Um estudo da Universidade de Miami, nos Estados Unidos, mostra que pessoas de 50 anos sedentárias declinam a memória em cinco anos. “Dançar, escutar músicas que envolvam vários sentidos, desenvolver atividades intelectuais desafiadoras, controlar o estresse, ter uma vida social ativa, dieta saudável e equilibrada e sono de qualidade também são práticas muito efetivas para manter a saúde cerebral em dia”, diz o neurocirurgião Felipe Mendes, membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia.
Leia Mais
Receita de longevidade, a associação entre genética e estilo de vidaSuperidosos: por que estamos vivendo mais? Tem artrose? Faça atividade físicaCientistas identificam padrões cerebrais relacionados à dor crônicaComo é a decisão de desligar aparelhos de alguém com morte cerebralMudar é possível. Depende de cada umSempre cansado! Entenda o que é a síndrome da fadiga crônicaLeia também:Superidosos: por que estamos vivendo mais?
Aos 98 anos, Victor se diverte nas redes sociais. “Adoro a internet, porque descubro coisas que eu não acreditava que fossem acontecer. Uma das coisas importantes na vida do homem e da mulher é aprender, para um dia poder passar para aqueles que não sabem nada.”
Quanto à infância, ele diz que a família era pobre, mas todos tiveram coragem para vencer na vida. “Aos 7 anos, eu já andava cinco quilômetros da nossa casa, na roça, até o Centro de Caeté. Eu costumava carregar um balaio na cabeça com verduras e frutas para ajudar minha mãe”, se recorda. “Aos 14 anos, comecei a trabalhar na Companhia Ferro Brasileiro e depois na Estrada de Ferro Central do Brasil.”
SEGREDO DA VIDA
Ele se casou duas vezes, sendo a segunda após ter ficado viúvo. Hoje, ao lado de seis dos nove filhos que teve, Victor diz que o segredo da vida é, sem dúvida, trabalhar bastante, “como eu trabalhei”. “Mas trabalhar com alegria. As dificuldades que eu tive foram aceitas de bom grado. Deus me deu força para seguir em frente.”
E, claro, passar tempo com os familiares e amigos. “Sinto-me feliz de ter uma família tão agradável como a que eu tenho. Sempre gostei muito de festa. Somente nesta casa em que eu moro, fiz festa de carnaval por 22 anos”, conta.
Diminuição
O envelhecimento do cérebro está relacionado à diminuição do tamanho do órgão, o que resulta em perda de neurônios e alteração na produção de hormônios e neurotransmissores. O neurocirurgião Felipe Mendes explica que o cérebro tem em torno de 1.300g a 1.400g e conta com 100 bilhões de neurônios e trilhões de sinapses (comunicação entre os neurônios).
Ao longo da vida, ele muda mais do que qualquer outra parte do corpo. O tecido cerebral começa a se formar na sexta semana de vida e o processo segue até quatro semanas após o nascimento. Na infância, o cérebro aumenta de volume em até quatro vezes. Aos 6 anos, atinge cerca de 90% do tamanho do órgão em um adulto.
O órgão é dividido em lobos, e os lobos frontais, responsáveis por funções executivas, planejamento, memória operacional e controle de impulsos, geralmente se maturam por último – até os 35 anos.
“Essa massa cerebral, o lobo frontal e o hipocampo, envolvidos em funções superiores e novas memórias, começam a atrofiar a partir dos 60 ou 70 anos. Da mesma forma que a densidade cortical se reduz, o córtex fica mais fino e a substância branca, que transporta sinais nervosos entre as células cerebrais, encolhe”, afirma.
À medida que a idade avança, há também uma queda de neurotransmissores, como a dopamina, acetilcolina, serotonina e noradrenalina, além da perda de muitas conexões entre os neurônios.
“Sabe-se que outra consequência do envelhecimento é o acúmulo de proteínas que acabam sendo depositadas tanto dentro quanto fora dos neurônios, desencadeando doenças neurodegenerativas relacionadas à idade”, comenta.
Tudo isso acaba contribuindo para uma diminuição da função cerebral. Por isso que, ao envelhecer, o processo de aprendizado para uma tarefa nova se torna mais custoso. Realizar multitarefas fica mais difícil e o esquecimento de compromissos se torna mais frequente, pois a memória estratégica (lembrar nomes e números) acaba declinando.
* Estagiária sob supervisão de Ellen Cristie
Lapsos de memória geram apreensão
Os sistemas corporais, incluindo o cérebro, têm perdas graduais ano após ano, e esses deslizes da mente estão associados ao envelhecimento, que pode ser um achado normal, entretanto, muitas vezes alguns idosos ficam ansiosos com os lapsos de memória.
“Quando acontecem pequenos lapsos quando somos mais novos, normalmente não nos preocupamos. Eles começam a gerar certa apreensão e nervosismo à medida que envelhecemos, e muita gente se pergunta: será que estou começando com sinais de Alzheimer?”, pontua Felipe.
Acreditava-se, há 20 anos, que o cérebro começava a envelhecer muito antes de um ser humano atingir a idade adulta. Graças ao avanço da neurociência, entretanto, foi descoberto que o cérebro é o órgão humano que menos envelhece. Só que isso não minimiza a necessidade de cuidados e hábitos capazes de cooperar na diminuição desse desgaste.
PESQUISAS
Atualmente, existem estudos em caráter experimental, tais como a presença de células-tronco no hipotálamo, que parecem ter relação com o quão rápido o cérebro envelhece. “Feitos em ratos, eles acreditam que acrescentar essas células pode reduzir ou reverter os danos causados pelo envelhecimento”, destaca o médico.
“Existem também aquelas pessoas que, com 70, 80 anos ou mais mantêm uma memória superafiada. Isso acontece porque o cérebro encolhe em um ritmo menor.” Contudo, o neurocirurgião deixa claro que ainda não se sabe exatamente o que os faz ser diferentes dos outros.
Compreendendo que alguns quadros de doenças e sintomas podem ser agravados, ou estar relacionados ao envelhecimento de um dos órgãos mais importantes do corpo humano, fica clara a importância de realizar atividades que evitem o processo de diminuição do cérebro.
“Sabe-se que alguns fatores podem, sim, acelerar o envelhecimento, como a obesidade, o consumo de refrigerantes e açúcares. Porém, da mesma forma, existem também dicas e ações importantes do dia a dia que podem influenciar de forma positiva, evitando que esse envelhecimento precoce aconteça, como a prática de atividade física regular”, destaca.
Palavra de especialista
Guilherme Graciano, nutricionista
Boa estratégia para envelhecer
"A alimentação pode ser entendida como uma das chaves para a longevidade, especialmente se envelhecemos com qualidade de vida. As escolhas alimentares que fazemos agora terão um impacto importante na forma como iremos envelhecer.
Por isso, ter uma alimentação equilibrada contribui para que o nosso envelhecer aconteça da melhor forma. Uma alimentação rica em alimentos naturais e reduzida em alimentos processados e ultraprocessados, além da prática regular de atividade física, poderia sim ser uma boa estratégia para envelhecer bem".
Por isso, ter uma alimentação equilibrada contribui para que o nosso envelhecer aconteça da melhor forma. Uma alimentação rica em alimentos naturais e reduzida em alimentos processados e ultraprocessados, além da prática regular de atividade física, poderia sim ser uma boa estratégia para envelhecer bem".
* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie.