Disponíveis em qualquer farmácia brasileira - inclusive em gôndolas - os anti-inflamatórios não-esteroides (AINEs) são tão consumidos quanto os analgésicos. Geralmente comprada sem a necessidade de receita médica, essa classe de medicamentos, quando tem o uso indiscriminado, pode oferecer riscos à saúde. Uma pesquisa científica recentemente apresentada no congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia revelou que a ingestão a curto prazo de AINEs está associada a uma primeira hospitalização por insuficiência cardíaca em pacientes com diabetes tipo 2.
O trabalho foi desenvolvido por pesquisadores do Hospital Universitário de Copenhague, na Dinamarca, que examinaram prontuários para identificar pessoas diagnosticadas com diabetes tipo 2 de 1998 a 2021. Foram excluídos da análise os pacientes com insuficiência cardíaca ou com uma condição reumatológica que requeira o uso desses medicamentos em longo prazo. As informações foram coletadas em prescrições de AINEs orais (celecoxib, diclofenaco, ibuprofeno e naproxeno) solicitadas antes da primeira hospitalização por insuficiência cardíaca.
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Com uma metodologia específica, os cientistas detectaram que o uso desses medicamentos em curto prazo teve associação estatística com o risco do desenvolvimento da condição. "Em nosso estudo, aproximadamente um em cada seis pacientes com diabetes tipo 2 afirmou ter usado pelo menos um AINE dentro de um ano", disse o médico Anders Holt, primeiro autor da pesquisa. O pesquisador ainda ressaltou que, em geral, a recomendação é consultar sempre um profissional da saúde antes de começar um novo medicamento. "Com os resultados, esperamos ajudar os médicos a mitigar o risco ao prescrever essa classe medicamentosa", concluiu.
O estudo incluiu 331.189 pacientes com diabetes tipo 2. A média de idade foi de 62 anos e 44% eram mulheres. Durante o primeiro ano, 16% dos relataram o uso de uma prescrição de AINEs, enquanto 3% haviam recebido receitas três vezes no mesmo período. Ao longo de 5,85 anos, 23.308 participantes foram internados com insuficiência cardíaca pela primeira vez.
Holt observou que os dados sobre o uso dos anti-inflamatórios sem receita não foram incluídos no estudo. Mas ressaltou que "a limitação provavelmente não teve impacto nos resultados, já que um relatório anterior descobriu que os AINEs vendidos sem receita compreendem uma pequena proporção do uso total". O pesquisador concluiu que a pesquisa foi observacional e que não é possível confirmar que os medicamentos causam insuficiência cardíaca em pacientes deste grupo. Destacou, porém, que os resultados sugerem um risco potencial a ser considerado. "Os dados indicam que pode ser seguro prescrever AINEs de curto prazo para pacientes com menos de 65 anos de idade e aqueles com diabetes bem controlado", finalizou.