Episódios de depressão que iniciam ainda na adolescência, histórico de transtornos de humor na família, períodos de alteração do sono, além de instabilidade de humor são apenas alguns dos 16 possíveis sinais de quem sofre de transtorno bipolar. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que 140 milhões de pessoas sofram com a doença no mundo. Já no Brasil, esse número chega a 6 milhões, segundo levantamento da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
Mas para o psiquiatra Renato Silva, especializado em bipolaridade e depressão, a maioria dos pacientes ainda não conta com um diagnóstico conclusivo, uma vez que o transtorno bipolar é comumente confundido com depressão. "É realmente uma análise desafiadora, tanto para os pacientes como para os profissionais. Mas existem características que, somadas, podem ajudar a identificar a bipolaridade com mais precisão", assegura.
De 10 a 18 anos para identificar o transtorno bipolar
Renato Silva alerta que a dificuldade em fazer um diagnóstico preciso ocorre porque as características dos transtornos bipolares são muito semelhantes à de outros transtornos. "O caminho entre a procura de um médico e o diagnóstico correto demora, em média, de nove a 10 anos para identificar um transtorno bipolar do tipo 1 e algo entre 13 e 18 anos para diagnosticar transtorno do tipo 2", enfatiza o médico.
O psiquiatra explica ainda que o transtorno bipolar é marcado pela alternância entre episódios de mania, que são períodos com aumento da atividade psíquica e física, onde a pessoa fica mais impulsiva, irritada ou até mesmo intensamente agitada e períodos de depressão.
“Na maioria das vezes, quem sofre de bipolaridade passa a maior parte do tempo também deprimido e, em alguns períodos, em fase de ativação. Isso faz com quem seja comum confundir os diagnósticos. Um estudo feito na Austrália revelou que 48% das pessoas depressivas também têm transtorno bipolar. Então, é preciso que o médico estude todo o histórico do quadro de depressão do paciente para ver se existem características de bipolaridade”, acrescenta Renato Silva.
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CID E DSM não são suficientes para fechar diagnóstico
Para identificar o transtorno bipolar, os especialistas, geralmente, utilizam manuais internacionais de classificação diagnóstica, como o CID e o DSM, que apontam uma lista de sintomas que podem ajudar na análise. Mas Silva afirma que os dois manuais não são suficientes. “O objetivo do CID e do DSM é uniformizar os diagnósticos entre os profissionais do mundo inteiro. Existem outras características que o médico precisa analisar efetivamente. A realidade e as nuances de vida de cada pessoa vão ajudar a ser mais assertivo na identificação da bipolaridade”, esclarece.
Para auxiliar os especialistas nesta busca por um diagnóstico mais preciso, Renato Silva apresenta 16 características que devem ser analisadas quando o transtorno bipolar é levado em consideração.
“Obviamente, nenhuma dessas características define bipolaridade. É preciso uma soma de fatores. Se a pessoa apresentar um ou dois desses comportamentos, não significa que ela tem bipolaridade. Agora, se ela tiver mais de cinco, as chances de se chegar a esse diagnóstico são maiores”, afirma.
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O psiquiatra ainda ressalta que o próprio paciente depressivo pode analisar essas características e procurar um profissional se identificar muitos comportamentos.
“Obviamente, nenhuma dessas características define bipolaridade. É preciso uma soma de fatores. Se a pessoa apresentar um ou dois desses comportamentos, não significa que ela tem bipolaridade. Agora, se ela tiver mais de cinco, as chances de se chegar a esse diagnóstico são maiores”, afirma.
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O psiquiatra ainda ressalta que o próprio paciente depressivo pode analisar essas características e procurar um profissional se identificar muitos comportamentos.
Características que podem indicar transtorno bipolar
- Quadros de depressão antes dos 20 anos de idade;
- Depressão psicótica antes dos 25 anos de idade, ou seja, com sintomas psicóticos (alucinações, quebra de realidade do pensamento como achar que está sendo perseguido)
- Perda de eficácia do tratamento de depressão ou necessidade de alterar medicação antidepressiva mais de três vezes
- Depressão recorrente: mais de cinco episódios de depressão
- Depressão pós-parto: 50% das mulheres bipolares vão deprimir no pós-parto
- Episódios depressivos muito curtos
- Quando a pessoa tem depressão que afeta os movimentos: retardo psicomotor (lentidão para falar, se mover etc.)
- Hipersonia: dormir por mais de 10 horas
- Sazonalidade: deprime sempre na mesma época do ano. Depressão sempre no inverno, por exemplo
- Histórico familiar de bipolaridade: tem diagnóstico de bipolaridade ou marcadores como suicídio, etilismo (principalmente em mulheres), depressão recorrente em parentes de primeiro grau
- Alta densidade genética: três ou quatro gerações com transtorno de humor
- Oscilação de humor
- Temperamento hipertímico: uma personalidade caracterizada por boa disposição
- Hipomania com antidepressivo: a pessoa apresenta energia em excesso, impaciência, agitação e impulsividade mesmo se tratando com antidepressivo
- Estado depressivo misto: humor está para baixo, mas atividade motora está agitada
- Excitação sexual durante episódio depressivo.
Combate ao preconceito
Outra ponderação que o psiquiatra faz tem relação com o estigma da bipolaridade: “O preconceito só está na cabeça das pessoas. Cada paciente tem a sua bipolaridade. Ser diferente, é ser diverso. Dar o diagnóstico é essencial para que o paciente tome as rédeas da sua vida. Temos muitas opções de tratamento para conseguir estabilizar os sintomas. E a maior parte do tratamento é a própria pessoa que faz. Sono importa muito, por exemplo. A partir desse conhecimento a pessoa busca solução”, finaliza Renato Silva, que é formado pela Universidade Federal de Uberlândia (2011), com residência em psiquiatria pela Universidade de São Paulo (USP).Sign in with Google
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