A escassez de orientações clínicas atualizadas e de alta qualidade sobre a monkeypox pode estar dificultando o tratamento eficaz e seguro da infecção em todo o mundo, concluiu uma revisão publicada na revista BMJ Global Health. Segundo os autores, "as diretrizes existentes carecem de detalhes suficientes, não inclui grupos diferentes e é contraditória".
Desde que o primeiro caso humano de infecção por varíola dos macacos, em 1970 na República Democrática do Congo, a doença foi relatada principalmente em países da África Central e Ocidental. O surto atual é o primeiro a afetar vários países não endêmicos, 35 mil casos registrados em vários países - inclusive no Brasil - e a ocorrência de mortes.
Os pesquisadores, liderados pela Fundação Bill & Melinda Gates, decidiram avaliar a disponibilidade, qualidade, escopo e inclusão das orientações clínicas internacionais disponíveis sobre o tratamento e cuidados de suporte de pacientes com infecção. Eles pesquisaram seis grandes bancos de dados de pesquisa por conteúdo relevante publicado até meados de outubro de 2021, além de documentos de políticas públicas, boletins informativos e relatórios divulgados até maio de 2022, em vários idiomas.
Inconsistência
O grupo encontrou 14 diretrizes relevantes. A maioria era de baixa qualidade, de acordo com o sistema de Avaliação de Diretrizes para Pesquisa e Avaliação II, pontuando uma média de 2 em 7 possíveis. E a maior parte carecia de detalhes e cobria apenas uma faixa estreita de tópicos. Havia pouca provisão para os diferentes grupos de risco: apenas cinco (36%) traziam diretrizes sobre crianças; e somente três (21%) orientavam gestantes ou pessoas vivendo com HIV.
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As orientações sobre o tratamento limitavam-se, principalmente, ao aconselhamento sobre antivirais e não eram consistentes, afirmam os autores. Nenhuma das diretrizes detalhou a dose ideal, tempo ou duração. Apenas uma forneceu recomendações sobre cuidados de suporte e tratamento de complicações.
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O fato é que sobram incertezas sobre a monkeypox. Após o aumento exponencial de casos nos últimos meses, a doença é melhor compreendida, mas muitas dúvidas permanecem, cruciais para saber até que ponto a epidemia pode ser contida. Além de o vírus ter se espalhado para outros continentes, o perfil dos infectados mudou. "Examinando o genoma, vemos que existem de fato algumas diferenças genéticas", disse um representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) à agência de notícias France Prese. "Mas não sabemos nada sobre a importância dessas alterações genéticas e há pesquisas em andamento para estabelecer as consequências dessas mutações na transmissão e gravidade da doença", acrescentou. Também há algumas dúvidas sobre a transmissão do vírus MPXV.
Originalmente, a monkeypox foi identificada como uma doença transmitida principalmente aos seres humanos por meio de animais, especialmente roedores e raramente primatas. O alto nível de transmissão de pessoa para pessoa é uma característica nova. Mas ainda resta saber se os humanos podem transmitir a doença para os animais.
A questão não é anedótica, pois os animais podem constituir um reservatório de contaminação no qual o vírus pode continuar evoluindo de maneira potencialmente perigosa, segundo especialistas. Um estudo de caso publicado na revista The Lancet descreveu recentemente uma primeira infecção de humanos para um cão. Mas, até agora, é um caso único e, segundo a OMS, o perigo seria que o vírus fosse transmitido a animais selvagens. "É através do processo de um animal infectar o próximo e o próximo e o próximo que vemos a rápida evolução do vírus", disse Michael Ryan, especialista da agência das Nações Unidas.
Outro aspecto ainda não esclarecido é até que ponto pessoas infectadas com o vírus, mas sem sintomas, podem transmitir a doença. Um estudo realizado na França e publicado na revista Annals of Internal Medicine, registrou a presença do vírus em alguns pacientes assintomáticos, mas sem determinar se eram contagiosos.