotidianamente fala-se mais da hepatite B e C, mas a doença também pode ocorrer devido ao intenso uso de medicamentos, e a versão autoimune, que é a desenvolvida pelo próprio corpo. “A hepatite traz alguns transtornos para a vida dos pacientes, e não é só pelo fato de não mais poder doar sangue, por exemplo, mas também porque quando não tratada pode evoluir para uma cirrose e também para o câncer de fígado, o hepatocarcinoma”, alerta Fernanda Canedo.
Inúmeras formas de contágio
A hepatologista ressalta que as formas de contágio são inúmeras, indo desde consumir alimentos mal lavados e más condições de higiene, como banhar-se em águas de mares contaminados, como também pelo compartilhamento de seringas e agulhas, relações sexuais desprotegidas e, até mesmo, a transmissão vertical, que é aquela passada da mãe para o feto.A médica afirma que não existe tratamento específico para a forma aguda da hepatite. “Quando necessário tratamos alguns dos sintomas com analgésicos, além disso, ficar em repouso é muito importante para a recuperação”, orienta a médica.
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Nos casos de hepatite viral aguda (como a A, B e C), a maioria dos pacientes apresenta poucos sintomas e a doença pode passar despercebida. Mas é importante ficar atento a alguns sinais, como a mialgia, que são dores musculares, náuseas, vômitos, dores de cabeça (cefaleia), febre, icterícia (quando a pele ganha uma cor mais amarelada) e a coluria, que é a urina mais escura. Apresentando esses sinais, é preciso rapidamente procurar um Pronto Atendimento.
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A prevenção é com a vacina, disponível no SUS
A prevenção, atualmente, se faz com a vacinação. “A vacina é uma forma de prevenção contra as hepatites do tipo A e B, entretanto, quem se vacina para o tipo B, se protege também para hepatite D, e está disponível gratuitamente no SUS. Para os demais tipos de vírus não há vacina e o tratamento é indicado pelo médico”, completa a médica Fernanda Canedo.
O médico infectologista e consultor do Grupo Sabin, Alexandre Cunha, alerta que a gravidade e o prognóstico da hepatite podem variar bastante, de acordo com o agente que desencadeia a doença e as comorbilidades que acompanham os pacientes. Outro alerta do especialista é para o fácil acesso às formas de diagnóstico e prevenção da doença. “As redes pública e particular disponibilizam testes rápidos para descobrir se o organismo está infectado pelos o vírus da hepatite e em diversos casos, se diagnosticada precocemente, as chances de cura são maiores. Além disso, é possível se prevenir contra alguns tipos da doença de forma eficaz com as vacinas que podem ser encontradas também no sistema público e privado”.
O infectologista explica que, ao contrário da hepatite viral aguda (A e E), a hepatite crônica que pode durar anos, por isso “buscar orientação e cuidados ajudam a diagnosticar, tratar e prevenir a hepatite viral crônica”. O especialista observa ainda que também é imprescindível disseminar a importância da vacinação para conferir proteção contra os vírus.
“A vacinação é a estratégia de saúde mais eficaz da atualidade e podem ajudar a reduzir novas infecções e consequentemente diminuir as mortes relacionadas à hepatite por cirrose hepática e câncer”.
As diferentes formas da doença
Em termos de apresentação clínica, as hepatites podem ser classificadas de duas maneiras:
- Hepatite aguda: são casos em que os sintomas perduram por até seis meses
- Hepatite crônica: casos em que a inflamação do fígado dura mais de seis meses
Saiba a diferença entre os tipos
Hepatite A: causada pelo vírus VHA, a doença é transmitida, na maioria dos casos, via fecal-oral, usualmente, de pessoa para pessoa ou por meio de alimentos contaminados com o vírus. Nas crianças, é habitualmente assintomática e em adultos os relatos são sintomas semelhantes ao da gripe e costumam ocorrer um mês após ocorrer a infeção. Em grande parte, a infeção evolui sem grandes complicações e sem problemas hepáticos;
Hepatite B: causada pelo vírus VHB, a infeção é viral e pode evoluir para a forma aguda ou crônica. O vírus é transmitido de pessoa para pessoa por meio de fluidos corporais, principalmente em relações sexuais sem proteção ou compartilhamento de seringas. Os sintomas em quadros de hepatite B aguda são semelhantes ao da gripe e a maioria dos pacientes não precisam de tratamento. No entanto, cerca de 5% dos casos podem evoluir para quadro crônico, que pode ocasionar cirrose ou câncer do fígado. Neste caso, não há cura, são recomendados tratamentos com antivirais para manter a carga do vírus negativa. Tem vacina de proteção;
Hepatite C: causada pelo vírus VHC, a transmissão se dá por meio do contato sangue de pessoas infetadas, principalmente em situações de compartilhamento de seringas, agulhas, escovas de dentes, máquinas de barbear e objetos cortantes, além de transfusões de sangue. A infecção pode também ocorrer por via sexual, mas o percentual de casos é menor. A maioria dos pacientes não apresenta sintomas e não desenvolve alterações hepáticas, mas os relatos apontam recorrente evolução para quadros crônicos. Muitos infectados convivem de forma assintomática geralmente nos primeiros 20 anos de contato com o vírus, e a partir daí costumam aparecer sintomas como cansaço, falta de apetite para comer, náuseas ou vómitos, dores musculares ou articulares, emagrecimento, além de principais complicações relacionados à hepatite crônica, como câncer e cirrose. O tratamento varia de acordo com o grau de lesão do fígado. A hepatite C tem cura e ainda não tem vacina;
Hepatite D: causada pelo vírus VHD ou Delta, este tipo de hepatite é menos frequente e a transmissão é por via sexual. O tratamento recomendado é feito com interferon. Por enquanto, não há vacina disponível, no entanto, pacientes vacinados para VHB, da hepatite B, não desenvolvem essa infeção;
Hepatite E: causada pelo vírus VHE, a doença é menos frequente e tem infecção sem sintomas, além de não evoluir para quadros crônicos (exceção em casos de pacientes imunodeprimidos - doentes HIV+ ou que façam medicação para a imunidade, como os doentes transplantados). Pacientes que precisam de acompanhamento e internação são tratados com antiviral. Em países endêmicos, há vacina;
Hepatite autoimune: a doença atinge o sistema imunológico, atacando as células do fígado e provocando a inflamação. Progressiva, essa hepatite vitima principalmente as mulheres e geralmente não apresenta sintomas, mas as alterações podem ser detectadas em exames de rotina. Na fase mais avançada, a hepatite autoimune pode progredir para a cirrose e, neste caso, o diagnóstico é feito em exames sanguíneos e biópsia ao fígado. O tratamento é feito com corticoides e outras substâncias;