Jornal Estado de Minas

ALIMENTAÇÃO

Pseudoalimentos:'Se não sabe dizer o nome do ingrediente, não deve ser bom'

“Descasque mais e desembale com inteligência e cautela”. A prática sugerida é mandatória, especialmente após a divulgação de dados alarmantes da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS 2019), do Ministério da Saúde (MS), que constatou aumento de 14,3% no consumo de alimentos ultraprocessados. Ainda, um novo estudo do Datafolha, encomendado pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) em 2020, revela que o consumo desses alimentos saltou de 9% para 16% em adultos acima dos 45 anos. O aumento do consumo de ultraprocessados entre os mais jovens subiu de 30% para 35%. Os preferidos: salgadinhos, biscoitos recheados e bebidas açucaradas, como lácteas e achocolatados. 


Os alimentos ultraprocessados costumam ser palatáveis e apresentam preços mais competitivos. Inclusive, percebe-se um consumo de geração para geração, na qual a criança cresce exposta a esses produtos, aumentando a chance de consumi-lo ao longo da vida. Mas a que custo?

“Os alimentos ultraprocessados são aqueles produtos com adição de aditivos, ou seja, substâncias utilizadas com o objetivo de modificar características físicas, químicas, biológicas e/ou sensoriais durante fabricação, processamento, preparação, tratamento, embalagem, acondicionamento, armazenagem, transporte e/ou manipulação. Esses adicionais podem ser obtidos de fontes naturais ou sintetizados em laboratórios”, explica a nutricionista e consultora da Jasmine Alimentos, Adriana Zanardo. 





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Além de prontos para o consumo imediato, os ultraprocessados frequentemente apresentam relevantes quantidades de farináceos, açúcares refinados, gordura vegetal hidrogenada, sódio, corantes, aromatizantes e emulsificantes artificiais. Esses aditivos são utilizados para aumentar a palatabilidade (sabor, textura, cheiro), estimular o consumo e prolongar o tempo de validade (também conhecido como shelf life, ou tempo de prateleira do produto).

Aditivos dos ultraprocessados estão relacionados ao aumento do peso corporal

Os ultraprocessados preferidos: salgadinhos, biscoitos recheados e bebidas açucaradas, como lácteas e achocolatados. (foto: Victoria_Borodinova/Pixabay)
Todos os aditivos que compõem o produto ultraprocessado estão diretamente relacionados ao aumento do peso corporal, maior propensão e/ou agravamento de câncer, disfunções em glicemia, insulina e pressão. Isso se deve ao fato da maioria deles (farináceos, açúcares refinados e gordura vegetal hidrogenada) apresentarem as chamadas “calorias vazias”, que não agregam nutrientes e ainda incorrem em alterações metabólicas de carboidratos e gorduras.

O consumo frequente desses alimentos também tem a capacidade de alterar a microbiota intestinal e aumentar o risco de disbiose (desequilíbrio de bactérias) e todas as condições clínicas e/ou doenças ligadas ao intestino.





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Ainda, um estudo recente conduzido pela Universidade de São Paulo (USP), revelou que pessoas que consumiram mais de 20% das calorias diárias em ultraprocessados tiveram um impacto negativo de aproximadamente 30% em sua cognição, ou seja, no que se refere ao conhecimento (pensamento, memória, percepção, linguagem e atenção). 

Há quantidades seguras para os salgadinhos, docinhos e refris?

Segundo as recomendações do Ministério da Saúde, a quantidade máxima de açúcares simples não pode ultrapassar 10% das calorias sugeridas para ingestão diária.

A gordura saturada, ou seja, aquela encontrada principalmente em alimentos de origem animal, não deve corresponder a mais do que 10% da quantidade de gorduras totais consumidas.

Em relação ao sódio, orienta-se o consumo de até 2g/dia. “Cabe destacar que a quantidade de sódio indicada diz respeito tanto ao sal de adição como de produtos industrializados”, completa Adriana Zanardo. 




 
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Para as demais substâncias, não existem doses seguras regulamentadas específicas. Desta forma, recomenda-se que a maior parte da dieta seja composta por alimentos in natura e/ou minimamente processados.

“A redução do consumo de ultraprocessados deve respeitar a premissa do “descasque mais e desembale com consciência”. Além disso, é preciso buscar informação de fontes confiáveis para que nós, consumidores, estejamos munidos de conhecimento para fazer boas escolhas frente à crescente propagação dos ultraprocessados”, explica a nutricionista.

Atenção: processamento não é necessariamente negativo

A principal dica é: leia sempre o rótulo dos produtos (foto: Joshua Rawson-Harris/Unsplash )

Considerando a sociedade moderna, o avanço da tecnologia e o controle de patologias relacionadas a alimentos contaminados, o processamento é um aliado ao estilo de vida saudável devido à segurança alimentar e à rotina atribulada das pessoas. Devido à praticidade e variabilidade do consumo, os alimentos processados cuidadosamente são muito bem-vindos. 





“A primeira dica é: leia o rótulo! Gosto de fazer a analogia de que, se você não consegue falar o nome da substância, ela provavelmente não é boa. Você sabia que o corante natural de urucum e o amarelo tartrazina têm a mesma finalidade, mas o primeiro é natural, ao passo que o segundo é artificial?”, comenta Adriana Zanardo. 

Todo produto ou alimento tem alguma restrição

Existem produtos embalados sem adição de quaisquer substâncias artificiais. “Os alimentos processados são aqueles que foram submetidos a processos físicos como assamento, resfriamento e foram fabricados em equipamentos industriais específicos. A inclusão de ingredientes ou aditivos naturais, a fim de preservar e dar mais cor e sabor aos alimentos, é segura”, explica a gerente de P&D da Jasmine Alimentos, Melissa Carpi.

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“Na Jasmine, utilizamos apenas óleos vegetais sem gordura trans, melado de cana e extrato de malte, edulcorante stevia natural, corante natural de urucum e ingredientes naturais como beterraba em pó, espinafre em pó, alfarroba em pó. São ingredientes que auxiliam no sabor, na cor e na conservação do produto, mantendo suas propriedades nutritivas”, complementa Melissa Capri.

A nutricionista Adriana Zanardo destaca, todavia, que “nenhum alimento e/ou produto tem indicação de consumo livre, pois cada consumidor possui necessidades, condições clínicas, histórico pessoal e familiar específicos".