Exagero. Alarmismo. Ativismo desmedido. Para muitos, quando se trata de cuidar do planeta, de alertas ambientais e ecológicos sobre o descontrole da poluição no mundo, que começa dentro da casa de cada um, parece tudo muito distante, papo de intelectual, ‘não é meu problema’, ‘tem coisas mais urgentes para me preocupar’, enfim, a pessoa não se importa sequer de jogar o lixo no lixo, trocar a sacola de plástico pela retornável, evitar o desperdício ou consumir menos.
Apenas se esquecem de que a degradação diária da Terra – o que pode torná-la inabitável – está diretamente ligada e com consequências reais para a sobrevivência de todos. Mas, ainda assim, esse argumento parece fora de proporção para outros tantos. Talvez o fato de você ser alertado que todo tipo de poluição afeta sua saúde diariamente, causando várias doenças, possa fazê-lo refletir e agir. E, assim, você possa começar a cuidar, ao menos, do seu ‘quintal’.
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Poluição do ar, da água, sonora, visual, dos alimentos. Todas têm consequências para o organismo, para o corpo. E o risco aumenta dia após dia. O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, já alertou que a crise planetária é tripla: “O distúrbio climático e a perda de biodiversidade, aliados à poluição e ao desperdício, ameaçam o bem-estar e a sobrevivência de milhões de pessoas em todo o mundo”.
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A otorrinolaringologista Lucele Karine Oliveira Cunha, do Hospital Vila da Serra, destaca as consequências da poluição sonora. “É todo som que ultrapassa a intensidade e pode causar danos à saúde. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é considerado ruído um som que ultrapassa 65 decibéis (dB). Porém, sabemos que quanto mais intenso é o som, menor o tempo de exposição que o organismo consegue tolerar sem sofrer consequências”, explica.
“Acima de 120dB, o som pode causar dor física. É o caso de sons ambientais, como trânsito, bares e restaurantes, maquinários industriais, latidos de animais, entre outros.”
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“As crianças e os idosos sentem mais os efeitos da poluição sonora. Por estarem em acelerado desenvolvimento neuropsicomotor, qualquer lesão auditiva interfere no desenvolvimento cerebral das crianças e poderá comprometer de uma maneira global várias habilidades. Já os idosos não têm reserva metabólica, já têm naturalmente uma perda de células ciliadas e neurônios auditivos que, se somada às lesões por ruído, podem atingir proporções ainda maiores.”
Muitas vezes, o inimigo mora dentro de casa. “Fones de ouvido não devem ser utilizados por mais de quatro horas por dia e nunca numa intensidade maior que 60% do máximo. Alguns smartphones têm aplicativos que sinalizam quando a intensidade ultrapassou a indicada. Fones de ouvido tipo concha, por isolar o som externo, acabam sendo utilizados em volume inferior e por isso são preferíveis quando comparados com os fones de inserção”, explica.
“Se a pessoa ao lado consegue escutar o som que vem de seu fone, certamente o volume está acima de 85dB. Sons superiores a 100dB são capazes de causar lesão coclear em apenas três minutos. Por isso, é preciso restringir o volume, o tempo de uso e escolher equipamentos de boa qualidade e que isolem o ruído externo.”
CIGARRO E FUMO PASSIVO Já Luiz Fernando Ferreira Pereira, pneumologista do Grupo Oncoclínicas Belo Horizonte, chama a atenção para outra seara que advém da poluição: o tabagismo, as guimbas de cigarro e a fumaça das “baforadas” dos fumantes.
Dados do Inca, do Ministério da Saúde e da OMS sobre os malefícios do tabagismo e da exposição ao fumo passivo mostram como o cigarro também afeta o meio ambiente, pois é um dos maiores poluidores de ambientes fechados e do meio ambiente. “O tabaco contém milhares de substâncias tóxicas distribuídas em fases gasosa e particulada. A indústria do tabaco prejudica a saúde humana desde o seu cultivo, produção e distribuição e, principalmente, após o seu consumo, devido também aos resíduos do pós-consumo”, comenta.
O pneumologista acrescenta que o tabaco prejudica e/ou contamina o ambiente em razão do empobrecimento do solo das áreas de cultivo; do aumento do desmatamento (600 milhões de árvores são cortadas para o preparo da folha do tabaco); da contaminação do solo, dos lençóis freáticos e do ar com substâncias provenientes das bitucas (são mais de 4,5 trilhões de bitucas ao ano); da grande emissão de CO2, aumentando a pegada de carbono (indicadores de carbono emitidos pelos indivíduos e pelas atividades humanas), com o consequente aumento da temperatura global (84 milhões de toneladas/ano); da fumaça, especialmente o material particulado liberado no ar (em maior quantidade que a dos motores a diesel); dos microplásticos, incluindo ainda outros materiais provenientes dos cigarros eletrônicos.
Luiz Fernando Ferreira Pereira alerta que, globalmente, o tabaco é responsável pela morte de mais de 8 milhões de pessoas por ano e cerca de 1,2 milhão desses óbitos resultam de não fumantes expostos ao fumo passivo, conforme aponta a OMS. “São quase 50 doenças associadas ao tabagismo, incluindo diversos tipos de câncer, como o de pulmão, e a doença pulmonar obstrutiva crônica.”